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17 de maio de 2012

João da Baiana.

O dia de hoje marca a data de nascimento de um dos nomes mais importantes da história do samba, principalmente em seus primeiros passos, o fantástico João da Baiana.
João Machado Guedes, nasceu no dia 17 de maio de 1.887 Rio de Janeiro. Compositor e pandeirista, filho de Félix José Guedes e Perciliana Maria Constança. Seus avós, ex-escravos tinham uma quitanda de artigos afro-brasileiros no Largo da Sé. Sua mãe, conhecida pelo nome de Tia Perciliana, era baiana, donde surgiu seu apelido, João da Baiana, para distingui-lo de outros Joões do bairro. Foi criado na Rua Senador Pompeu, no bairro da Cidade Nova, onde tomou lições de cartilha. Na infância, teve como companheiros os futuros compositores Donga e Heitor dos Prazeres. Seus pais constantemente promoviam festas de candomblé, para as quais deviam tirar licença com o chefe de polícia, pois na época o samba, a batucada e o candomblé eram manifestações proibidas. Sua mãe teve 12 filhos, todos baianos, exceto ele. Um de seus irmãos era palhaço de circo e tocava violão e cavaquinho. Uma de suas irmãs tocava violino. Começou a compor sambas desde garoto. Sua mãe apreciava os dotes do menino para a batucada, o candomblé e a macumba, dotes que o destacavam de seus irmãos. Iniciou-se no pandeiro, instrumento para o qual tinha grande aptidão.

Em seu depoimento ao Museu da Imagem e do Som, que abriu em 1966 o ciclo de depoimentos para a posteridade, de larga repercussão no Rio e em todo o país, disse que sempre se dedicou ao pandeiro porque tinha amor ao ritmo e que sempre que os garotos da rua formavam uma roda de samba era ele quem tocava melhor o pandeiro. Ainda menino, trabalhou no circo como chefe da claque dos garotos que respondiam ao "Hoje tem marmelada ? Tem sim senhor". Por essa época, passou a se dedicar à pintura, uma grande paixão do compositor. Aos nove anos, ingressou como aprendiz no Arsenal da Marinha. Deu baixa três anos mais tarde, passando então a trabalhar no 2º Batalhão de Artilharia, como ajudante de cocheiro sob o comando de Hermes da Fonseca, futuro Marechal e Presidente da República. Em 1908, quando se apresentava na tradicional Festa da Penha, teve seu pandeiro apreendido pela polícia. O senador Pinheiro Machado, que era seu admirador e que freqüentemente promovia festas em "seu" palácio no Morro da Graça, o convidou para uma dessas festas e como ele não apareceu, quis saber o porque. Ao saber que o instrumentista tivera seu pandeiro apreendido, resolveu presenteá-lo com um novo padeiro, que trazia a seguinte inscrição: "Com a minha admiração, ao João da Baiana - Pinheiro Machado". Com essa dedicatória do senador, pode voltar por diversas vezes à Festa da Penha, como integrante do Grupo do Malaquias, sem que a polícia fosse atormentá-lo. Em 1910, passou a trabalhar no Cais do Porto, sendo promovido a fiscal, em 1920.

