Bem minha gente, depois de uma semana sem registros em
virtude de uns problemas técnicos por aqui, estamos de volta com nossas
lembranças para o samba. Hoje prestamos uma pequena homenagem a um grande compositor
da nossa música, além de poeta, escritor e jornalista. Seu nome: Orestes
Barbosa.
Orestes Dias Barbosa, nasceu no dia 7 de maior de 1893 na
cidade do Rio de Janeiro, no bairro carioca de Vila Isabel. Depois de seu
nascimento sua família morou na ilha de Paquetá, mudando-se para a Gávea quando
ele tinha sete anos. Seu pai chamava-se Caetano Lourenço da Silva Barbosa e era
major e sua mãe chamava-se Maria Angélica Bragança Dias Barbosa. A família
passou por dificuldades financeiras ao longo de toda a sua infância. Por causa
disso não freqüentou a escola. Aprendeu a ler sozinho, vendo os letreiros de
bondes e manchetes de jornais com a ajuda de um vizinho, Clodoaldo de Moraes,
pai de Vinícius de Moraes, que também lhe ensinou as primeiras lições no
violão, quando ele tinha dez anos.
Entrou para a escola aos 12 anos, O Liceu de Artes e Ofícios, onde aprendeu o
ofício de revisor. Aos 13 anos, venceu um concurso literário na revista
"Tico-Tico". Em 1907, então com 14 anos, empregou-se como revisor do
jornal "O Século", dirigido por Rui Barbosa. Aos vinte anos,
tornou-se repórter do "Diário de Notícias", também sob a direção de
Rui Barbosa. Além de repórter, trabalhou como revisor, secretário e cronista,
exercendo todas as funções dentro de um jornal. Uma das manchetes criadas por
ele, a pedido de Rui Barbosa, tornou-se célebre: "Cortou o mal pela
raiz", anunciava um caso policial em que a esposa cortara o órgão sexual
do marido que a havia traído. Trabalhou ainda em diversos periódicos cariocas. Em
1913, quando trabalhava para o jornal "A Noite", de Irineu Marinho,
liderou um grupo de repórteres na instalação, no Largo da Carioca, de uma
roleta de papelão com o seguinte cartaz: "Jogo é franco - Roleta com 32
números - só ganha freguês". O jornal fazia campanha contra a jogatina
desenfreada que ocorria na capital do país, insinuando a conivência das
autoridades. Foi esse episódio que inspirou a famosa letra do samba "Pelo
telefone", de Donga e Mauro de Almeida: "O Chefe da Polícia pelo
telefone mandou avisar/ Que na Carioca tem uma roleta para se jogar...".
Estreou como poeta em 1917 com o livro "Penumbra sagrada". Em 1920,
foi a Portugal, onde entrevistou Teófilo Braga e encontrou-se com Guerra
Junqueiro. Foi um jornalista destemido, escrevendo artigos sobre acontecimentos
e críticas aos políticos de então. Por causa disso, esteve preso várias vezes.
A primeira prisão foi em 1921, quando escreveu artigo denunciando o Grêmio
Euclides da Cunha como aproveitador dos direitos autorais do patrono. Ainda em
1921, publicou o primeiro livro de crônicas intitulado "Na prisão",
onde conta casos de dentro do cárcere, além de "Água-marinha", seu
segundo livro de poemas. Foi um dos primeiros a manter uma coluna radiofônica
no jornal "A Manhã", em meados dos anos 1920. Durante o governo de
Artur Bernardes (1922-1926), esteve preso novamente. Apesar disso, continuou
escrevendo e publicando livros em
prosa.
