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6 de julho de 2012

Caninha.

Pela passagem de seu aniversário, gostaríamos de homenagear hoje um dos primeiros compositores de samba a conseguir sucesso com seu trabalho, seu nome: José Luiz de Morais, mais conhecido como Caninha, nascido no dia 6 de julho de 1.883 na cidade do Rio de Janeiro e considerado um dos pioneiros do início do samba, tendo sido amigo de Donga, Pixinguinha, João da Bahiana e Heitor dos Prazeres, entre outros. Nasceu no bairro carioca de Jacarepaguá. Era filho de um carpinteiro e um de seus avós era violonista. Ainda criança mudou-se para a Cidade Nova. Ficou órfão com cerca de oito anos. Foi então morar com uma prima de seu pai e fugiu de casa aos 12 anos. Trabalhou numa padaria no Méier e posteriormente passou a vender roletes de cana o que lhe valeu o apelido de "Caninha Doce" e depois simplesmente "Caninha". Trabalhou ainda como pedreiro, ajudante de mecânico na Marinha Mercante e foi dono de pontos de venda de jornais na Central do Brasil. Ingressou posteriormente como na Alfândega do Rio de Janeiro como operário de carpintaria. Trabalhou também no guichê de venda de selos de imposto. Ainda jovem começou a freqüentar as casas das tias baianas da Cidade Nova, entre as quais a casa da famosa Tia Ciata. Estudou cavaquinho com Adolfo Freire. Casou-se em 1942, mas não teve filhos. Em 1945, aposentou-se após trabalhar 20 anos na Alfândega e mais 21 na Recebedoria do Distrito Federal. Faleceu em casa, no dia 16 de junho de 1.961, ás vésperas de completar 78 anos de idade em sua casa no bairro carioca de Olaria. Um ano antes, havia sido dado como morto pela prefeitura do Distrito Federal que colocara seu nome junto ao de compositores desaparecidos como Sinhô e Noel Rosa a título de homenagem. Na década de 1920 foi o principal rival do compositor Sinhô na disputa pelo título de "Rei do Samba". Foi um dos fundadores do Rancho "Dois de Ouro", do bairro carioca da Saúde. Fez parte também dos ranchos "Balão de Rosa" e "Rosa Branca". Ajudou a fundar os ranchos "União dos Amores" e "Reinado das Fadas". Foi diretor de canto do rancho "Recreio das Flores". Em 1918, participou com sucesso da Festa da Penha com o maxixe "Gripe Espanhola". Atuou nas festas da Penha com os grupos Grupo Sou Brasileiro e Grupo da Cidade Nova, do qual fazia parte Pixinguinha.
Em 1919, seus sambas-carnavalescos "Ninguém Escapa do Feitiço", seu primeiro grande sucesso, e "Até Parece Coisa Feita", foram gravados respectivamente pelo Grupo dos Oito Emissários e pelo Grupo do Além. No mesmo ano, o samba-carnavalesco "Quem Vem Atrás Feche a Porta" recebeu três gravações diferentes: em dueto, por Bahiano e Izaltina; pelo Grupo do Além e pela Banda da Casa Edson. Em 1920, os sambas-carnavalescos "Que Vizinha Danada" e "Essa Nega Qué Me Dá" foram gravados pelo Grupo do Moringa e também pelo cantor Bahiano. Em 1921, a Banda do Corpo de Bombeiros regravou o samba "Essa Nega Qué Me Dá", que fez bastante sucesso. Nesse ano, seu samba "Domingo Eu Vou Lá" foi gravado pelo Grupo do Pixinguinha, e logo depois regravado pelo cantor Bahiano, que gravou também o samba "Onde Está o Dinheiro?". Em 1922, venceu o concurso carnavalesco da Festa da Penha com a marcha rag-time "Me Sinto Mal", que fez estrondoso sucesso popular sendo gravado pelo cantor Bahiano que no ano seguinte gravou a marcha "Meu Amor Qué Me Batê". Em 1924, teve gravados pela Orquestra Brasil-América o maxixe "Sai Azar" e a marcha "Isto Não é Vida". Nesse ano, seu maxixe "Na Bahia" foi lançado pelo cantor Fernando, que no ano seguinte, gravou o maxixe-carnavalesco "Amor", e o samba "Está Na Hora", que fez bastante sucesso. Ainda em 1925, o samba "Está Na Hora" foi regravado pela Jazz Band Sul Americana. Em 1926, Fernando gravou o samba "Vou Morar no Estácio" e o maxixe "Se A Moda Pega!...". Nesse ano, fez sucesso com o samba-carnavalesco "Rosinha", gravado por Artur Castro. No mesmo ano, Frederico Rocha gravou a marcha-carnavalesca "Já Quebrou". Em 