Hoje recordamos o nome de um grande compositor brasileiro que ficou conhecido por compor diversos sucessos para Carmem Miranda, além da canção "Brasil Pandeiro", que por sinal foi recusado por ela, mas que se tornou sucesso em outras vozes.
José de Assis Valente, ou simplemenste Assis Valente, nasceu no dia 19 de março de 1911 na Bahia e segundo constam em algumas de suas biografias, teve uma infância conturbada, tendo sido roubado dos pais e depois entregue a uma família para ser criado. Quando menino vagou com um circo pelo interior baiano até fixar-se em Salvador, onde foi trabalhar como farmacêutico e fez cursos de desenho no Liceu de Artes e Ofícios, tendo se profissionalizado como especialista em prótese dentária. Transferiu-se para o Rio de Janeiro, em 1927 e empregou-se como protético.
No início dos anos 1930, começou a compor sambas e em 1932 conheceu Heitor dos Prazeres, que muito o incentivou nessa atividade. Muitas de suas composições alcançaram sucesso nas vozes de grandes intérpretes da época, como Carmem Miranda, Orlando Silva, Altamiro Carrilho, Aracy de Almeida e muitos outros. Nesse mesmo ano de 1932, segundo relatos, estando solitário na noite Natal num quarto onde morava na Praia de Icaraí em Niterói, compôs a marcha "Boas Festas" que se tornaria uma das canções natalinas mais conhecida dos brasileiros e uma das poucas do gênero que conseguiu sobreviver. No melhor de sua carreira de compositor, em 13 de maio de 1941, tentou suicídio pela primeira vez se atirando do Corcovado, salvando-se milagrosamente por ter ficado preso a um galho de árvore e libertado por uma equipe do Corpo de Bombeiros. Após esse incidente seu nome foi, aos poucos, sendo esquecido, raramente voltando ao cartaz, o que talvez, anos depois, o tenha motivado uma nova tentativa de suicídio, dessa vez com lâmina de barbear.
Passou a viver de seu laboratório de prótese dentária e esporadicamente de sua música, mas, para pagar o laboratório, era geralmente obrigado a contrair novas dívidas. Ao contrário do que muitos pensavam, continuava a compor e era comum mostrar aos mais próximos uma nova composição, compondo quase uma música por dia, contudo, não conseguia gravá-las. No máximo, quando suas dívidas apertavam, vendia um samba que depois, assinado por outros, fazia sucesso.
No dia 10 de março de 1958, desesperado com sua situação financeira, mais uma vez optou pelo suicídio, dessa feita infelizmente com sucesso. Tendo deixado a casa em que morava na Rua Santo Amaro, 112, seguiu para o seu consultório na Cinelândia e posteriormente à SBACEM, sociedade arrecadadora de direitos autorais à qual estava filiado, para se informar de seus rendimentos. Mais tarde telefonou para seu laboratório dando instruções a seus empregados do que deveria ser feito após sua morte e no final da tarde, em um banco da Praia do Russel, junto de um play-ground onde brincavam crianças, tomou formicida com guaraná. Segundo descrito por Ricardo Cravo Albin vestia calça azul-marinho e blusão amarelo, tendo sido encontrados em seus bolsos um par de óculos, uma carteira de identidade com o retrato rasgado, duas notas velhas de cinco cruzeiros e uma carta para a polícia, onde, entre outras coisas, esclarecia que morria por sua vontade, estando seriamente endividado e fazia um apelo ao público para que comprasse seu novo disco "Lamento". Pedia ainda a Ary Barroso que pagasse o aluguel atrasado de duas residências, acrescentando no fim: "Vou parar de escrever, pois estou chorando de saudade de todos, e de tudo".
Após sua morte, suas músicas foram redescobertas. Nara Leão regravou "Fez Bobagem" e Maria Bethânia o samba "Camisa Listrada". O primeiro LP dos Novos Baianos trazia como faixa de abertura "Brasil Pandeiro", canção que alcançou grande sucesso, inclusive, na década de 80, deu título a um programa televisivo apresentado pela atriz Beth Faria, voltando a ser extremamente popular em 1994, graças a uma campanha publicitária relacionada à Copa do Mundo.
A memória de Assis Valente, por vezes é reaquecida, prova disso se verifica quando dos comentários de que o mundo iria acabar no segundo semestre de 1999 e todas as rádios e tevês veicularam seu clássico “E o mundo não se acabou” (Anunciaram e garantiram/ que o mundo ia-se acabar/ E a minha gente lá de casa/ começou a rezar...).
Sobre a obra de Assis Valente, chama à atenção a disparidade entre a alegria extravasada em suas músicas-crônicas, de um lado, e a carga trágica de sua vida pessoal, de outro.
(Fontes de pesquisa: Dicionário Cravo Albin da MPB e Wikpédia)
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