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13 de abril de 2012

Dona Ivone Lara, Sublime Dama do Samba!

Descobri algo mais que a inspiração, quando ouvi Ivone cantar e vi toda poesia pairar no ar...Com este trecho do lindo samba feito por Arlindo Cruz e Sombrinha, nossa Ala de Compositores inicia este humilde registro, uma pequena lembrança como forma de homenagem para a Primeira Dama do Samba Brasileiro que completa hoje 91 anos de muito samba, inspiração, coragem e poesia, a Grande e Sublime Dona Ivone Lara.
Ivone Lara da Costa, cantora e compositora, nasceu no dia 13 de abril de 1921. Seu pai foi mecânico de bicicletas, além de violonista e componente do Bloco dos Africanos e sua mãe pastora do Rancho Flor do Abacate. Por uma dessas infelicidades do destino, com seis anos de idade ficou órfã de pai e mãe, tendo sido internada por parentes num colégio no bairro da Tijuca, Zona Norte do Rio de Janeiro, onde permaneceu até os 17 anos. Nesse período, com 12 anos, recebeu de presente dos primos e futuros parceiros, Hélio e Fuleiro, um pássaro "Tiê-sangue". O nome do pássaro e a expressão "Oialá-oxa", herdada da avó moçambicana, serviram de inspiração para o primeiro samba composto: "Tiê, Tiê".
Ivone era muito admirada por suas professoras de música no colégio, Lucília Villa-Lobos e Zaíra Oliveira, nada mais que a primeira esposa do maestro Villa-Lobos e primeira esposa de Donga, sendo indicada por elas para o Orfeão dos Apinacás, da Rádio Tupi, cujo regente era Heitor Villa-Lobos.
Saindo da escola, foi morar na casa de um tio, pai de Mestre Fuleiro, um dos fundadores do Império Serrano. Seu tio tocava violão de sete cordas e fazia parte de grupo de chorões que reunia entre outros, Pixinguinha e Donga e com ele aprendeu a tocar cavaquinho.
Quando Dona Ivone se mudou para Madureira, passou a freqüentar a Escola de Samba Prazer da Serrinha e começou a compor sambas para esta escola. Nessa época compôs muitos sambas e partido-alto, os quais eram mostrados aos outros sambistas pelo primo Fuleiro, também compositor, como se fossem dele, pois o preconceito vigente não favorecia a aceitação da mulher como sambista. Casou-se, aos 25 anos, com o filho do presidente da Prazer da Serrinha e passou a comparecer mais ativamente na escola, aprimorando seus dotes de sambista, oportunidade em que conheceu os amigos Aniceto, Mano Décio da Viola e Silas de Oliveira, que mais tarde seriam seus parceiros em algumas composições, tendo composto nesse período o samba "Nasci Para Sofrer", com o qual a escola Prazer da Serrinha acabou por desfilar.
Com o fim da Prazer da Serrinha e o nascimento da Império Serrano, passou a fazer parte da verde e branco de Madureira e por esta época fez o samba "Não Me Perguntes", em parceria com Mestre Fuleiro, considerado por muitos como o hino da escola.
Tornou-se enfermeira, formando-se logo depois como assistente social e especializando-se em Terapia Ocupacional, se dedicando a trabalhos em hospitais psiquiátricos, atividade que exerceu paralelamente com a de artista até se aposentar em 1977, quando se dedicou exclusivamente à carreira artística.
No ano de 1965 compôs, com Silas de Oliveira e Bacalhau, o clássico "Os Cinco Bailes da História do Rio", samba com o qual a Império Serrano desfilou no carnaval deste mesmo ano, classificando-se em quarto lugar. Pelo feito, tornou-se a primeira mulher a fazer parte da Ala de Compositores do Império Serrano. A partir de 1968 passou a integrar a Ala das Baianas da escola. Com o tempo, deixou de compor para a escola, tornando-se então madrinha da Ala dos Compositores.
No início dos anos 70, após a morte de Silas de Oliveira, Dona Ivone passou a compor com Délcio Carvalho, tornando-se famosa no mundo do samba.