Por esse motivo, não acompanhou "Os Oito Batutas" à Paris, pois não queria trocar seu emprego certo pela aventura. Aposentou-se em 1949. Casou-se e teve dois filhos que morreram ainda na infância. Em 1972, foi recolhido à Casa dos Artistas, em Jacarepaguá, onde morreu dois anos depois.
Foi o responsável pela introdução do pandeiro no samba, o qual, segundo ele, na época era só usado em orquestras, isto mais ou menos quando tinha oito anos de idade e era Porta-Machado no "Dois de Ouro" e no "Pedra do Sal", até então nas agremiações só se tinha tamborim, assim mesmo eram tamborins grandes e de cabo, sendo que o pandeiro não era igual ao atual, sendo o da época bem maior".
Em 1924, compôs com Donga e Pixinguinha o samba "Mulher Cruel". Em 1928, ingressou no rádio como ritmista, tocando pandeiro, prato e faca, tendo atuado nas Rádios Cajuti, Transmissora, Educadora e Philips. Em 1930, teve o samba "Pelo Amor da Mulata", sua primeira composição, feita sete anos antes, gravado por Patrício Teixeira, que gravou também no mesmo ano o samba "O Futuro é Uma Caveira". Em 1931, passou a integrar o "Grupo da Guarda Velha", conjunto organizado por Pixinguinha que reuniu alguns dos maiores instrumentistas brasileiros da época. Realizaram quatro gravações, acompanhando também grandes cantores como Carmen Miranda, Sílvio Caldas, Mário Reis, Jonjoca e Castro Barbosa, entre outros. O primeiro disco da Guarda Velha, gravado em dezembro daquele ano, trazia o partido alto "Há! Hu! Lahô" e a chula raiada "Patrão Prenda Seu Gado", as duas de sua parceria com Pixinguinha e Donga. Ainda no mesmo ano, gravou o samba "Viva Meu Orixá", no lado B de um disco que trazia no lado A, o cantor Francsico Sena interpretando, de sua autoria o samba "Convencida".
Em 1932, Patrício Teixeira gravou os sambas "Quem Faz a Deus Paga ao Diabo", "Cabide de Molambo" e "Ai, Zezé", este uma parceria dos dois. A respeito do samba "Cabide de Molambo", afirmou em depoimento: "Eu acho que este samba inspirou o Noel Rosa a fazer o "Com Que Roupa".
No mesmo ano, outras duas parcerias com Donga e Pixinguinha, a batucada "Já Andei" e a macumba "Que Queré", foram gravadas pelo Grupo da Guarda Velha, com Zaíra de Oliveira e Francisco Sena. Ainda em 1932, o cantor Francisco Sena lançou a batucada "Vi o Pombo Gemê" e a macumba "Xou Coringa". Atuou em vários conjuntos entre os quais o "Grupo do Malaquias", o "Grupo do Louro", o "Conjunto dos Moles" e o conjunto "Alfredinho no Choro". Em fins de 1932, Pixinguinha a orquestra "Diabos do Céu", com alguns dos integrantes do Grupo da Guarda Velha, grupo que estreou em disco acompanhando Carmen Miranda na gravação de "Etc", samba de Assis Valente.
Conhecedor do candomblé, gravou diversas corimbás, com algumas palavras em dialeto africano, cantadas no início das sessões de candomblé. Em 1936, seu samba "Seu Pai Não Quer" foi gravado por Castro Barbosa. Em 1937, Pixinguinha reuniu quatro músicos, Tute (violão de sete cordas), Luperce Miranda (cavaquinho), Valeriano (violão de seis cordas) e João da Baiana (pandeiro), formando o conjunto "Os Cinco Companheiros", que atuou com Vicente Celestino e Gilda de Abreu.
Em 1938, gravou com seu conjunto as macumbas "Sereia" e "Folha por Folha", parcerias com Getúlio Marinho. No ano de 1940, Leopoldo Stokowski solicitou a Villa-Lobos que selecionasse e reunisse os mais representativos artistas de Música Popular Brasileira, para gravação de músicas destinadas ao Congresso Pan-Americano de Folclore. Villa-Lobos incluiu no grupo escolhido a nata dos verdadeiros criadores nacionais de música: Pixinguinha, Cartola, Donga, João da Baiana e Zé Espinguela. As gravações realizaram-se na noite de 7 para 8 de agosto de 1940, a bordo do navio Uruguai atracado no Armazém 4. Foram registradas 40 músicas e apenas 16 chegaram ao disco, reproduzidas nos Estados Unidos em dois álbuns de quatro fonogramas cada um, sob o título "Columbia Presents - Native Brazilian Music - Leopold Stokowski". Em 1950, seu tema afro-brasileiro "Ogum Nilê", com Raul Carrazatto, foi gravado pelo trio vocal, Trigêmeos Vocalistas.
Em 1952, lançou os ritmos afro brasileiros "Lamento de Inhançã" e "Lamento de Xangô", de sua autoria. Por quatro anos seguidos, gravou anualmente um disco intitulado "João da Baiana No Seu Terreiro", interpretando pontos de macumba de sua autoria. Em 1954, Almirante organizou em São Paulo o I Festival da Velha Guarda, reunindo vários músicos veteranos. No segundo Festival da Velha Guarda, a caravana carioca formou em caráter regular um conjunto denominado Velha Guarda do qual faziam parte, além dele, Pixinguinha, Donga e Alfredinho Flautim, entre outros . Em 1955, o grupo gravou seu primeiro LP "A Velha Guarda" seguido de um outro "Carnaval da Velha Guarda".
Em 1957, lançou com Sussu o LP "Batuques e pontos de macumba", no qual interpretou "Quê, Quê, Rê, Quê, Quê", "O Cachimbo da Vovó", "Nanan Boroque" e "Amalá de Xangô", todos de sua autoria. Em 1966, foi convidado por Ricardo Cravo Albin, depois de seu nome ter sido sufragado pela unanimidade do Conselho Superior de Música Popular Brasileira do Museu da Imagem e do Som, para realizar o primeiro depoimento para a posteridade do M.I.S., que não só abriu o ciclo como também definiria a estrutura principal do museu junto à opinião pública de todo o país. Este seu histórico depoimento obteve grande repercussão na imprensa e deu por inaugurado, junto à mídia, o próprio museu, então desconhecido.

