Hoje dia 14 de março é o Dia Nacional da Poesia, data criada em homenagem ao grande poeta brasileiro Castro Alves, nascido em 14/03/1847.
Poesia, ela que de um modo ou de outro, implícita ou explicitamente está sempre presente em nossas vidas e que também se manifesta de maneira constante junto ao nosso querido samba.
A música e a poesia são parceiras que andam de mãos dadas e dificilmente se poderia discordar que o samba, em sua essência, é uma das companhias mais apreciadas pela poesia, tantas são as aparições dessa sublime forma de expressão em diversas composições desse estilo musical tão nosso. Acredito que ninguém deveria deixar de citar como poesia, por exemplo, a letra de uma canção como “As Rosas Não Falam” do fantástico Cartola, “A Flor e o Espinho” do emblemático Nelson Cavaquinho, “Feitiço da Vila” de Noel Rosa, que com certeza ganhou o título, por assim dizer, de Poeta da Vila, muito em razão da maneira poética com a qual descreveu os encantos do bairro de Vila Isabel. “Aquarela Brasileira” de Silas de Oliveira que relata tão lindamente uma visionária viagem por este abençoado país tropical seria outra demonstração, isso só pra pincelar alguns nomes centenários, ou quase, sem citar aqui nomes mais recentes como, por exemplo, Paulinho da Viola e outros tantos autores de várias obras do nosso imenso acervo, passando, ainda que rapidamente pela prazerosa colaboração do “Poetinha” Vinicius de Moraes no mundo do samba, deixando de falar das inúmeras letras de sambas de enredo de décadas atrás, que mereceriam uma análise, pesquisa e explanação mais abrangente, tamanha a qualidade que possuem, porém, em celebração a essa data, gostaríamos de destacar hoje um nome em especial: Paulo César Pinheiro.
Poeta, letrista e compositor carioca, nascido no ano de 1.949 no Rio de Janeiro, mas que deu início a sua extensa e imensamente frutífera inspiração na leveza da brisa marítima de Angra dos Reis. Autor de profunda e iluminada criatividade, gerou diversas obras de imensa beleza, como “Canto das Três Raças”, sublimemente interpretada por Clara Nunes, com quem foi casado, “Espelho”, “Lapinha”, “Portela na Avenida”, “Poder da Criação”, que o compositor Zé Katimba menciona como um hino a ser exaltado por todos os compositores, e muitos, muitos outros trabalhos maravilhasamente escritos por ele.
P.C. Pinheiro tem uma enorme lista de parcerias, das quais destacaríamos as feitas com baluartes como Pixinguinha, Baden Powell, João de Aquino, Mauro Duarte, João Nogueira, só para relembrar alguns. É considerado um dos maiores poetas da canção popular do Brasil e segundo dados coletados no site do Dicionário Cravo Albin da Música Popular Brasileira, reuniu, ao longo de sua carreira, uma volumosa obra gravada por inúmeros cantores, sendo que em 2011, cerca de 1.100 de suas músicas foram gravadas, além de existirem outras inéditas, que totalizariam mais de 2.000 músicas compostas.
Vale a pena com certeza, vasculhar o delicioso caminho a que nos remete a leitura de suas obras, sendo que um lindo exemplo de sua poesia se encontra declamado no disco Parceria, com João Nogueira, em 1.994, que transcrevemos abaixo, assim como o samba “Recado ao Poeta”.
A música me ama, ela me deixa fazê-la.
A música é uma estrela, deitada na minha cama.
Ela me chega sem jeito, quase sem eu perceber.
Quando me dou conta e vou ver, ela já entrou no meu peito.
No que ela entra a alma sai, fica meu corpo sem vida.
Volta depois comovida, e eu nunca soube onde vai.
Meu olho dana a brilhar. Meu dedo corre o papel,
E a voz repete o cordel que se derrama do olhar.
Fico algum tempo perdido até me recuperar,
Quase sem acreditar se tudo teve sentido.
A música parte e eu desperto pro mundo cruel que aí está.
Com medo de ela não mais voltar, mas ela está sempre por perto.
Nada que existe é mais forte e eu quero aprender-lhe a medida,
De como compõe minha vida, que é para eu compor minha morte.
(Poesia de Paulo César Pinheiro, declamada no disco Parceria, com João Nogueira - 1994)
Recado ao Poeta
(Paulo Cesar Pinheiro/Eduardo Gudin)
Vai, por que a tua missão é de paz
Ser poeta é difícil demais
Pra que querer quer um coração normal
Um dia vá te compreender
Olha só como a lua parece chamar
E essa rua, esse amigo, esse bar
E eu peço à Deus que nada mude mais
Não faz dos teus os teus rivais
E se couber explicação real
É que o poeta é o coração geral
Por isso fique aqui
Onde teu samba está
Que toda a cidade quer cantar
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