1927, obteve o primeiro lugar no concurso "O Que É Nosso" promovido pelo Jornal "O Correio da Manhã" com o samba "O Que é Nosso", também conhecido como "Eu Sou Brasileiro", gravado com sucesso por Francisco Alves. No mesmo concurso foi premiado também com o samba "Rosinha", vencedor do quesito de músicas já divulgadas ou publicadas. Por ocasião das apresentações do concurso, assim referiu-se a ele o jornal "Correio da Manhã": "Caninha (José Luiz de Moraes) - Eis um nome popularíssimo entre os mais queridos compositores que divertem a população carioca com seus sambas de arrelia, lindas canções e marchas, apresentando-se com seu conjunto".
Em 1928, teve os sambas "Nega No fogão" e "Deixa Ela", e o maxixe "Não Quero Saber Mais Deles", gravados por Francisco Alves. Nesse ano, o choro "Que Ursada", foi gravado ao bandolim por João Martins, e o samba "Vou Me Vingar" foi lançado por Mário Reis e o samba "Curuqueré", foi lançado por Artur Castro. Em 1929, Francisco Alves gravou o samba "Quando a Mulher Não Quer". Em 1930, seu samba "Não Fui Eu!" foi gravado por Jonjoca e a canção "Sinhá" foi registrada por Floriano Belham. No mesmo ano, o grupo Choro Odeon gravou o choro "Antigamente". Em 1931, teve os sambas "Quando Der Uma Hora!" e "Não Há Nada" gravados pelo Trio TBT. Nessa época começou a se afastar da carreira artística, em parte, segundo o pesquisador Ary Vasconcelos, devido à morte do rival e amigo Sinhô, com quem tivera grandes disputas carnavalescas, tendo ficado desestimulado com o desaparecimento do concorrente. Em 1933, no entanto, teve um retorno que pode ser chamado de triunfal. Teria ouvido na Casa Mangione, na Rua Gonçalves Dias, no centro do Rio de Janeiro, local de reunião de compositores, alguém referir-se a ele da seguinte maneira: "Aquilo é bananeira que já deu cacho". Compôs então com o jornalista Visconde de Bicoíba o samba "É Batucada". Inscreveu de pronto o samba no primeiro concurso de sambas e marchas carnavalescas instituído naquele ano pela prefeitura do então Distrito Federal. No dia do concurso, seu samba foi recebido com entusiasmo pelo prefeito Pedro Ernesto e, aclamado pela multidão, acabou vencendo o concurso. Foi carregado triunfalmente pela multidão até Copacabana e recebeu do prefeito Pedro Ernesto o "Diploma de Sambista", que terminou sendo o único outorgado. No mesmo ano, o samba "É Batucada" foi gravado com sucesso por Moreira da Silva com acompanhamento do grupo Gente do Morro, de Benedito Lacerda.
Em 1954, participou juntamente com Pixinguinha, Donga, João da Bahiana, Alfredinho Flautim e outros, do Festival da Velha Guarda organizado por Almirante. Em 1955, no LP "A Velha Guarda", lançado com músicas extraídas do show organizado por Almirante, foram gravadas suas composições "Essa Nega Qué Me Dá" e "Me Leva, Me Leva Seu Rafael". Essas músicas também seriam incluídas na série de shows sobre os 100 anos da MPB, criado pelo produtor Ricardo Cravo Albin em 1975, sendo então interpretadas por Altamiro Carrilho e Paulo Tapajós no espetáculo intitulado "Do Chorinho Ao Samba". Participaram ambos do LP nº 1 da série de oito sob o nome geral de "MPB Ao Vivo", gravadas nos estúdios da Rádio MEC, pelo mesmo produtor um ano antes. Em 1958, o samba "É Batucada" foi regravado por Aracy de Almeida no LP "O Samba Em Pessoa". Em 1966, seu samba "Essa Nega Quer Me Dar" foi relançado por Aracy de Almeida no LP "Sergio Porto, Aracy de Almeida e Billy Blanco no Zum-Zum" gravado ao vivo na boate Zum Zum em 1966. Um dos maiores nomes do período anterior à Era do Rádio, teve mais de trinta músicas gravadas e deixou inéditas, entre outras, os sambas "Estrela Matutina"; "Rainha do Brasil"; "Quando Deus Me Ajudar"; "Não Fui Eu"; "Carnaval" e "Eu Vou Chorar"; a marcha-junina "Meu Carneiro"; a marcha "Na Hora" e o maxixe "Me Diga o Que Há". Teve músicas gravadas por Francisco Alves, Mário Reis; Moreira da Silva; Bahiano e Artur Castro, entre outros. Seus maiores sucessos foram os sambas "O Que é Nosso", "Rosinha" e "Está Na Hora".



