Hoje aniversaria um ilustre e excelente compositor, que juntamente com Adoniran Barbosa é reconhecido como um grande nome do samba paulista.
Paulo Emílio Vanzolini, ou somente Paulo Vanzolini como assina suas obras, nasceu no dia 25 de abril de 1924 na cidade de São Paulo. Filho do engenheiro Alberto Vanzolini, aos quatro anos mudou-se com a família para o Rio de Janeiro. Durante os dois anos em que passou a infância no Rio, começou a tomar gosto pelos programas musicais que ouvia no rádio. De volta a São Paulo em 1930, cursou o primário no Colégio Rio Branco e fez o ginásio numa escola publica, terminando o curso em 1938.
A paixão pelo samba surgiu desde que tinha dez anos de idade quando gostava de ir aos bailes na sede de um clube perto de sua casa e por lá se sentava ao lado da orquestra, somente para ouvir música. Na adolescência começou a freqüentar rodas de malandros, cultivando desde então uma combinação peculiar entre a boemia e a paixão pelos estudos, sendo que um grande interesse por zoologia de vertebrados levou-o a cursar a Faculdade de Medicina passando então a freqüentar as rodas boêmias de estudantes e a compor seus primeiros sambas. Tendo se diplomado em 1947, foi para os EUA, onde se doutorou em zoologia, na Universidade de Harvard, posteriormente retornando ao Brasil. Antes, entre 1944 e 1945 foi servir o exército no quartel do Ibirapuera, na Cavalaria, apesar das cicatrizes na perna em conseqüência das operações sofridas na adolescência por um grave problema nos ossos, mas por essa época, já estava cansado de ser tratado pela família como um rapaz doente.
Um primo seu, Henrique Lobo vindo a ser locutor da Rádio América, o convidou para trabalhar num programa apresentado pela atriz Cacilda Becker, com quem o Paulo Vanzolini fez amizade. Esse trabalho lhe permitiu realizar o desejo antigo de sair da casa dos pais e ganhar a vida com seu próprio sustento, indo morar num apartamento no famoso Edifício Martinelli, onde estreitou os laços com a boemia. No prédio, havia até um táxi-dancing, que Vanzolini e os amigos freqüentavam de graça, fazendo amizade com os músicos e com as dançarinas. Em 1951, compôs o samba Ronda, que inicialmente, porém, não obteve maior repercussão, lançado por Inezita Barroso, só fazendo sucesso real nos anos 60, graças à gravação da cantora Márcia, voltando depois às paradas na voz de Maria Bethânia, que o regravou em 1978. Ainda em 51, Vanzolini lançou um livro de poemas, sob o título "Lira". Em 1953 foi convidado a trabalhar na TV Record, de São Paulo, produzindo os programas de Araci de Almeida. Mais tarde, em 1959, ofereceu seu samba Volta Por Cima à cantora Inezita Barroso, que não quis gravá-lo. Por influência de um amigo, voltou a mostrar o mesmo samba ao cantor Noite Ilustrada, que o lançou em 1963 com grande sucesso.
Tornou-se diretor do Museu de Zoologia da Universidade de São Paulo e continuou acumulando composições inéditas, conhecidas apenas por restrito grupo de boêmios, principalmente os freqüentadores da boate Jogral, onde costumava cantar. Em novembro de 1967, seus amigos Luís Carlos Paraná e Marcus Pereira resolveram produzir o LP – 11 Sambas e Uma Capoeira – com músicas de Vanzolini interpretadas por vários cantores, entre os quais o próprio Paraná (Capoeira do Arnaldo), Chico Buarque (Praça Clóvis e Samba Erudito), Cristina Buarque (Chorava no Meio da Rua) e Adauto Santos (Cravo Branco).
No ano seguinte, com Toquinho, seu único parceiro, inscreveu a música Na boca da noite no II Festival Internacional da Canção, da TV Globo, vencendo a parte paulista do concurso. Com Toquinho compôs, ainda, Boba e Noite Longa, ambas em 1969, entretanto, só teve novas músicas gravadas em 1974, ano em que a cantora Cristina lançou Cara Limpa e Marcus Pereira, editou um segundo LP de Paulo – A música de Paulo Vanzolini – com músicas interpretadas por Carmen Costa e Paulo Marques, entre elas Mulher Que Não da Samba, Falta de Mim, Teima Quem Quer. Em 1981 lançou o Paulo Vanzolini Por Ele Mesmo, onde o próprio Paulo interpreta suas canções. Em 1997 foi homenageado, na USP, com um show em que foi apresentada uma nova música sua, Quando Eu For, Eu Vou Sem Pena.
Fontes: dicionariompb.com.br, wikipedia, mpbnet.com.br e cliquemusic.uol.com.br.
Volta Por Cima
(Paulo Vanzolini)
Chorei, não procurei esconder
Todos viram, fingiram, pena de mim, não precisava
Ali onde eu chorei qualquer um chorava
Dar a volta por cima que eu dei quero ver quem dava
Um homem de moral não fica no chão
Nem quer que mulher venha lhe dar a mão
Reconhece a queda e não desanima
Levanta, sacode a poeira e dá a volta por cima
Juízo Final
(Paulo Vanzolini)
No último dia da vida, encontrei-me com os meus pecados
Uns maiores, outros menores, mas no geral bem pesados
Do outro lado somente a ingratidão que sofri
O anjo pôs na balança e vestido de branco eu subi.
Agora só toco harpa de camisola e sandália
Espio pra ver lá embaixo a quadrilha da fornalha
Aquela ingrata hoje está trabalhando de salsicha
Espetadinha no garfo Satanás fritando a bicha (Ô demônio: capricha!)
Samba Erudito
(Paulo Vanzolini)
Andei sobre as águas como São Pedro
Como Santos Dumont fui aos ares sem medo
Fui ao fundo do mar como o velho Picard
Só pra me exibir, só pra te impressionar
Fiz uma poesia como Olavo Bilac
Soltei filipeta pra ter dar um Cadillac
Mas você nem ligou para tanta proeza
Põe um preço tão alto na sua beleza
E então, como Churchill eu tentei outra vez
Você foi demais pra paciência do inglês
Aí, me curvei ante a força dos fatos
Lavei minhas mãos como Pôncio Pilatos
Praça Clóvis
(Paulo Vanzolini)
Na Praça Clóvis minha carteira foi batida
Tinha vinte e cinco cruzeiros e o teu retrato
Vinte e cinco, eu, francamente, achei barato
Pra me livrarem do meu atraso de vida
Eu já devia ter rasgado e não podia
Esse retrato cujo olhar me maltratava e perseguia
Um dia veio o lanceiro naquele aperto da praça
Vinte e cinco, francamente, foi de graça
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