Rá! Rai!... Segura mariba!... Gente boa do samba, o dia de hoje marca a passagem do aniversário de um dos grandes interpretes de escola de samba do Rio de Janeiro, o qual infelizmente não se encontra mais entre nós, mas que provavelmente deve estar desfilando seu talento numa divina passarela de samba, o grande Aroldo Melodia ou Aroldo Forde, como foi registrado, nascido na Ilha do Governador, no bairro da Cacúia, na Zona norte do Rio de Janeiro no dia19 de abril de 1930.
Cantor e Compositor, filho de uma doméstica e de um estivador, foi por 36 anos intérprete da União da Ilha. Pai de sete filhos, dentre eles, o também puxador de escola de samba e compositor Ito Melodia, fundou, com seus parceiros Ademar e Nelson Pequenininho, o bloco Paraíso Tropical que desfilava no bairro Cacuia.
Ganhou o apelido de Aroldo Melodia, devido à sua afinação e graças ao vozeirão e a pecha de compositor moldada nas rodas de samba e gafieiras da Ilha do Governador, tendo passado por diversos blocos carnavalescos do outro lado da Baía de Guanabara (Guerreiros da Ilha, Boi da Ilha) até chegar em 1958 à União da Ilha do Governador na época em que desfilava na Praça XI, a convite do presidente da escola Paulo Amargoso, onde ficou por 36 anos.
Aroldo Melodia foi um dos protagonistas da projeção e da fase áurea que a escola tricolor teve, da segunda metade dos anos 70 até a primeira metade da década de 80, quando consagrou o estilo bom, bonito e barato de fazer carnaval, apesar de nunca ter conquistado um título no Grupo Especial. Foi responsável por instituir os hoje obrigatórios gritos de empolgação tanto para a escola que desfila (Vamos lá, bateria! Gira minhas baianas!) quanto para o povo que assiste (Canta meu povo!), tendo de passagem importantíssima na história da União da Ilha, onde foi muito importante para a história da agremiação, como no ano de 1974, quando a tricolor insulana subiu para o Grupo Especial com o samba "Lendas e Festas das Yabás".
Compôs, ao lado de Leôncio Silva, o samba-enredo em homenagem à União da Ilha do Governador "Azul, Vermelho e Branco", em 1974. Defendeu pela escola na avenida o excelente samba-enredo "Domingo" que levou a União da Ilha ao terceiro lugar, em 1977, antológico, aliás, e que garantiu o prêmio Estandarte de Ouro como melhor samba-enredo e melhor escola. Aos gritos de "já ganhou" este desfile foi inesquecível e assim sempre será para os amantes do Carnaval.
No ano seguinte, levou a união ao quarto lugar com "O Amanhã", samba muito conhecido e cantado até hoje inclusive por outras escolas de samba, nos dias de ensaios nas quadras.
Em 1982 ele cantou como ninguém o inesquecível samba "É hoje", cuja letra é uma das mais regravadas do mundo do samba.
Aroldo passou também por outras escolas como a Mocidade Independente de Padre Miguel, em 1984; Acadêmicos de Santa Cruz, em 1985 e 1986, quando foi contemplado com um Estandarte de Ouro de melhor puxador; Unidos da Ponte, em 1989 e 1990; Caprichosos de Pilares, em 1990, com passagem até na pequena Camisolão, de Niterói.
Gravou o samba "Moça Bonita", que compôs em parceria com L. Harmonia, Zezé e Clebinho, seu filho, inspirado em uma menina que estava sempre nos mesmos eventos em que ia.
Retornando a Ilha, no ano de 1991, a voz do mestre se fez ecoar com os versos: "Hoje eu vou tomar um porre, não me socorre, que eu tô feliz", quando a agremiação homenageou Didi, compositor que venceu 22 disputas de samba-enredo.
Aroldo cantou na Sapucaí em 1995, ano que foi sua despedida, no enredo “Todo Dia é Dia de Índio”, encerrando sua carreira no ano seguinte quando sua trajetória foi interrompida devido a um derrame sofrido logo após o carnaval, o que obrigou o velho intérprete a andar de cadeira de rodas e se afastar do microfone no desfile principal. Seu último registro fonográfico está presente no CD do Grupo de Acesso de 2006, em que gravou, com Rixxa, a faixa da escola de samba Flor da Idade.
Conhecido por seu famoso grito: "Segura a marimba!", foi homenageado no enredo da Lins Imperial em 2003, intitulado "Segura marimba, Aroldo Melodia vem aí!”.
Aroldo faleceu em 2 de julho de 2008, aos 78 anos de idade, vítima de falência múltipla dos órgãos causadas por insuficiência cardíaca e respiratória. Seu estilo deixou diversos discípulos, entre eles, seu filho Ito, que começou como apoio de seu próprio pai.
União da Ilha 1978 - O Amanhã
(João Sérgio)
(João Sérgio)
A cigana leu o meu destino, eu sonhei
Bola de cristal, jogo de búzios, cartomante
Eu sempre perguntei
O que será o amanhã?
Como vai ser o meu destino?
Já desfolhei o mal-me-quer
Primeiro amor de um menino
E vai chegando o amanhecer
Leio a mensagem zodiacal
E o realejo diz que eu serei feliz
Como será o amanhã?
Responda quem puder
O que irá me acontecer?
O meu destino será como Deus quiser
União da Ilha 1982 - É Hoje
(Didi / Mestrinho)
(Didi / Mestrinho)
A minha alegria atravessou o mar e ancorou na passarela
Fez um desembarque fascinante no maior show da Terra
Será que eu serei o dono desta festa
Um rei no meio de uma gente tão modesta
Eu vim descendo a serra cheio de euforia para desfilar
O mundo inteiro espera, hoje é dia do riso chorar
Levei o meu samba pra mãe-de-santo rezar
Contra o mau olhado carrego o meu Patuá
Acredito ser o mais valente nesta luta do rochedo com o mar
É hoje o dia da alegria e a tristeza nem pode pensar em chegar
Diga espelho meu se há na avenida alguém mais feliz que eu
União da Ilha 1991 - De Bar em Bar, Didi Um Poeta
(Franco)
Hoje eu vou tomar um porre, não me socorre que eu tô feliz
Nessa eu vou de bar em bar beber a vida que eu sempre quis
E no bar da ilusão eu chego, é pura paixão que eu bebo
Amor me deseja, me dá um chamego, me beija e faz um cafuné
Bebo vem e bebo vai que nem maré, balança mas não cai, boêmio é
Garçom, garçom, bota uma cerva bem gelada aqui na mesa
Que bom, que bom, minha alegria deu um porre na tristeza
Poeta enredo da canção, cartilha que eu aprendi
Canta a Ilha a emoção, saudade de você, Didi
Amor, amor, eu vou, é nessa aqui que eu vou
O sol vai renascer do meu astral
Amor, amor, eu vou, ô esquindô, esquindô
Num gole eu faço um carnaval
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