Hoje nosso blog deseja prestar uma pequena homenagem a um grande compositor portelense que completaria 87 anos de vida, Walter Rosa, nascido em 05 de abril de 1925, na cidade do Rio de Janeiro, no bairro do Méier.
Com oito anos de idade entrou em contato com o samba, quando frequentava o Bloco Carnavalesco Filhos do Deserto, no morro da Cachoeirinha. Por lá conheceu Zinco, um senhor dono de uma possante voz e que gozava de grande prestígio entre os compositores da época e que acabou por se tornar seu professor. Posteriormente seu mestre viria a passar por diversas dificuldades de saúde e financeiras, sendo muito ajudado pelo discípulo, agora amigo e o maior conhecedor e divulgador de seus sambas. Ali Walter aprendeu a tocar instrumento de corda e em seguida começou a compor.
No ano de 1942, transferiu-se para o Bloco Recreio de Inhaúma, onde conheceu Paulo da Portela e outros compositores nas costumeiras visitas que eram feitas entre os sambistas, ocasionando daqueles contatos um convite para ingressar na Portela, o que foi aceito por Walter tendo ele passado a integrar a Ala dos Compositores portelense na década de 1950, sendo que nos anos de 1960, 1962 e 1963 a escola desfilou com sambas de sua autoria, dois deles em parceria com Antonio Alves. O único sambista que rivalizava em prestígio com Walter Rosa na Portela era Candeia, que tinha a maior admiração pelo parceiro.
Em 1955 Walter resolveu homenagear respeitáveis compositores, de Zinco dos Filhos do Deserto a Chatim da Portela e compôs o samba "Confraternização", que fez muito sucesso entre os sambistas, sendo cantado em muitas rodas de samba. Entusiasmado com a aceitação de sua composição, resolveu fazer, em 1957, nova homenagem, compondo "Confraternização nº 2", que sofreu uma nova versão onde ele cita o samba-enredo cantado pelo Salgueiro em 1963, "Chica da Silva" e "Semente do Samba" de Hélio Cabral, gravado por Clementina de Jesus em 1965. Compôs ainda em 1959, “Confraternização nº 3", o qual foi criado em decorrência da mágoa demonstrada por alguns sambistas por não terem sido citados nas homenagens anteriores, tendo chegado ao ponto inclusive do compositor Mazinho da Portela ter feito um samba resposta a Walter Rosa, cuja letra saiu publicada num jornal da cidade, fazendo com que este dissesse em seu samba: "muitos ficaram aborrecidos" e "levaram a cópia do original da Confraternização nº 1 ao conhecimento de um jornal”.
Outro detalhe de sua vida a se destacar é o de ter sido ele um dos fundadores da “Acadêmicos do Engenho da Rainha”.
Um então na época jovem compositor e hoje um dos baluartes do samba brasileiro, Martinho José Ferreira, comenta com relação a Walter Rosa, que um de seus maiores orgulhos era o de ser reconhecido e cumprimentado por Walter diante de bambas do samba, além de se lembrar de ter sido ele a primeira pessoa a anunciá-lo em um microfone, isso na quadra da Portela, quando o apresentou: "Presente está o compositor Martinho da Boca do Mato".
Dentre os parceiros de composição de Walter Rosa destacam-se nomes como Silas de Oliveira, Candeia, Monarco, Picolino da Portela, Jorginho Pessanha e Noca da Portela.
Seus sambas foram interpretados por grandes vozes como as de Elizeth Cardoso, Clara Nunes, Roberto Silva, Beth Carvalho, Roberto Ribeiro e Martinho da Vila.
Walter Rosa veio a falecer no dia 24 de janeiro de 2002, em decorrência de uma diabete com a qual vinha travando uma árdua luta e que já tinha lhe custado a visão. Como já foi dito certa vez a seu respeito, um mestre do samba, admirado e respeitado no meio, que infelizmente não teve em vida todo o reconhecimento merecido.
Vai Amor
(Walter Rosa)
Vai, amor pra toda vida,
Não olhes pra trás na hora da partida
Não me mande lembrança
Nem carta amorosa
Vivias num perfeito mar-de-rosas
Te dei carinho, dei um lar, o que pude enfim
Não sei porque procedeste assim
Agora é tarde para me pedir perdão
Eu sigo a ordem dada por meu coração
Eu sei que andava fora da realidade
Graças a Deus decidi sem ter remorso, nem saudade.
Não chore, por favor, porque um bom perdedor não chora.
Reconhece a derrota, se dirige a porta,
Abre, diz adeus e vai-se embora.
Peso dos Anos
(Walter Rosa/Candeia)
Sinto que o peso dos anos me invade
Vejo o tempo entregar à distância
A minha mocidade
Oportunamente partirei
Abandonando as coisas naturais
Mas deixarei saudade, eu sinto...
Muita gente há de sentir
Os afetos que ofertei
Os meus beijos hão de ficar
Nos lindos lábios que beijei
Quero risos de alegria
Quero ouvir minhas canções
Nos acordes de plangentes violões.
Confraternização nº1
(Walter Rosa)
Envio aqui musicalmente cartões de boas festas a todos poetas e compositores
Espero que esses o encontrem contentes e gozando saúde e feliz em seus amores
Zinco, lá dos Filhos do Deserto prefere sempre estar perto das florestas ouvindo os pássaros cantando.
Cartola se afasta do morro, mas não vai embora, a saudade lhe devora.
De Carlos Moreira, Zagaia e Padeirinho, com este último,
Com quem conversei bastante sobre um assunto interessante do Nonô do Jacarezinho
Ariosto Ventura de tanto dizer vem morar comigo se andares direito te darei amor, se errares te darei só castigo.
Ilco, lá do Engenho da Rainha uma vez numa tendinha me chamou em particular
Walter Rosa, por Deus quero compor com você uma glosa que não relacione o amor
Silas, viga-mestra do Império Serrano, lá do alto quando abre-se o pano aparece a cantar
És a luz da minha vida para ela a Serrinha em peso abre a janela para ouvir o seu cantor
Candeia, Waldir, Picolino,Manacéia, Alvaiade, Avelino,Monarco e Chatim
Padrões de talento da Portela os seus valores não têm fim.
Tudo Menos Amor
(Walter Rosa / Monarco)
Tudo que quiseres te darei, oh flor menos meu amor
Darei carinhos se tiveres a necessidade
E peço a Deus para te dar muita felicidade
Infelizmente só não posso ter-te para mim
Coisas da vida, é mesmo assim,
Embora saiba que me tens tão grande adoração
Eu sigo a ordem e esta é dada por meu coração
Neste romance existem lances sensacionais
Mas te dar meu amor, jamais.
A gente ama verdadeiramente uma vez
Outras são puras fantasias, digo com nitidez
Mas uma história de linguagens sensíveis e reais
O que quiseres mas o meu amor, jamais.
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