É Batucada
(Caninha / Visconde de Bicoíba)


Samba de morro, não é samba
É batucada, é batucada

Para quem sabe a história é diferente
Só tira samba malandro que tem patente

Nossas morenas vão pro samba bonitinhas
Vão de sandália e saiote de preguinha

4 de julho de 2012

Anescarzinho do Salgueiro.

O dia de hoje marca a data de aniversário do ótimoxcelente compositor Anescarzinho do Salgueiro.
Anescar Pereira Filho, nasceu no dia 4 de julho de 1929 na cidade do Rio de Janeiro. Compositor, cantor e instrumentista nascido no bairro de Laranjeiras, Rio de Janeiro, mudou-se, ainda pequeno, para um barraco feito pelo pai na Floresta da Tijuca, na parte onde seria mais tarde o Morro do Salgueiro.
Sobre o morro, disse Anescarzinho certa vez: "Isso aqui se chamava Morro dos Trapicheiros, pois existia um trapiche (armazém) embaixo. O proprietário da maior parte dessa área era José Salgueiro, freguês da barraca de sorvete e peixe do meu pai. Foi ele que sugeriu o nome do atual morro". Seu pai foi um dos pioneiros do samba no Morro do Salgueiro, fazendo da sua casa ponto de encontro de sambistas. Cursou apenas o primário e foi funcionário de uma fábrica de tecidos.
Em 1949, compôs o seu primeiro samba-enredo, "Maravilhas do Brasil", para a Escola Unidos do Salgueiro, após um pedido do então Diretor da Escola, Manuel Macaco. Nesse ano a escola obteve o quinto lugar. No ano seguinte compôs com o então Diretor de Harmonia da escola, Noel Rosa de Oliveira, o samba-enredo "Mártires da Independência", que conquistou o sexto lugar no desfile daquele ano.
Em 1953, com a fusão das escolas Depois Eu Digo, Azul e Branco e Unidos do Salgueiro, integrou a Ala dos Compositores do Grêmio Recreativo e Escola de Samba Acadêmicos do Salgueiro. Compôs com Noel Rosa de Oliveira e Walter Moreira, em 1960, o samba-enredo "Quilombo dos Palmares", com o qual a escola obteve o primeiro lugar do Grupo 1 no desfile daquele ano. Por essa época, já se tornara famoso devido ao samba de quadra "Água de Rio" (Só Resta Saudade), composto em parceria com Noel Rosa de Oliveira, com quem também dividiria, em 1962, a autoria da música "Descobrimento do Brasil". No ano seguinte, com Fernando Pamplona como carnavalesco, foi um dos responsáveis pela inovação que o Salgueiro promoveu em relação à escolha dos enredos, que se limitavam a mostrar episódios oficiais da História do Brasil. O Salgueiro apresentou naquele ano o enredo "Chica da Silva", com samba-enredo de Anescarzinho e Noel Rosa de Oliveira, abordando heróis do povo, assim como aconteceria mais tarde com Chico-Rei e Zumbi.
Ao lado de Elton Medeiros, Jair do Cavaquinho, Paulinho da Viola, Araci Cortes e Nelson Sargento participou, em 1965, do musical "Rosa de Ouro", montado e dirigido pelos produtores Hermínio Bello de Carvalho e Kleber Santos, que lançou a cantora Clementina de Jesus. Do show, foram editados dois LPs: "Rosa de Ouro" e "Rosa de Ouro Volume II", em 1965 e 1967, respectivamente. Neste mesmo ano de 1965, Zé Kéti, organizou com alguns integrantes do musical "Rosa de Ouro" o conjunto A Voz do Morro, integrado por Anescarzinho, Jair do Cavaquinho, Oscar Bigode, Paulinho da Viola, Zé Cruz e Zé Kéti. Ainda neste ano, o grupo gravou o primeiro LP, "Roda de Samba". Ainda em 1965, Elizete Cardoso no LP "Elizete Sobe O Morro", interpretou de sua autoria "Água de Rio", parceria com Noel Rosa de Oliveira. No ano seguinte, em 1966, foi lançado o LP "Roda de Samba Volume II", que contou com a participação de um novo integrante, Nelson Sargento.
Em 1967 o conjunto A Voz do Morro lançou o terceiro e último disco, "Os Sambistas". Neste mesmo ano passou a integrar o grupo Os Cinco Crioulos, com Paulinho da Viola, Elton Medeiros, Jair do Cavaquinho e Nelson Sargento, que gravou o seu primeiro LP, "Samba... No Duro" e, no ano posterior, em 1968, ainda com a formação original, lançou o segundo LP, "O Samba... No Duro - Volume II".
Participou da "1ª Bienal do Samba", da TV Record, sendo sua composição "Dona Beja" (c/ Ivan Salvador e Noel Rosa de Oliveira), defendida por Jorge Goulart. Neste mesmo ano, integrando o conjunto Rosa de Ouro, participou do show "Mudando de Conversa" (c/ Clementina de Jesus, Cyro Monteiro e Nora Ney), para o qual foi produzido o disco homônimo.
Em 1969, com a substituição de Paulinho da Viola por Mauro Duarte, o grupo Os Cinco Crioulos lançou pela mesma gravadora seu terceiro e último LP, "Samba... No Duro - Volume III".
Em 1971 o grupo Os Cinco Só gravou de sua autoria "O Rei Mandou" e "Ê Bahia", ambas em parceria com Ivan Salvador. Ainda na década de 1970, a dupla João Bosco e Aldir Blanc compôs o samba "Siri Recheado É O Cacete" em sua homenagem.
Em 1977 foi lançado o disco "Elizete Cardoso, Jacob do Bandolim, Zimbo Trio e Época de Ouro - Fragmentos Inéditos do Histórico Recital Realizado No Teatro João Caetano em 19 de Fevereiro de 1968". Neste LP foi incluída sua composição "Água de Rio" (c/ Noel Rosa de Oliveira).
Em 1992, o escritor e compositor Nei Lopes enfatizou a sua importância no cenário musical brasileiro em seu livro "O Negro no Rio de Janeiro e sua Tradição Musical".
Anescarzinho faleceu no dia 22 de fevereiro de 2000 no Rio de Janeiro, vítima de um enfarto, pouco antes do carnaval, sendo sepultado no Cemitério do Caju.
Seu último parceiro foi o poeta Célio Khouri, com quem compôs 11 sambas (alguns ainda inéditos), entre eles "Amor Flutuante", gravado na coletânea "Conexão Carioca Volume 2", produzida por Euclides Amaral e lançada no ano 2000. No disco, que contou com a apresentação de Ricardo Cravo Albin, Célio Khouri interpretou sozinho o samba, pois Anescarzinho do Salgueiro falecera poucos meses antes da gravação, da qual queria participar ao lado do parceiro. Neste mesmo ano de 2000 foi lançado o CD "A Música Brasileira Deste Século Por Seus Autores e Intérpretes - Paulinho da Viola e os Quatro Crioulos", CD no qual foram reunidos os integrantes do grupo Os Cinco Crioulos em show gravado em julho de 1990 no programa "Ensaio", quando na época, o programa teve como convidado Paulinho da Viola, que para sua surpresa, foram também convidados os outros integrantes (Anescarzinho do Salgueiro, Jair do Cavaquinho, Elton Medeiros e Nelson Sargento), em uma homenagem aos 25 anos do antológico show "Rosa de Ouro". O disco foi gravado ao vivo, com conversas e ainda execução de composições da época, entre elas "Quatro Crioulos" (Joacyr Santana e Elton Medeiros), "Água de Rio" (Anescarzinho e Noel Rosa de Oliveira), "O Sol Nascerá" (Cartola e Elton Medeiros), "No Meu Barraco de Zinco" (Jair do Cavaquinho e Jamelão), "Agoniza Mas Não Morre" (Nelson Sargento), "Cântico À Natureza" (Alfredo Português, Jamelão e Nelson Sargento), "Pecadora" (Jair do Cavaquinho e Joãozinho da Pecadora) e "Rosa de Ouro", de Paulinho da Viola, Elton Medeiros e Hermínio Bello de Carvalho.
No ano de 2002, Eliane Faria (sua sobrinha - filha de Paulinho da Viola) interpretou "Amor Poente" (c/ Célio Khouri) no disco "Conexão Carioca 3", produzido por Euclides Amaral e apresentado pelo poeta e letrista Sergio Natureza. Neste mesmo ano, foi lançado o livro "Velhas Histórias, Memórias Futuras" (Editora Uerj) de Eduardo Granja Coutinho, no qual o autor faz várias referências ao cantor e compositor.
Em 2003, o disco "Conexão Carioca 3 Bônus" foi relançado, sendo incluídas quatro faixas-bônus, entre as quais duas nova gravação de "Amor Flutuante", interpretada por seu parceiro Célio Khouri e ainda, "Amor Poente", interpretada por Eliane Faria.



