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26 de abril de 2012

Jair do Cavaquinho.

Hoje completaria 90 de vida um dos grandes nomes do samba portelense, o compositor, cantor e instrumentista, Seu Jair do Cavaquinho ou Jahir de Araújo Costa, como foi registrado, nascido no dia 26 de abril de 1922 na cidade do Rio de Janeiro.
Criado no subúrbio de Madureira, desde criança freqüentava a Escola de Samba Portela, chegando a ser seu primeiro mascote e sócio número 1 da escola. Com sete anos participava dos ensaios da escola, levado pela mãe, ou pelas irmãs mais velhas, que saíam na Ala das Baianas.
Autodidata, aprendeu a tocar em um instrumento fabricado por ele mesmo, enfileirando quatro cordas de arame em um pedaço de pau. Quando a mãe pedia para comprar pão, Jair esquecia-se de voltar e ficava observando os mais velhos tocando na antiga quadra da Portela. Reza a lenda que foi excelente jogador de futebol, chegando a ser reserva de Jair da Rosa, na época famoso jogador do Madureira Atlético Clube. Paulinho da Viola se referia a ele como um dos melhores cozinheiros e um exímio sapateador, de espírito dos mais irreverentes. Trabalhou como contínuo na Secretaria de Viação e Obras, tendo como chefe o avô de Marisa Monte.
Uma de suas paixões sempre foi a Portela, da qual faz parte da Velha-Guarda, criada em 1970 por Paulinho da Viola. Durante algum tempo ficou conhecido como Jair do Tamborim, por tocar o instrumento na bateria da escola, mas depois quando começou a compor com o cavaquinho, seu nome ficou relacionado a este instrumento e tamanha era sua qualidade que Jacob do Bandolim o considerava "a maior paleta de cavaco no samba".
Nelson Cavaquinho, além de parceiro, era também um grande amigo, e dele Jair disse certa vez: "O Nelson chegava e pedia pra eu fazer a 2º parte do samba, o casamento de muitas dessas letras e músicas resultou em nossos peitos aliviados, na volta por cima. No fundo todos ganhamos o orvalho e a madrugada de presente".
No início da década de 1960 era freqüentador assíduo do Zicartola - bar de Cartola e Dona Zica, reduto do samba tipicamente carioca, que recebia artistas, pesquisadores, intelectuais e principalmente sambistas novos e antigos. Em 1962, sua composição "Barracão de Zinco" foi gravada por Jamelão. Sobre esta música, aliás, o próprio Jair afirmou em depoimento à uma revista que na primeira vez em que foi receber os direitos autorais desta música, entrou em casa com TV, geladeira, saco de feijão, saco de arroz, daí disse a si mesmo: “o negócio é fazer samba". Por essa época, ao lado de Mauro Duarte, entre outros, participou do espetáculo "A Hora e a Vez do Samba". Em 1965, suas composições "Vou Partir" (c/ Nelson Cavaquinho), "Meu Viver" (c/ Elton Medeiros e Kléber Santos), "Ela Deixou" (c/ Nelson Sargento) e "Pecadora" (c/ Joãozinho), foram incluídas no LP de Elizete Cardoso, "Elizete Sobe o Morro". Neste mesmo ano participou com Paulinho da Viola, Elton Medeiros, Nelson Sargento e Anescarzinho do Salgueiro, do Musical "Rosa de Ouro", organizado por Hermínio Bello de Carvalho e Kléber Santos que, na ocasião, relançou Araci Cortes e apresentou Clementina de Jesus, tendo sido lançado no mesmo ano, o disco com o mesmo, no qual figurou sua música "Sonho Triste", responsável pelo primeiro registro da voz de Paulinho da Viola, que cantava a 2º parte deste samba no LP.
Participou do conjunto A Voz do Morro ao lado de Zé Kéti, Oscar Bigode, José Cruz, Nelson Sargento, Paulinho da Viola, Anescarzinho do Salgueiro e Elton Medeiros, gravando o LP "Roda de Samba", que incluíu sua música "Pecadora", em parceria com Joãozinho - mais tarde conhecido como Joãozinho da Pecadora.
No ano de 1966 no LP "Roda de Samba 2", do grupo A Voz do Morro, foram incluídas outras composições de sua autoria. No ano de 1967, sua composição "E a Rosa Voltou" foi gravada no LP "Rosa de Ouro - Volume II" e neste mesmo ano, passou a integrar o grupo Os Cinco Crioulos, ao lado de Paulinho da Viola, Elton Medeiros, Anescarzinho do Salgueiro e Nelson Sargento, sendo que com a saída de Paulinho da Viola, o grupo ganhou um novo integrante, Mauro Duarte, tendo o grupo lançado, entre os anos de 1967 e 1969, três discos. No ano de 1968, ao lado de Zuzuca do Salgueiro, Wilson Moreira, Zito e Velha, formou o grupo Os Cinco Só e no mesmo ano, integrando o conjunto Rosa de Ouro, participou do show "Mudando de Conversa" juntamente com Clementina de Jesus, Cyro Monteiro e Nora Ney.
