Um dos pontos mais interessantes que acreditamos que possa ser destacado em nossa Ala de Compositores, e que suponhamos que também ocorra em outras, talvez seja a troca de informações e opiniões que ocorrem, principalmente quando dos encontros que realizamos, infelizmente não com a presença de todos os integrantes, mas com pelo menos com boa parte deles, somados ainda aos inúmeros amigos que nos acompanham.
Nessas ocasiões, entre um samba e outro, uma cerveja e outra, acabamos por compartilhar nomes, letras, eventos e situações relativas ao samba, não sendo raro, por exemplo, alguém comentar sobre determinada cantora, não muito conhecida do público em geral e que até muitos de nós desconheçam, sem que chegado o encontro posterior já se ouça o comentário “olha, procurei a canção da fulana e nossa, gostei muito!”.
Nesse repasse e troca de informações, que é muito saudável por sinal, percebe-se que acaba sendo nutrido em muitos um desejo pela busca de novas informações, garimpadas durante o intervalo desses encontros e guardadas com muita ansiedade na espera pelo próximo, quando então se torna possível o repasse das descobertas e se permite a aquisição de novas razões para pesquisas, o que logicamente resulta numa ampliação de conhecimentos, mas também colabora em muito na aproximação de todos, mantendo com isso acesa a chama da nossa união, que só faz contribuir com o crescimento da nossa escola, assim como do samba, por que não dizer, já que fazemos parte desse universo.
A crença nessa ideia de repasse de informações e suas contribuições é uma das principais características que encontramos nesta figura muito destacada da cultura nacional que aniversaria no dia de hoje, a quem hoje, num brevíssimo resumo, queremos destacar como uma pequena forma de homenagem aos seus 77 anos de vida.
Excelente compositor, além de poeta, cronista, roteirista, produtor musical e outras qualidades que o tornaram num verdadeiro e importante agitador cultural, atributo que lhe permitiu ser ainda reconhecido como um grande descobridor ou redescobridor de talentos da música brasileira, Hermínio Bello de Carvalho nasceu no dia 28 de março de 1.935 na cidade do Rio de Janeiro. Neto de violeiro e filho de ator morou no bairro da Glória e adolescente, gostava muito de musica clássica. Com 14 anos cantava em coro de igreja e em 1958, começou sua carreira na Rádio MEC, do Rio de Janeiro.
Com a inauguração do restaurante Zicartola, em 1964, tornou-se um de seus assíduos frequentadores ao lado de grandes compositores e sambistas, situação que talvez tenha sido o ponto de partida para que no ano seguinte, dirigisse um espetáculo musical que marcou época, “Rosa de Ouro”, através do qual apresentou ao público uma empregada doméstica que um dia descobriu cantando numa taberna na Glória: Clementina de Jesus. Neste antológico show, Clementina era acompanhada pelo conjunto Rosa de Ouro, liderado simplesmente por Paulinho da Viola e Elton Medeiros, os quais se consagrariam a partir desse show.
Segundo apuramos, Hermínio produziu mais de 100 discos, como os de Radamés Gnattali, Dalva de Oliveira, Pixinguinha e Elizeth Cardoso, tendo sido o primeiro a produzir discos de Cartola, Nelson Cavaquinho e Carlos Cachaça. Na área de rádio e televisão, sua atuação vem desde seu início de carreira em 1958, com a produção de centenas de programas para a Rádio MEC e para a TVE. Adepto da máxima de que “é preciso abrasileirar os brasileiros”, a qual herdou de Mário de Andrade, Hermínio transformou um projeto denominado Projeto Seis e Meia, lançado por Albino Pinheiro em 1976, e do qual participou, no Projeto Pixinguinha, que levou para o Brasil todo, espetáculos de música com os maiores nomes da MPB.
Diversas são suas composições com destaque no mundo do samba, das quais destacamos algumas abaixo, contudo seu universo de criação possui muito mais registros os quais podem sem conferidos no site http://www.acervohbc.com.br que com certeza merece ser visitado, não só pelos amantes do samba, como de toda MPB.
Sei lá, Mangueira.
(Hermínio B. Carvalho/Paulinho da Viola)
Vista assim do alto, mais parece um céu no chão
Sei lá, em Mangueira a poesia fez um mar, se alastrou
E a beleza do lugar, pra se entender tem que se achar
Que a vida não é só isso que se vê
É um pouco mais que os olhos não conseguem perceber
E as mãos não ousam tocar, e os pés recusam pisar
Sei lá não sei... Sei lá não sei...
Não sei se toda beleza de que lhes falo
Sai tão somente do meu coração
Em Mangueira a poesia num sobe e desce constante
Anda descalça ensinando um modo novo da gente viver
De sonhar, de pensar e sofrer
Sei lá não sei, sei lá não sei não
A Mangueira é tão grande que nem cabe explicação
Alvorada
(Cartola/Carlos Cachaça/Hermínio B. Carvalho)
Alvorada lá no morro, que beleza
Ninguém chora, não há tristeza
Ninguém sente dissabor
O sol colorindo é tão lindo, é tão lindo
E a natureza sorrindo, tingindo, tingindo
Você também me lembra a alvorada
Quando chega iluminando
Meus caminhos tão sem vida
E o que me resta é bem pouco
Ou quase nada, do que ir assim, vagando
Nesta estrada perdida.
Nenhum comentário:
Postar um comentário