Água do Rio
(Anescarzinho do Salgueiro / Noel Rosa de Oliveira)

Tudo ficou diferente depois que você me deixou
Dos nossos beijos ardentes, hoje resta o amargo sabor
Até a água do rio que a sua pele banhou
Também secou com a saudade que a sua ausência deixou
A Lua não dá mais brilho, o Sol não tem mais calor
No pomar não dá mais frutos, no jardim não tem mais flores
Naquela noite tão linda que nos inspirava o amor
Hoje só resta saudade muito sofrimento e dor

Xica da Silva
(Anescarzinho do Salgueiro / Noel Rosa de Oliveira)

Apesar de não possuir grande beleza
Xica da Silva surgiu no seio da mais alta nobreza.
O contratador, João Fernandes de Oliveira,
A comprou para ser a sua companheira.
E a mulata que era escrava sentiu forte transformação,
Trocando o gemido da senzala pela fidalguia do salão.
Com a influência e o poder do seu amor,
Que superou a barreira da cor,
Francisca da Silva, do cativeiro zombou ôôôôô (ôôô, ôô, ôô)
No Arraial do Tijuco, lá no Estado de Minas,
Hoje lendária cidade, seu lindo nome é Diamantina,
Onde nasceu a Xica que manda, deslumbrando a sociedade,
Com o orgulho e o capricho da mulata,
Importante, majestosa e invejada.
Para que a vida lhe tornasse mais bela,
João Fernandes de Oliveira mandou construir
Um vasto lago e uma belíssima galera
E uma riquíssima liteira para conduzi-la
Quando ela ia assistir à missa na capela.

(Anescarzinho do Salgueiro / Noel Rosa de Oliveira / Walter Moreira)

No tempo em que o Brasil ainda era um simples país colonial,
Pernambuco foi palco da história que apresentamos neste carnaval.
Com a invasão dos holandeses, os escravos fugiram da opressão
E do julgo dos portugueses.
Esses revoltosos, ansiosos pela liberdade
Nos arraiais dos Palmares buscavam a tranqüilidade.
Ô-ô-ô-ô-ô-ô... Ô-ô, ô-ô, ô-ô.
Surgiu nessa história um protetor, Zumbi, o divino imperador,
Resistiu com seus guerreiros em sua tróia,
Muitos anos, ao furor dos opressores, ao qual os negros refugiados
Rendiam respeito e louvor.
Quarenta e oito anos depois de luta e glória,
Terminou o conflito dos Palmares,
E lá no alto da serra, contemplando a sua terra,
Viu em chamas a sua tróia e num lance impressionante
Zumbi no seu orgulho se precipitou lá do alto da Serra do Gigante.
Meu maracatu é da coroa imperial.
É de Pernambuco, ele é da casa real.
Quilombo dos Palmares

3 de julho de 2012

Wilson Batista.