Em 1969, seu samba-enredo "Treze Naus" classificou a Portela em 3º lugar do Grupo 1 no desfile daquele ano. No ano seguinte, Elizete Cardoso gravou, de sua autoria "Você Foi Um Atraso Em Meu Caminho", parceria com Picolino da Portela. Na década de 1970, ao lado de Osvaldinho da Cuíca e Osmar do Cavaco, formou o Trio Canela. Em 1977 sua composição "Deus dá a farinha e o diabo rasga o saco" (c/ Velha), foi interpretada pelo parceiro no disco "Partido em 5 - Volume 3". Em 1988 o japonês Katsonuri Tanaka produziu o disco "Velha-Guarda da Portela: Homenagem a Paulo da Portela", do qual Jair participou como integrante da Velha-Guarda da Portela. Entrevistado por uma revista sobre o processo de criação, afirmou: "A música é trato de momento, vem entrando na mente, tem que bancar o bicheiro, sempre ter um papelzinho no bolso. Vem o início, dar continuidade é mais fácil. Viajando de ônibus ou avião, pela janela olhando a paisagem, vem aquela iluminação".
Sobre ele ainda foi dito certa vez por Tárik de Souza, num depoimento ao Jornal do Brasil por ocasião do show "Jair do Cavaquinho 80 anos": "Jair do Cavaquinho é desses sambistas muito discretos.Tem músicas importantes que fez em parceria com Nelson Cavaquinho, como "Vou Partir" e "Eu e as Flores", que viraram sucessos de Nelson. Nelson Cavaquinho foi muito famoso e muitas vezes seus parceiros ficavam na obscuridade. Jair do Cavaquinho foi um deles. Jacob do Bandolim, que sempre foi muito rígido, rasgava elogios à forma como ele tocava o instrumento. Puro talento. Engraxate, Jair aprendeu a tocar cavaquinho vendo os outros tocarem. Trata-se de um músico e um compositor muito importante".
No ano 2000, participou com a Velha-Guarda da Portela do CD "Tudo Azul" produzido por Marisa Monte e neste mesmo ano, Marquinhos de Oswaldo Cruz, interpretou de sua autoria "Enquanto a cidade dorme", parceria com Nelson Cavaquinho. Ainda em 2000, participou do disco "A Música Brasileira Deste Século Por Seus Autores e Intérpretes - Paulinho da Viola e os Quatro Crioulos", CD no qual foram reunidos os integrantes do grupo Os Cinco Crioulos em um show gravado em julho de 1990, no programa "Ensaio", que teve como convidado Paulinho da Viola e para surpresa de Jair, também contou com os outros integrantes: Anescarzinho do Salgueiro, Jair do Cavaquinho, Elton Medeiros e Nelson Sargento, em uma homenagem aos 25 anos do antológico show "Rosa de Ouro". O disco foi gravado ao vivo, com conversas e ainda execução de composições da época, entre elas "Quatro Crioulos" (Joacir Santana e Elton Medeiros), "Água de Rio" (Anescarzinho e Noel Rosa de Oliveira), "O Sol Nascerá" (Cartola e Elton Medeiros), "No Meu Barraco de Zinco" (Jair do Cavaquinho e Jamelão), "Agoniza Mas Não Morre" (Nelson Sargento), "Cântico à Natureza" (Alfredo Português, Jamelão e Nelson Sargento), "Pecadora" (Jair do Cavaquinho e Joãozinho da Pecadora) e "Rosa de Ouro", de Paulinho da Viola, Elton Medeiros e Hermínio Bello de Carvalho.
Em 2001, ao lado de Dauro do Salgueiro, Nei Lopes, Nélson Sargento, Dona Ivone Lara, Baianinho, Niltinho Tristeza, Casquinha, Zé Luiz, Nilton Campolino, Monarco, Elton Medeiros, Luiz Grande, Jurandir da Mangueira e Aluízio Machado, participou do show "Meninos do Rio", que acabou se tornando um CD lançado no mesmo ano. No ano de 2002, Marisa Monte, lançou o CD "Seu Jair do Cavaquinho", disco no qual contou com a participação especial de Argemiro da Portela. Neste CD, produzido por Pedro Amorim, interpretou de sua autoria "Doce de Feira" (c/ Altayr Costa), "Eu e As Rosas", "Cabelos Brancos", "Acorda, Negro Velho", "Soltaram Minha Boiada" e "Adeus Palhaço", entre outras. Em 2005 participou do documentário "Da Terra", de Janaína Diniz Guerra, trabalho sobre o sapateado brasileiro que incluiu também o "miudinho", dança na qual Jair do Cavaquinho foi considerado mestre desde a infância e no mesmo ano apresentou-se no Rio de Janeiro, comemorando seu aniversário de 85 anos.
Entre seus parceiros estão Nelson Cavaquinho, com quem compôs "Vou Partir" e "Enquanto a Cidade Não Dorme", esta gravada por Haroldo Santos. Duas de suas composições mais conhecidas estão "Tudo em Vão", gravada por Nara Leão e "Fim do Nosso Amor", gravada por Norimar. Compôs com Zé Kéti a música "Maria" e entre suas composições preferidas está "Ana", gravada por Zuzuca do Salgueiro.
Seu Jair do cavaquinho morreu no dia 06 de abril de 2006 em sua cidade natal, deixando, além de muitas saudades em quem o conheceu, um lindo cartel de composições de extrema qualidade para o mundo do samba.
 