Considerado um dos grandes letristas de nossa MPB, era assíduo
freqüentador do famoso Café Nice e foi parceiro de grandes compositores como
Custódio Mesquita, o pianista Nonô, Noel Rosa, Francisco Alves, Wilson Batista
e Sílvio Caldas, com quem compôs valsas e canções antológicas, como o clássico da
MPB, "Chão de Estrelas". Como letrista, estreou em 1930 com a
cançoneta "Bangalô", em parceria com Osvaldo Santiago, gravada pelo
cantor Alvinho. Em 1931, teve duas outras parcerias, com J. Thomaz, gravadas
por Castro Barbosa na Victor, o fox-samba "Flor do Asfalto" e o samba
"Carioca" e o samba "Rosalina" por Jonjoca também na
Victor. No mesmo ano, estreou cantando em disco um samba de Heitor dos
Prazeres, "Nega, Meu Bem". No ano seguinte, Francisco Alves gravou a
canção "Meu Companheiro", parceria dos dois, e
Em 1933, compôs com Francisco Alves a marcha "Há Uma Forte Corrente Contra
Você" gravada pelo próprio Francisco Alves. No mesmo ano, gravou com o
compositor Nássara a marcha "As Lavadeiras", parceria dos dois e com
o mesmo Nássara compôs o samba "Caixa Econômica", gravado em dueto
por João Petra de Barros e Luiz Barbosa na Victor. Ainda nesse ano, compôs com
Noel Rosa o samba "Positivismo", que o próprio Noel Rosa gravou e com
o pianista Nonô fez a canção "Vidro Vazio" lançada na Victor por
Sílvio Caldas. Em 1934, compôs com Sílvio Caldas o samba "Sem Você"
gravado por Aurora Miranda e com Francisco Alves a modinha "Não Sei..."
e a valsa “Romance", lançadas pelo próprio Chico Alves. Nesse ano, obteve
um de seus maiores sucessos, a valsa "A Mulher Que Ficou na Taça",
parceria com Francisco Alves que a gravou em disco que trazia outra parceria
dos dois, a canção "Adeus". No ano seguinte, Francisco Alves gravou a
marcha "Meu São João", outra parceria com Nássara. Em 1936, as Irmãs
Pagãs gravaram a marcha "Gato Escondido", parceria com Custódio
Mesquita, e Sílvio Caldas a canção "O Nome Dela Não Digo", parceria
dos dois. Em 1937, Sílvio Caldas gravou duas parcerias dos dois,
"Arranha-céu" e "Chão de Estrelas", que se tornou um
clássico da música brasileira e seu maior sucesso. No ano seguinte, nova
parceria com Sílvio Caldas foi gravada pelo cantor e parceiro, a valsa-canção
"Suburbana".
Em 1945, Carlos Galhardo gravou os sambas "Canário", parceria com Ari
Monteiro e "Cabelo Branco", com Wilson Batista, e Ataulfo Alves e
suas pastoras, o samba "O Negro e o Café", parceria com Ataulfo
Alves. Nesse ano, compôs com Custódio Mesquita o samba-choro "Flauta, Cavaquinho
e Violão", gravado por Aracy de Almeida e com Benedito Lacerda o samba
"Manchete de Estrelas" gravado por Ericsson Martha. Teve gravado por
Roberto Paiva no ano seguinte o samba "Abandono", parceria com
Roberto Martins e por Vicente Celestino "Altar de Lama", parceria com
o próprio Vicente Celestino. Em 1947, teve outra parceria com Wilson Batista gravada,
o samba "Abigail", lançado por Orlando Silva.
Em 1948, compôs com Herivelto Martins o samba "Canaviais" lançado pelo
Trio de Ouro e em 1950, o samba-canção "Abolição", parceria com
Wilson Batista foi gravado por Francisco Carlos. No ano seguinte, o cantor
Carlos Roberto lançou o samba "Gato Angorá", parceria com Américo
Pastor.
Em 1955, compôs com o violonista Valzinho o samba "Óculos Escuros",
gravado por Zezé Gonzaga e em 1956, "Flor do asfalto", com J. Thomaz
e "Serenata", com Sílvio Calas, foram gravadas por Cauby Peixoto em
compacto simples.