O dia de hoje marca a data de nascimento de um dos maiores compositores que o samba conheceu; o grande Wilson Batista.
Wilson Batista de Oliveira nasceu no dia 3 de julho de 1913 na cidade de Campos, Rio de Janeiro. Filho de João Batista de Oliveira, um humilde pintor de paredes, funcionário da guarda municipal de Campos, e Isaurinha Alves de Oliveira. Seu gosto pela música veio da convivência com o tio, Ovídio Batista, que tocava vários instrumentos e era maestro da banda "Lira de Apolo", em Campos.
Fez sua estréia como músico, batendo triângulo na banda do tio. Participou, ainda em sua cidade natal, do bloco "Corbeille de Flores", para o qual compôs várias músicas. Chegou a cursar o Instituto de Artes e Ofícios de Campos, buscando habilitar-se no ofício de marceneiro. Não teve oportunidade de adquirir muita instrução e assinava o nome com grande esforço. Quando era solicitado a escrever um bilhete, a situação ficava mais difícil, no entanto, era capaz de fazer um poema com grande facilidade.
Em 1929, mudou-se sozinho para o Rio de Janeiro tentar ganhar a vida como compositor indo morar por algum tempo com um tio que era gari. Tinha dificuldades de se adaptar a empregos. Chegou a trabalhar como acendedor de lampiões na Light, logo que chegou à capital do país, mas por pouco tempo. Seu sonho era vencer como compositor de sambas. Foi um boêmio inveterado. Logo que chegou ao Rio, ainda adolescente, passou a freqüentar o Mangue, zona da prostituição e os cabarés e cassinos do famoso bairro da Lapa. Foi ali que o jovem travou contato com a vida boêmia e musical da cidade. Gostava de se divertir, das mulhers e de ouvir música. Ao começo nunca foi de beber e nem era chegado ao jogo de azar. Descobriu, logo depois, a Praça Tiradentes, com seus teatros. Na década de 1930, um dos grandes mercados para compositores e músicos era o teatro musicado, de revista. Um dos pontos onde os profissionais de teatro se reuniam era a Leiteria Dom Pedro I e o Café Carlos Gomes, na Praça Tiradentes. Foi nesse local que conheceu muitos personagens da música popular daquele tempo: Roberto Martins, Nássara, Ataulfo Alves, Antônio Almeida, Geraldo Pereira, Jorge Faraj e tantos outros.
Começou a carreira, freqüentando os cabarés da Lapa, RJ, onde fez amizade com os irmãos Meira, malandros de má fama da época. Por causa dessa amizade, chegou a ser preso várias vezes. Logo depois, conseguiu ingressar no ambiente artístico, empregando-se como eletricista e ajudante de contra -regra no Teatro Recreio, na Praça Tiradentes. A casa vivia cheia, com as peças de Aracy Cortes e Margarida Max. Fez o primeiro samba aos 16 anos, "Na Estrada da Vida", que para sua alegria, foi cantado no Teatro Recreio pela própria estrêla Aracy Cortes, na época a cantora popular mais famosa da então capital da República.  Em 1932, teve sua primeira composição gravada, o samba "Por Favor Vai Embora", parceria com Benedito Lacerda e Osvaldo Silva lançado por Patrício Teixeira. Em 1933, teve gravados os sambas "Desacato", com P. Vieira, registrado por Francisco Alves, Castro Barbosa e Murilo Caldas e que se tornou seu primeiro sucesso; "Eu Vivo Sem Destino", com Sílvio Caldas e Osvaldo Silva, lançado por Sílvio Caldas; "Na Estrada da Vida", gravado por Luiz Barbosa e a batucada "Barulho No Beco", lançada por Almirante. Nesse ano, Sílvio Caldas gravou o samba "Lenço No Pescoço", que iniciaria uma famosa polêmica musical travada com Noel Rosa. Com letra que fazia a apologia da malandragem, o samba traçava o retrato perfeito do malandro carioca daquele período: "Meu chapéu de lado/ Tamanco arrastando/ Lenço no pescoço/ Navalha no bolso/ Eu passo gingando/Provoco desafio/ Eu tenho orgulho de ser vadio/ Sei que eles falam desse meu proceder/ Eu vejo quem trabalha andar no miserê". Também nessa época, atuou como crooner de um conjunto de subúrbio, a Orquestra de Romeu de Malaguta. Nesse período, era um assíduo freqüentador da "Esquina do Pecado", reduto dos sambistas em início de carreira, uma espécie de Café Nice dos pobres. Ele era um sambista da vertente da malandragem, da vadiagem, da orgia, da gandaia. Os freqüentadores do Café Nice representavam o sambista respeitável, boêmio, mas, profissional. Pouco tempo depois, Noel Rosa escreveu o samba "Rapaz Folgado" como resposta à exaltação da malandragem feita em "Lenço No Pescoço". A polêmica teve continuidade com seu samba "Mocinho da Vila". Em 1934, Noel Rosa respondeu com o samba "Feitiço da Vila" que teve como resposta o samba "Conversa Fiada", respondido por Noel Rosa com o samba "Palpite Infeliz". Nesse ano, teve gravados os samba "Cadê a Fantasia", parceria com Valfrido Silva, por Almirante e "Está No Meu Caderno", com Benedito Lacerda e Osvaldo Silva, por Mário Reis. No ano seguinte,o Bando da Lua gravou o samba "Raiando", com Murilo Caldas, que por sua vez, gravou na Columbia a marcha "Se Você Morrer", com Roberto Martins. Deu ainda seqüência à polêmica com Noel Rosa com mais dois sambas, "Frankenstein da Vila" e "Terra de Cego", que acabaram não recendo resposta. Apesar dessa polêmica, acabou ficando amigo de Noel Rosa.