Atuou em discos coletivos com vários cantores e intérpretes e passou, também, muito tempo nas rodas de samba do Teatro Opinião e por ser figura constante por lá, passou a ser chamada de "Dona" Ivone Lara, tratamento respeitoso e reverencial que lhe foi conferido pelo radialista Adelzon Alves. O ano de 1970, aliás, é marcante em sua carreira, pois foi quando gravou o primeiro disco pela Copacabana.
No ano de 1974, participou do "Projeto Pixinguinha", apresentando-se com Roberto Ribeiro, num espetáculo onde, além de cantar, dançava os passos de jongo herdado das tradições africanas e dos pontos de umbanda.
Apesar de ativa, o reconhecimento por parte do grande público veio apenas quando teve sua composição "Sonho Meu" gravada por Maria Bethânia e Gal Costa em 1978, sendo que com esta composição, chegou a ganhar, neste mesmo ano, o prêmio Sharp de "Melhor Música".
No ano de 1999, foi homenageada com o troféu "Eletrobrás de Música Popular Brasileira" e em outubro do mesmo ano foi agraciada com a medalha “Pedro Ernesto” em sessão solene no Plenário da Câmara Municipal do Rio de Janeiro, pelos serviços prestados à música e à cultura.
Em 2001, atuou no show Meninos do Rio, no Centro Cultural Banco do Brasil numa série de três shows que reuniu personalidades do samba como Nelson Sargento, Nei Lopes, Dauro do Salgueiro, Baianinho, Niltinho Tristeza, Casquinha, Zé Luiz, Nilton Campolino, Jair do Cavaquinho, Monarco, Élton Medeiros, Luiz Grande, Jurandir da Mangueira e Aluízio Machado.
No livro de Eduardo Ganja Coutinho, "Velhas Histórias, Memórias Futuras", lançado pela Editora Uerj em 2002, pode-se encontrar várias referências feitas pelo autor à compositora, tendo ela, neste mesmo ano, participado do CD "Clássicos do samba", ao lado de Eliane Faria, Martinho da Vila, Jamelão e Orquestra Sinfônica do Teatro Nacional de Brasília.
Em 2004, Dona Ivone foi uma das 53 atrações especiais da roda de samba que reuniu três gerações de bambas do samba carioca, entre os quais se destacavam Nelson Sargento, Nei Lopes, Wilson Moreira, Almir Guineto, Luiz Carlos da Vila, Nilze Carvalho e Luciane Menezes. A roda de samba foi organizada num palco em frente à Rua Dois de Dezembro, na Praia do Flamengo.
Em 2006, ao completar 85 anos, teve parte de sua trajetória revisitada em documentário registrado num show ao vivo no Teatro Municipal de Niterói, documentário este de Felipe Moura Brasil, Carlos Andreazza e Rafael Simi, lançado juntamente com um CD, no qual vários artistas da MPB lhe prestaram homenagem interpretando parte de sua obra.
Dona Ivone Lara compôs com diversos parceiros tais como Jorge Aragão, Hermínio Bello de Carvalho, Hélio dos Santos, Mestre Fuleiro, além do gênio Silas de Oliveira, contudo seu parceiro mais constante é Délcio Carvalho.
Em 2011 apresentou-se no palco do Teatro Rival, no Rio de Janeiro, celebrando seus 90 anos de idade e os 77 anos de existência do teatro, em show cujo repertório incluiu diversas canções de sua autoria. Ainda no mesmo ano recebeu o título de "Benemérita do Estado do Rio de Janeiro", sendo homenageada com a "Medalha Tiradentes" em solenidade realizada na Assembléia Legislativa do Rio de Janeiro, na qual estiveram presentes Nelson Sargento, Teresa Cristina, Bruno Castro, entre outros.
Sobre Dona Ivone Lara, Túlio Feliciano, um diretor da casa de shows Canecão, certa vez, em depoimento a um jornal, disse: "Ela é a síntese do samba. Tem o ritmo dos tambores do jongo e a riqueza melódica e harmônica do choro. Em seu canto intuitivo está um pouco da África e do negro americano".
A Dama do Samba foi homenageada pela sua Império Serrano este ano com o enredo do carnaval de 2012, “Dona Ivone Lara: O Enredo do Meu Samba”, cujo samba campeão foi composto por Arlindo Cruz, Tico do Império e Arlindo Neto.
Com esta simples lembrança saudamos humildemente a sublime Dona Ivone Lara, desejando-lhe muitas felicidades e a parabenizando pelos seus 91 anos de uma linda e guerreira trajetória de vida.
Tiê-Tiê
Dona Ivone Lara / Hélio dos Santos