Faleceu no dia 15/8/1966 no Rio de Janeiro e no mesmo ano em que morreu, foi
homenageado pelo poeta Walmir Ayala com a peça "Chão de Estrelas",
espetáculo montado num circo em pleno Tabuleiro da Baiana, Centro Histórico do
Rio de Janeiro. Em 1962, sua canção "Por Teu Amor", com Francisco
Alves foi relançada por Gilberto Alves. Em 1968, o conjunto de rock Os Mutantes
regravou "Chão de Estrelas". Na década de 1970, recebeu homenagem do
cantor e compositor Paulinho da Viola, que regravou "Óculos Escuros" em seu LP "Paulinho da
Viola". Em 1974, Jards Macalé gravou "Imagens", com Valzinho, em seu LP "Aprender a Nadar".
Na década de 1980, o samba "Araruta", com Noel Rosa foi gravado pelo
conjunto Coisas Nossas, no LP "Noel Rosa, Inédito e Desconhecido" e em
1993 foi homenageado pelo selo Revivendo com o lançamento do CD "O Poeta Nas
Vozes de Francisco Alves e Sílvio Caldas”.
Positivismo
(Noel Rosa / Orestes Barbosa)
A verdade, meu amor, mora num poço
É Pilatos lá na Bíblia quem nos diz
E também faleceu por seu pescoço
O autor da guilhotina de Paris
A verdade, meu amor, mora num poço
É Pilatos lá na Bíblia quem nos diz
E também faleceu por seu pescoço
O infeliz autor da guilhotina de Paris
Vai, orgulhosa, querida
Mas aceita esta lição:
No câmbio incerto da vida
A libra sempre é o coração
O amor vem por princípio, a ordem por base
O progresso é que deve vir por fim
Desprezastes esta lei de Augusto Comte
E fostes ser feliz longe de mim
O amor vem por princípio, a ordem por base
O progresso é que deve vir por fim
Desprezastes esta lei de Augusto Comte
E fostes ser feliz longe de mim
Vai, coração que não vibra
Com teu juro exorbitante
Transformar mais outra libra
Em dívida flutuante
A intriga nasce num café pequeno
Que se toma pra ver quem vai pagar
Para não sentir mais o teu veneno
Foi que eu já resolvi me envenenar
Araruta
(Noel Rosas / Orestes Barbosa
Tu pedes, mandando
"Faça o favor" a tua boca nunca diz.
Tu cedes, negando
Com esses olhos que para mim são dois fuzis.
Sou mole, manhoso,
Teus impropérios retribuo com brandura
Pois água mole
Na pedra dura tanto bate até que fura!
Tu beijas, mentindo
A tua boca beija e mente sem sentir.
Desejas sorrindo
Que o teu perdão humildemente eu vá pedir.
Não peço,
Espero ainda ver-te entre lágrimas bem mal.
Meu bem, escuta:
A araruta tem seu dia de mingau!
Chão de Estrelas
(Orestes Barbosa / Sílvio Caldas)
Minha vida era um palco iluminado
Eu vivia vestido de 'doirado'
Palhaço das perdidas ilusões
Cheio dos guizos falsos da alegria
Andei cantando a minha fantasia
Entre as palmas febris dos corações
Nosso barracão no morro do salgueiro
Tinha o cantar alegre de um viveiro
Foste a sonoridade que acabou
E hoje, quando do sol, a claridade
Forra o meu barracão, sinto saudade
Da mulher pomba-rola que voou
Nossas roupas comuns dependuradas
Na janela qual bandeiras agitadas
Pareciam um estranho festival
Festa dos nossos trapos coloridos
A mostrar que nos morros mal vestidos
É sempre feriado nacional
A porta do barraco era sem trinco
Mas a lua furando nosso zinco
Salpicava de estrelas nosso chão
Tu pisavas nos astros distraída
Sem saber que a ventura desta vida
É a cabrocha, o luar e o violão.
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