Em 1936, com Erasmo Silva, que ele considerava um sósia seu, constituiu a dupla "Verde e Amarelo" que chegou a gravar dez disco em 78 rpm. Fizeram temporada de três meses em Buenos Aires, Argentina, junto com a orquestra "Os Almirantes Jonas". De volta ao Brasil, ficaram um ano na cidade de São Paulo, onde gravaram o primeiro disco, com as Irmãs Vidal, com as músicas "Adeus, Adeus", de Francisco Alves e Frazão e "Ela Não Voltou", dos mesmos autores e mais Aluísio Silva Araújo. Em São Paulo, trabalharam nas rádios Atlântica, de Santos e Record, da capital paulista. Fizeram temporada em Porto Alegre e Pelotas, retornando à São Paulo para trabalharem na Rádio Tupi. Também em 1936, seu samba "Não Durmo Em Paz", com Germano Augusto, foi gravado por Carmen Miranda.
Em 1937, gravou com Erasmo Silva o samba "Não Devemos Brigar". Em 1938, atuando com Erasmo Silva em São Paulo, recebeu uma carta de Sílvio Caldas avisando que a Rádio Mayrink Veiga tinha interesse em contratá-los. Voltaram ao Rio de Janeiro e passaram a atuar naquela rádio com sucesso. Mas ele não pretendia fazer carreira como cantor. Queria mesmo era firmar-se como compositor. Erasmo Silva, percebendo que o parceiro não tinha o mesmo objetivo que ele, decidiu voltar à Argentina, desfazendo a dupla "Verde e Amarelo", que o famoso locutor da rádio, César Ladeira anunciava como tendo "cores diferentes, vozes iguais!". No mesmo ano seguinte, seu samba "O Teu Riso Tem", parceria com Roberto Martins foi lançado por Sílvio Caldas. Conheceu seu primeiro grande sucesso na voz de Moreira da Silva com o samba "Acertei no Milhar", parceria com Geraldo Pereira. Nesse ano, Cinara Rios gravou o samba "Artigo Nacional", com Germano Augusto e Aracy de Almeida gravou "Brigamos Outra Vez" e Odete Amaral "Chinelo Velho", sambas feitos em parceria com Marino Pinto. Também no mesmo ano, teve gravado a marcha "Cowboy do Amor", com Roberto Martins, pelos Anjos do Inferno e "Carta Verde", samba com W. Silva e A . Lima, gravado por Zilá Fonseca. Nessa época, tinha um "relações públicas", talvez o primeiro a surgir em nossa música popular, o amigo português Germano Augusto, que se tornou parceiro seu parceiro em 14 músicas. Germano era mestre em "descobrir" músicas entre marinheiros freqüentadores da zona do baixo meretrício. Através de Germano, conheceu o bicheiro China, para quem vendeu várias músicas. Quando estava sem dinheiro, sempre procurava China e oferecia: "Quer um sambinha barato, Major?". Ainda em 1939, compôs com Ataulfo Alves o samba "Oh! Seu Oscar" gravado por Cyro Monteiro que venceu o concurso de músicas para o carnaval, promovido pelo DIP, Departamento de Imprensa e Propaganda, do governo Vargas.
Por volta de 1940, sua temática mudou, por conta de suas novas parcerias, e, principalmente, pela influência de uma portaria do governo que proibia a exaltação da malandragem. Nessa época, elegeu Cyro Monteiro e Aracy de Almeida como seus dois intérpretes favoritos. Com Cyro Monteiro obteve grande sucesso em 1940 com o samba "O Bonde de São Januário", parceria com Ataulfo Alves, que tinha uma letra de exaltação ao trabalho e que foi muito cantado no carnaval seguinte, seja com a letra original, seja com a alteração promovida pela população que em lugar de cantar "O bonde São Januário/Vai levar mais um operário/Sou eu que vou trabalhar", passou a cantar: "O bonde São Januário vai levar mais um otário/Pra ver o Vasco apanhar". Teve mais um samba lançado por Aracy de Almeida em 1941, "Eu Não Sou Daqui", parceria com Ataulfo Alves. Nesse ano, fez com Moreira da Silva o samba "Esta Noite Eu Tive Um Sonho", gravado por Moreira da Silva e com Haroldo Lobo a marcha "Essa Vida Não é Sopa", gravada por Patrício Teixeira. Também no mesmo ano, Vassourinha gravou com grande sucesso o samba "Emilia".
Em 1942, teve outra parceria com Ataulfo Alves gravada, o samba "Faz Um Homem Enlouquecer", lançado por Cyro Monteiro. Nesse ano, Carlos Galhardo gravou o samba "Largo da Lapa", com Marino Pinto; Sílvio Caldas o samba "Meus Vinte Anos", parceria dos dois e Déo gravou os sambas "No Mundo da Lua", com Zé da Zilda e "A Outra Santa", com Jorge de Castro. No ano seguinte, obteve novo grande sucesso com o samba "Louco (Ela é o Seu Mundo), parceria com Henrique de Almeida gravado por Orlando Silva. Também em 1943, teve gravados os sambas "Gosto Mais do Salgueiro", parceria com Germano Augusto, por Aracy de Almeida; "Fala Baiano", com Roberto Martins, lançado pelos Anjos do Inferno e "Botões de Laranjeira", com Jorge de Castro gravado por Orlando Silva.
Em 1944, Carlos Galhardo gravou o samba "Deus No Céu e Ela Na Terra", parceria com Marino Pinto. Também nesse ano, o samba "Como Se Faz Uma Cuíca" foi gravado pelos Anjos do Inferno e a marcha "O Mundo Às Avessas" e o samba "Não Tenho Juízo", as duas com Haroldo Lobo, por Aracy de Almeida. Em 1945, Linda Batista gravou a marcha "No Boteco do José", parceria com Augusto Garcez, que fazia uma brincadeira com a torcida do Vasco da Gama e que foi grande sucesso do carnaval do ano seguinte.