Em 1968, foi lançado o LP "Gente da Antiga", produzido por Hermínio B. de Carvalho, contando além de sua participação, com as de Clementina de Jesus e Pixinguinha. No mesmo ano, lançou na Bienal do Samba da TV Record o samba "Quando a Polícia Chegar", defendido por Clementina de Jesus.
João da Baiana faleceu no dia 12 de janeiro de 1.974. Segundo Ricardo Cravo Albin, foi, além de exímio pandeirista e de uma doce e inesquecível figura humana, um dos grandes ritmistas do prato com faca, habilidade que aprendeu ainda na infância, por influência de uma tradição cultivada na Bahia.

Patrão Prenda Seu Gado
(Donga / Pixinguinha / João da Baiana)

Ô patrão! Ô patrão! Ô patrão, prenda seu gado!
Na lavra tem um ditado, quem mata gado é jurado
Missa de padra é latim, rapaz solteiro é letrado
Em vim preso da Bahia só porque era namorado
Madame Diê, lalá!
Samba ioiô, samba iaiá
Que o dia e vem, doná

Eu bem sei... Eu bem sei... Eu bem sei que fui culpado
De vir preso da Bahia só porque fui namorado
Vou tirar meu passaporte, meu camarote de proa
Eu aqui não vou ficar vou-me embora pra Lisboa
Senhorita vai ver, Doná!
Samba ioiô! Samba iaiá!
Que o dia e vem, doná

Ô, Joana! Ô Maria! Saruê pra que trabalha
No pescoço da cutia, no pavilhão, da atalaia
Era hoje, era ontem, era donte
Era donte, era ontem, era hoje
Sinhazinha mandou me chamá
Corri quatro cantos, balão de iaiá

Batuque na Cozinha
(João da Baiana)

Não moro em casa de cômodo, não é por ter medo não
Na cozinha muita gente sempre dá em alteração
Mas o batuque na cozinha sinhá não quer
Por causa do batuque eu quebrei meu pé

Então não pula na cumbuca, não espanta churrasco
Se o branco tem ciúme que dirá o mulato
Eu fui na cozinha pra vê uma cebola e o branco com ciúme de uma tal criola.
Deixei a cebola, peguei na batata e o branco com ciúme de uma tal mulata
Peguei no balaio pra medir a farinha e o branco com ciúme de uma tal branquinha
Então não pula na cumbuca, não espanta churrasco
Se o branco tem ciúme que dirá o mulato

Batuque na cozinha sinhá não quer
Por causa do batuque eu quebrei meu pé

Voltei na cozinha pra tomar café, malandro ta de olho na minha mulher
Mas comigo eu apelei para a desarmonia e fomos direto para a delegacia
Seu comissário foi dizendo com altivez, é da casa de cômodo da tal Inês
Revista os dois bota no xadrez, malandro comigo não tem vez

Mas o batuque na cozinha sinhá não quer
Por causa do batuque eu quebrei meu pé

Mas Seu comissário estou com a razão, eu não moro na casa de habitação
Eu fui apanhar meu violão, que tava empenhado com Salomão
Eu pago a fiança com satisfação, mas não me bota no xadrez com esse malandrão
Que faltou com respeito ao cidadão, que é Paraíba do Norte Maranhão

Batuque na cozinha sinhá não quer
Por causa do batuque eu quebrei meu pé

Cabide de Molambo
(João da Baiana)

Meu Deus, eu ando com o sapato furado,
Tenho a mania de andar engravatado,
A minha cama é um pedaço de esteira,
E uma lata velha me serve de cadeira.
Minha camisa foi encontrada na praia,
A gravata foi achada na Ilha da Sapucaia,
Meu terno branco parece casca de alho,
Foi a deixa de cadáver, num acidente do trabalho.
O meu chapéu foi de um pobre surdo e mudo,
As botina, foi de um velho, da Revorta de Canudo,
Quando eu saio a passeio, as damas ficam falando,
"Trabalhei tanto na vida, o malandro tá gozando !"
A refeição é que é interessante,
Na tendinha do Tinoco, no pedir eu sou constante,
O Português, meu amigo sem orgulho,
Me sacode um caldo grosso, carregado no entulho.

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A Ala de Compositores da Faculdade do Samba Dragão Imperial possui cerca de 40 membros, dos quais grande parte todos os anos escrevem e participam do concurso da escolha do samba enredo da Azul e Rosa. Os Poetas Imperiais, como também são denominados, realizam rodas de samba semanais nas quais relembram sambas de diversos ícones desse ritmo brasileiro, com um tempêro todo seu na "quase famosa" Panela Imperial, que inclusive já se apresentou em algumas cidades, como Serra Negra, além da sua Bragança Paulista. Esse blog é um veículo para a divulgação das atividades da Ala, de dados culturais relativos ao samba, além de ser um espaço para que nossos compositores divulguem suas letras, os áudios de seus sambas, postem fotos de eventos realizados e muito mais...

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