 Vou Partir
(Nelson Cavaquinho / Jair do Cavaquinho)

Vou partir não sei se voltarei...
Tu não me queiras mal, hoje é carnaval.
Partirei para bem longe
Não precisas te preocupar
Só voltarei pra casa quando o carnaval acabar

Vou partir não sei se voltarei...
Tu não me queiras mal, hoje é carnaval.

 Pecadora
(Jair do Cavaquinho / Joãozinho da Pecadora)

Vai pecadora arrependida
Vai tratar da sua vida, por favor, me deixe em paz.
Me deste um grande desgosto, eu não quero ver teu rosto
Palavra de rei não volta atrás
Eu quero um amor perfeito, pra aliviar meu peito
Que por ti já padeceu demais... Demais, demais
Eu quero um amor perfeito, pra aliviar meu peito
Que por ti já padeceu demais
Agora tens o mundo aos teus pés pra caminhar
Se eu cansei de sofrer, cansaste de errar
Eu plantei flor, colhi espinho
Mas agora arranjei outra para me fazer carinho.

Maria
(Jair do Cavaquinho / Zé Kéti)

Saia do meu caminho, eu não lhe quero mais
Aonde eu vou, Maria vai atrás,
Aonde eu vou Maria vai atrás.
Saia do meu caminho.

Eu já lhe disse,
Saia do meu caminho,
É preferível eu viver sozinho,
Saia do meu caminho.

Saia do meu caminho, eu não lhe quero mais
Aonde eu vou, Maria vai atrás,
Aonde eu vou Maria vai atrás.
Saia do meu caminho.

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A Ala de Compositores da Faculdade do Samba Dragão Imperial possui cerca de 40 membros, dos quais grande parte todos os anos escrevem e participam do concurso da escolha do samba enredo da Azul e Rosa. Os Poetas Imperiais, como também são denominados, realizam rodas de samba semanais nas quais relembram sambas de diversos ícones desse ritmo brasileiro, com um tempêro todo seu na "quase famosa" Panela Imperial, que inclusive já se apresentou em algumas cidades, como Serra Negra, além da sua Bragança Paulista. Esse blog é um veículo para a divulgação das atividades da Ala, de dados culturais relativos ao samba, além de ser um espaço para que nossos compositores divulguem suas letras, os áudios de seus sambas, postem fotos de eventos realizados e muito mais...

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