Recentemente numa dessas nossas conversas entre componentes da ala de compositores, surgiu o assunto sobre o começo da nossa escola, suas origens, desde a idéia dos integrantes da Fanfacali em montar um bloco carnavalesco, com o intuito inicial de manter próximos os membros da fanfarra, passando pelos ensaios até chegar a grande Família que hoje nos tornamos. Particularmente me instigou a recordação dos ensaios que eram feitos na Rua Candido Fontoura da Silveira – conhecida também por Rua do Morro da Balança, próximo ao cruzamento com a Avenida Jose Gomes da Rocha Leal – muito antigamente chamada de Avenida Circular, num ponto que fica entre o prédio que antigamente abrigava a Escola Estadual Cásper Líbero e onde agora é a Delegacia de Ensino da cidade, e esse no qual hoje se encontra abrigada a escola estadual. Apesar de não freqüentar desde os anos iniciais, já que o bloco foi fundado em 1983 e eu só comecei a participar em 1986, me lembro bem que os ensaios eram feitos ali na rua, próximo a esquina, já que não possuíamos um outro local mais adequado, até pelo fato de sermos então, apenas um jovem bloco carnavalesco em seus primeiros passos no carnaval bragantino. Os instrumentos da bateria, bem como a aparelhagem, ficavam todos guardados num quartinho que a fanfarra tinha no prédio do antigo Cásper. Todo dia de ensaio era a mesma trabalheira por parte de muitos de nós: carregar mesa e caixas de som para serem montados e ligados junto a um desses palanques feitos em estrutura de aço que a Prefeitura Municipal cede para eventos na cidade. Os surdos, caixas, taróis, repeniques eram retirados no quartinho pelos integrantes da bateria, que tinham, quase que sempre, serem praticamente recolhidos do Bar do Seu Fujita, que funcionava ao lado. Certo que uns ia lá por causa da cervejinha bem gelada, enquanto que outros tinham como interesse as jovens e belas filhas que ajudavam o Seu Fujita no atendimento, mas como tinha que ter ensaio ia todo mundo para o batuque. O ensaio era gostoso, a bateria iniciava o andamento, depois parava e um surdo iniciava a marcação para que um intérprete da escola cantasse um samba, muitos das escolas de samba do Rio de Janeiro, isso muito raramente acompanhado por um cavaquinho, que aparecia bem mais nos ensaios finais, com os acordes do samba a ser cantado na avenida. Quando chovia era um corre-corre, um Deus nos acuda pra carregar aparelhagem e instrumental de volta para o quartinho, o que somente não acontecia nos dias que o Cléber teimava em ensaiar mesmo com a chuva, sob a alegação de que se chovesse no dia do desfile era pra gente se acostumar, e assim, embora muitos não concordassem, ficava a bateria ali ensaiando, mas pra não passar uma imagem de rabugento dele, lembro que a gente só ensaiava desse modo quando a chuva era mais amena. Nossos ensaios cresciam com a proximidade do dia do desfile e muita gente de fato comparecia, ou por simpatia pela escola, ou por curiosidade ou alguns talvez porque não tinham nada de mais interessante que fazer em casa, mas o fato é que os freqüentadores aumentavam a cada ano e isso colaborou em muito no crescimento da escola, tanto que depois tivemos que sair dali e procurar espaços mais apropriados.
Bem, essa lembrança me faz também parar para pensar nos raros momentos, em verdade, que esse crescimento acaba por confundir o sentimento de alguns novos ou velhos integrantes da escola, fazendo com que certa soberba sufoque a maior e mais importante essência que nossa escola carrega e que formou a base firme e forte de sua estrutura que é a humildade com a qual sempre trabalhamos. Pensando nisso escrevi um samba simples e sincero, com um final não em forma de crítica, mas apenas uma citação para que os mais antigos se recordem e os mais jovens conheçam mais do nosso começo. Espero que a letra seja bem compreendida e que em breve possamos disponibilizar o áudio junto ao nosso blog.
L.C.Genardão
O ENSAIO
Saudade bateu forte no meu peito
Pra lembrar um tempo que não vai voltar
Lembrei de uns dias de janeiro e fevereiro
Ainda jovem batuqueiro, numa esquina da Av. Circular.
Junto a um palanque que vinha da prefeitura
Nosso ensaio era na rua, era a nossa opção.
Um cavaquinho não se ouvia todo dia,
Mesmo assim a bateria dava conta do refrão
E no intervalo todos lá pro Seu Fujita,
Uns pra paquerar as filhas, outros de copo na mão.
Quando chovia, era aquela correria,
Pra levar a aparelhagem pro quarto da bateria
Isso se o Cleber não teimasse em ensaiar
Mesmo embaixo de chuva, pra gente se acostumar.
Quando o dia do desfile ia chegando
Nosso ensaio ia aumentando, muita gente ia pra ver,
Aquele bloco, que era então uma promessa,
E que crescido virou esta grande escola de valor,
Que caminhou, procurou outros lugares,
Novos rumos, novos ares, mas sabe onde começou.
Só quem viveu, sabe o que é esta saudade,
Mas fica a curiosidade a quem queira imaginar.
Por isso quando essa tal da vaidade,
Por soberba, a humildade, tente às vezes sufocar,
Peço que pensem no começo dessa lida,
Nos ensaios lá na esquina da Av. Circular.
Nenhum comentário:
Postar um comentário