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16 de março de 2012

CRAVO BRANCO.

                                       CRAVO BRANCO


Sempre ansiava pelas noites de sexta-feira, mas essa tinha um clima todo diferente, seria algo realmente especial. Passou a semana toda ensaiando em seu imaginário os procedimentos, não iria falhar. O cruzado pausado, o facão e o facão invertido, movimentos com os quais sempre se enrolava, dessa vez estavam devidamente decorados. Tudo iria sair com flueza natural, coisa de quem tinha o domínio da dança incorporado ao seu intímo. Ela nem perceberia, que ele, embora levasse jeito pra coisa, não tinha a destreza total e característica de todo bom dançarino de gafieira, mas ele havia se dedicado. A lembrança do breve encontro com aquela jovem ainda estava totalmente intacta em sua memória. A dança com a colega, não havia sido nada de espetacular, mas a moça havia se mostrado receptível quanto ao sorriso lançado a ela, o que dava a sua beleza um realce ainda maior do que o que já merecia. Não lamentou muito quando foi tirá-la para uma dança, mas obteve uma simpática recusa, sob a alegação de já estar de partida, mas que adoraria em uma outra oportunidade. Isso lhe proporcionaria tempo para aprimorar um desempenho mais requintado e ele estava, de fato, disposto a impressioná-la.
Vestiu seu melhor terno tropical, combinando uma camisa creme com lenço e gravata na mesma cor. Jantou como normalmente fazia, mas desta vez saboreou o prato de tal maneira que a simplicidade do bom e popular feijão e arroz, ganhou ares de alimento dos deuses.
Tomou o bonde, seguiu o caminho de sempre, encontrando vez ou outra um amigo ou um conhecido e como de costume, cumprimentava a todos. Chegou ao salão e mesmo um tanto inquieto pela ansiedade de rever a moça, conseguia controlar o nervosismo. Procurou-a pelo salão e a encontrou sentada na mesa com a amiga, com a qual ele havia dançado da última vez, e mais alguns amigos. Tamanha era a sua alegria que nem notara os demais presentes na mesa, tampouco um olhar irado, direcionado por um interessado desprezado anteriormente. Convidou-a logo para dançar, tendo a moça prontamente lhe atendido e saíram os dois a bailar pelo salão. Tudo caminhava como ele imaginara.
Os passos fluíram, o ritmo condizia com os movimentos, a moça havia se encantado. Tudo perfeito. Num intervalo, surgido ao acaso, foram para o lado de fora do salão. Enquanto conversavam, não percebeu novamente o olhar irado, disfarçadamente posicionado para vigiá-los, olhar que se tornou de um rubro intenso, quando notou que o objeto de sua atenção direcionava uma flor ao seu rival, um lindo e perfumado cravo branco. O olhar irado se ofendeu, considerando a atitude por demais humilhante, se dirigiu a ele com a arma em punho. Pego de surpresa, ele olhou para o revólver. Havia tempo para correr, mas ele não se moveu. Ouviu-se o estampido e pessoas correram. Ele, dobrando os joelhos, desabou no solo. Saíra de casa contente, realizara o que foi planejado, feliz e satisfeito para perto da meia noite morrer com um tiro no peito. O corpo ali estirado no chão, os olhos redondos e um ar de sorriso em sua feição, o terno tropical, manchado de sangue e o cravo branco na mão.

(Texto inspirado no samba de Paulo Vazolini, “Cravo Branco”)




CRAVO BRANCO
(Paulo Vancolini)

Saiu de casa de terno tropical,
Camisa creme, lenço e gravata igual,
Jantou e saiu satisfeito,
Pra antes da meia-noite,
Morrer com um tiro no peito.
Ela lhe deu o cravo,
O outro se ofendeu,
Ele olhou no revólver,
Dava tempo e não correu,
Dobrou o joelho, desabou no chão,
Os olhos redondos,
E o cravo branco na mão,
Ai, o pobre, caído no chão,
De bruços no sangue,
Com o cravo branco na mão,
Com o cravo branco na mão.

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Bragança Paulista, SP
A Ala de Compositores da Faculdade do Samba Dragão Imperial possui cerca de 40 membros, dos quais grande parte todos os anos escrevem e participam do concurso da escolha do samba enredo da Azul e Rosa. Os Poetas Imperiais, como também são denominados, realizam rodas de samba semanais nas quais relembram sambas de diversos ícones desse ritmo brasileiro, com um tempêro todo seu na "quase famosa" Panela Imperial, que inclusive já se apresentou em algumas cidades, como Serra Negra, além da sua Bragança Paulista. Esse blog é um veículo para a divulgação das atividades da Ala, de dados culturais relativos ao samba, além de ser um espaço para que nossos compositores divulguem suas letras, os áudios de seus sambas, postem fotos de eventos realizados e muito mais...

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