Teve gravado em 1946, por Aracy de Almeida, o samba "Memórias de Torcedor", parceria com Geraldo Gomes. A mesma Aracy de Almeida regravou com sucesso nesse ano o samba "Louco (Ela é o Seu Mundo)"; Carlos Galhardo lançou o samba "Comício em Mangueira", com Germano Augusto e Orlando Silva gravou o samba "Gostei de Você", com Arlindo Marques Junior. Três anos depois, conheceu grande sucesso carnavalesco com a marcha "Pedreiro Valdemar", parceria com Roberto Martins e gravada por Blecaute em novembro do ano anterior. Em novembro de 1949, Jorge Goulart gravou a marcha "Balzaquiana", cujo título se reporta ao escritor francês Honoré de Balzac, parceria com Nássara e grande sucesso no carnaval do ano seguinte. Ainda em 1949, fez sucesso com o samba "Chico Brito", com Afonso Teixeira gravado por Dircinha Batista. Este samba, aliás, foi o primeiro a fazer referência à maconha na MPB. Em 1950, Dircinha Batista gravou a marcha "Pindamonhangaba", com Pedro Caetano. No ano seguinte, a marcha "Pombinha Branca", com Nássara foi gravada por Gilberto Milfont e o grupo Anjos do Inferno gravou o samba "Olhos Vermelhos", com Roberto Martins. Ainda nesse ano, conheceu novo sucesso como samba "Mundo de Zinco", parceria com Nássara e gravado por Jorge Goulart. Em 1952, Nelson Gonçalves lançou a marcha "Minha Linda Hindu", parceria com Nássara e os Quatro Azes e Um Coringa lançaram o samba "Garota Dos Discos", com Afonso Teixeira. A marcha "Um Brasileiro em Paris", com Jorge de Castro e o samba "Sistema Nervoso", com Arlindo Marques Júnior e Roberto Roberti foram gravadas por Orlando Correia em 1953, mesmo ano em que Emilinha Borba gravou o "Baião de São Pedro", com Alberto Rego e Nelson Gonçalves o samba "Datilógrafa", com Jorge Faraj. Roberto Silva gravou em 1955 na Copacabana o samba "Vedete", com Jorge de Castro. Nesse ano, teve mais uma de suas composições de temática sobre o futebol, gravada, o "Samba Rubro-Negro", com Jorge de Castro lançado por Roberto Silva. No ano seguinte com Jorge de Castro e Nássara fez o samba "Vou Para Goiás" gravado por Nelson Gonçalves. Ainda em 1956, as músicas de sua polêmica com Noel Rosa foram reunidas no LP "Polêmica", interpretadas por Roberto Paiva e Francisco Egídio. Em 1957, teve gravados o samba "Vagabundo", com Jorge de Castro, por Roberto Silva; "Taberna", com Cícero Nunes, por Roberto Luna e "Sempre Mangueira", com Jorde de Castro e Nássara, por Jorge Goulart A marcha "Uma Vaca Vitória", com Jorge Murad, foi gravada por Jorge Veiga. Em 1958, Gilberto Alves gravou a marcha "Velhice Transviada" e Jorge Goulart o samba "O Último Samba", parcerias com Jorge de Castro. Nesse ano, o samba "Rei do Futebol", com Jorge de Castro foi gravado por Roberto Silva. No ano seguinte, homenageou o jogador Garrincha, do Botafogo do Rio com a marcha "Mané Garrincha" gravada pela vedete Angelita Martinez.
Em 1961, fez com Jorge de Castro, o principal parceiro da fase final de sua carreira, o samba "A Última Mulher" gravado por João Dias e com Jorge de Castro e Luiz Vanderley o chachacha "Rei Pelé", homenagem ao jogador de futebol Pelé, gravado por Luiz Vanderley. Dois anos depois a vedete Anilza Leoni gravou a marcha "Terezinha", com J. Batista. Em 1968, foi convidado a participar da Bienal do samba em São Paulo, criada pela TV Record, mas sua música acabou chegando atrasada e não foi incluída no Festival. Por solicitação do crítico R. C. Albin, contudo, ele foi homenageado na finalíssima do evento com um pot-pourri dos seus maiores sucessos. Esta seria a última homenagem pública que lhe foi prestada enquanto ainda vivia.
Era um contumaz vendedor de sambas e não tocava nenhum instrumento, embora fosse afinado, a não ser sua caixinha-de-fósforos. Foi casado e tornou-se pai de dois filhos, embora a vida boêmia o levasse a ficar até três dias sem aparecer em casa, para desespero da esposa. Foi morador da Ilha de Paquetá e costumava chamar a todos de "Major", fazendo o pedido de costume: "Tem um dinheirinho aí pro Cabo Wilson? ". Viveu em meio à boemia, até o coração adoecer. Apesar da fama e do sucesso alcançado ao longo de sua carreira, morreu pobre. No fim da vida, quando encontrava um velho companheiro fazia o pedido de sempre: "Posso apanhar um dinheirinho com você, Major?". Faleceu no Hospital Sousa Aguiar, no Centro do Rio de janeiro, no dia 7 de julho de 1968, quatro dias depois de completar 55 anos. Os amigos liderados por Ricardo Cravo Albin se cotizaram para levar o corpo para a Capela Santa Terezinha, ao lado do Hospital e em frente à Praça da República. No dia seguinte levaram o corpo para o cemitério do Catumbi e o sepultaram somente quando o sol se pôs. Dias antes, o Museu da Imagem e do Som tentara gravar seu depoimento. Doente, ele resistia à idéia do depoimento, quase implorando a Ricardo Cravo Albin, então diretor do MIS: "Ricardo, você não vê que não tenho voz para contar tudo o que eu quero...". Ainda assim, deixou gravado o último samba, sem nome, só assobiado e com o ritmo simples e sincopado de sua caixinha-de-fósforos, além de uma então música inédita homenageando Nelson Cavaquinho.
Em 1977, teve os sambas "O Bonde São Januário", "Oh! Seu Oscar", "Mundo de Zinco" e "Louco" regravadas pelo grupo vocal MPB-4 no LP "Antologias Volume 2". Em 1979, Paulinho da Viola regravou o samba "Chico Brito". Em 1985, foi publicado pela Funarte o livro "Wilson Batista e Sua Época", de Breno Ferreira Gomes.
Em 1995, Cristina Buarque regravou "Memórias de Torcedor" no CD "Estácio e Flamengo 100 Anos de Samba e Amor". Em 1997, a editora Globo, na série "MPB - Compositores" lançou um fascículo e um Cd dedicados a sua obra. Nesse CD estão presentes 12 composições suas, entre as quais, "Sistema Nervoso", que havia sido gravado por Simone em seu segundo LP, interpretado por Paulinho Boca de cantor, "Flor da Lapa", por Cristina Buarque, "Meu Mundo é Hoje", por Eliete Negreiros e "Samba Rubro-Negro", por Carlinhos Vergueiro. Em 2011, foi lançada a caixa "100 Anos de Música Popular Brasileira" onde estão incluídos seus sambas "Oh, Seu Oscar" e "O Bonde de São Januário", ambos com Ataulfo Alves, na interpretação de Gilberto Milfont e As Gatas.