Tiê , tiê , olha lá....Oxá
Tiê , tiê , olha lá....Oxá

Passarinho estimado que me deu inspiração
Dos meus tempos de criança guardei na lembrança esta recordação

Representava pra mim carinho, amor e paixão
Mas o ingrato do tié desprezou meu coração

A estrela no céu corre, eu também quero correr
A estrela atrás da lua e eu atrás do meu tiê

Bem que vovó me dizia, criança olha lá toma cuidado
Oxá, esse seu passarinho está mal acostumado

Os Cinco Bailes da História do Rio
(Dona Ivone Lara / Silas de Oliveira / Antonio Domingues de Oliveira (Bacalhau)

Lara...
Carnaval, doce ilusão! Dá-me um pouco de magia
De perfume e fantasia e também de sedução
Quero sentir nas asas do infinito minha imaginação
Eu e meu amigo Orfeu, sedentos de orgia e desvario
Cantaremos em sonho os cinco bailes na história do Rio
Quando a cidade completava vinte anos de existência, nosso povo dançou
Em seguida era promovida a capital, a corte festejou.
Iluminado estava o salão na noite da coroação
Ali no esplendor da alegria a burguesia fez sua aclamação, vibrando de emoção.
Que luxo, a riqueza imperou com imponência
A beleza fez presença condecorando a Independência
Ao erguer a minha taça com euforia, brindei aquela linda valsa
Já no amanhecer do dia a suntuosidade me acenava
E alegremente sorria algo acontecia, era o fim da monarquia.

Acreditar
(Dona Ivone Lara / Délcio Carvalho)

Acreditar, eu não! Recomeçar, jamais
A vida foi em frente,
E você simplesmente não viu que ficou pra trás

Não sei se você me enganou,
Pois quando você tropeçou
Não viu o tempo que passou
Não viu que ele me carregava
E a saudade lhe entregava o aval da imensa dor

E eu que agora moro nos braços da paz
Ignoro o passado que hoje você me traz
Enredo do Meu Samba
(Dona Ivone Lara / Jorge Aragão )

Não entendi o enredo desse samba amor
Já desfilei na passarela do teu coração
Gastei a subvenção do amor que você me entregou
Passei pro segundo grupo e com razão
Passei pro segundo grupo e com razão

Meu coração carnavalesco não foi mais que um adereço
Teve um dez em fantasia, mas perdeu em harmonia
Sei que atravessei um mar de alegorias
Desclassifiquei o amor de tantas alegrias

Agora sei, desfilei sob aplausos da ilusão
E hoje tenho esse samba de amor, por comissão
Fim do carnaval, das cinzas pude perceber
Na apuração perdi você.

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Bragança Paulista, SP
A Ala de Compositores da Faculdade do Samba Dragão Imperial possui cerca de 40 membros, dos quais grande parte todos os anos escrevem e participam do concurso da escolha do samba enredo da Azul e Rosa. Os Poetas Imperiais, como também são denominados, realizam rodas de samba semanais nas quais relembram sambas de diversos ícones desse ritmo brasileiro, com um tempêro todo seu na "quase famosa" Panela Imperial, que inclusive já se apresentou em algumas cidades, como Serra Negra, além da sua Bragança Paulista. Esse blog é um veículo para a divulgação das atividades da Ala, de dados culturais relativos ao samba, além de ser um espaço para que nossos compositores divulguem suas letras, os áudios de seus sambas, postem fotos de eventos realizados e muito mais...

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