Lenço No Pescoço
(Wilson Batista)

Meu chapéu do lado, tamanco arrastando
Lenço no pescoço, navalha no bolso
Eu passo gingando, provoco e desafio
Eu tenho orgulho em ser tão vadio.

Sei que eles falam deste meu proceder
Eu vejo quem trabalha andar no miserê
Eu sou vadio porque tive inclinação
Eu me lembro, era criança, tirava samba-canção
Comigo não, eu quero ver quem tem razão.

Chico Brito
(Wilson Batista / Afonso Teixeira)

Lá vem o Chico Brito,
Descendo o morro nas mãos do Peçanha,
É mais um processo! É mais uma façanha!
Chico Brito fez do baralho seu melhor esporte,
É valente no morro, dizem que fuma uma erva do norte.

Quando menino teve na escola, era aplicado, tinha religião,
Quando jogava bola era escolhido para capitão,
Mas, a vida tem os seus revezes,
Diz sempre Chico defendendo teses,
Se o homem nasceu bom, e bom não se conservou,
A culpa é da sociedade que o transformou.

O Bonde de São Januário
(Wilson Batista / Ataulfo Alves)

Quem trabalha é quem tem razão
Eu digo e não tenho medo de errar

O Bonde São Januário
Leva mais um operário
Sou eu que vou trabalhar

Antigamente eu não tinha juízo
Mas hoje eu penso melhor no futuro
Graças a Deus, sou feliz, vivo muito bem
A boemia não dá camisa a ninguém
Passe bem!

Oh! Seu Oscar
(Wilson Batista / Ataulfo Alves)

Cheguei cansado do trabalho,
Logo a vizinha me falou:
- Oh! seu Oscar, tá fazendo meia hora
Que sua mulher foi-se embora e um bilhete lhe deixou
Mas que horror, o bilhete assim dizia:
"Não posso mais, eu quero é viver na orgia"

Fiz tudo para ter seu bem-estar
Até no cais do porto eu fui parar
Martirizando o meu corpo noite e dia
Mas tudo em vão, ela é, é da orgia!
É... parei!

Quem somos.

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Bragança Paulista, SP
A Ala de Compositores da Faculdade do Samba Dragão Imperial possui cerca de 40 membros, dos quais grande parte todos os anos escrevem e participam do concurso da escolha do samba enredo da Azul e Rosa. Os Poetas Imperiais, como também são denominados, realizam rodas de samba semanais nas quais relembram sambas de diversos ícones desse ritmo brasileiro, com um tempêro todo seu na "quase famosa" Panela Imperial, que inclusive já se apresentou em algumas cidades, como Serra Negra, além da sua Bragança Paulista. Esse blog é um veículo para a divulgação das atividades da Ala, de dados culturais relativos ao samba, além de ser um espaço para que nossos compositores divulguem suas letras, os áudios de seus sambas, postem fotos de eventos realizados e muito mais...

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