Pela passagem de seu aniversário, gostaríamos de homenagear hoje um dos primeiros compositores de samba a conseguir sucesso com seu trabalho, seu nome: José Luiz de Morais, mais conhecido como Caninha, nascido no dia 6 de julho de 1.883 na cidade do Rio de Janeiro e considerado um dos pioneiros do início do samba, tendo sido amigo de Donga, Pixinguinha, João da Bahiana e Heitor dos Prazeres, entre outros. Nasceu no bairro carioca de Jacarepaguá. Era filho de um carpinteiro e um de seus avós era violonista. Ainda criança mudou-se para a Cidade Nova. Ficou órfão com cerca de oito anos. Foi então morar com uma prima de seu pai e fugiu de casa aos 12 anos. Trabalhou numa padaria no Méier e posteriormente passou a vender roletes de cana o que lhe valeu o apelido de "Caninha Doce" e depois simplesmente "Caninha". Trabalhou ainda como pedreiro, ajudante de mecânico na Marinha Mercante e foi dono de pontos de venda de jornais na Central do Brasil. Ingressou posteriormente como na Alfândega do Rio de Janeiro como operário de carpintaria. Trabalhou também no guichê de venda de selos de imposto. Ainda jovem começou a freqüentar as casas das tias baianas da Cidade Nova, entre as quais a casa da famosa Tia Ciata. Estudou cavaquinho com Adolfo Freire. Casou-se em 1942, mas não teve filhos. Em 1945, aposentou-se após trabalhar 20 anos na Alfândega e mais 21 na Recebedoria do Distrito Federal. Faleceu em casa, no dia 16 de junho de 1.961, ás vésperas de completar 78 anos de idade em sua casa no bairro carioca de Olaria. Um ano antes, havia sido dado como morto pela prefeitura do Distrito Federal que colocara seu nome junto ao de compositores desaparecidos como Sinhô e Noel Rosa a título de homenagem. Na década de 1920 foi o principal rival do compositor Sinhô na disputa pelo título de "Rei do Samba". Foi um dos fundadores do Rancho "Dois de Ouro", do bairro carioca da Saúde. Fez parte também dos ranchos "Balão de Rosa" e "Rosa Branca". Ajudou a fundar os ranchos "União dos Amores" e "Reinado das Fadas". Foi diretor de canto do rancho "Recreio das Flores". Em 1918, participou com sucesso da Festa da Penha com o maxixe "Gripe Espanhola". Atuou nas festas da Penha com os grupos Grupo Sou Brasileiro e Grupo da Cidade Nova, do qual fazia parte Pixinguinha.
Em 1919, seus sambas-carnavalescos "Ninguém Escapa do Feitiço", seu primeiro grande sucesso, e "Até Parece Coisa Feita", foram gravados respectivamente pelo Grupo dos Oito Emissários e pelo Grupo do Além. No mesmo ano, o samba-carnavalesco "Quem Vem Atrás Feche a Porta" recebeu três gravações diferentes: em dueto, por Bahiano e Izaltina; pelo Grupo do Além e pela Banda da Casa Edson. Em 1920, os sambas-carnavalescos "Que Vizinha Danada" e "Essa Nega Qué Me Dá" foram gravados pelo Grupo do Moringa e também pelo cantor Bahiano. Em 1921, a Banda do Corpo de Bombeiros regravou o samba "Essa Nega Qué Me Dá", que fez bastante sucesso. Nesse ano, seu samba "Domingo Eu Vou Lá" foi gravado pelo Grupo do Pixinguinha, e logo depois regravado pelo cantor Bahiano, que gravou também o samba "Onde Está o Dinheiro?". Em 1922, venceu o concurso carnavalesco da Festa da Penha com a marcha rag-time "Me Sinto Mal", que fez estrondoso sucesso popular sendo gravado pelo cantor Bahiano que no ano seguinte gravou a marcha "Meu Amor Qué Me Batê". Em 1924, teve gravados pela Orquestra Brasil-América o maxixe "Sai Azar" e a marcha "Isto Não é Vida". Nesse ano, seu maxixe "Na Bahia" foi lançado pelo cantor Fernando, que no ano seguinte, gravou o maxixe-carnavalesco "Amor", e o samba "Está Na Hora", que fez bastante sucesso. Ainda em 1925, o samba "Está Na Hora" foi regravado pela Jazz Band Sul Americana. Em 1926, Fernando gravou o samba "Vou Morar no Estácio" e o maxixe "Se A Moda Pega!...". Nesse ano, fez sucesso com o samba-carnavalesco "Rosinha", gravado por Artur Castro. No mesmo ano, Frederico Rocha gravou a marcha-carnavalesca "Já Quebrou". Em 1927, obteve o primeiro lugar no concurso "O Que É Nosso" promovido pelo Jornal "O Correio da Manhã" com o samba "O Que é Nosso", também conhecido como "Eu Sou Brasileiro", gravado com sucesso por Francisco Alves. No mesmo concurso foi premiado também com o samba "Rosinha", vencedor do quesito de músicas já divulgadas ou publicadas. Por ocasião das apresentações do concurso, assim referiu-se a ele o jornal "Correio da Manhã": "Caninha (José Luiz de Moraes) - Eis um nome popularíssimo entre os mais queridos compositores que divertem a população carioca com seus sambas de arrelia, lindas canções e marchas, apresentando-se com seu conjunto".
Em 1928, teve os sambas "Nega No fogão" e "Deixa Ela", e o maxixe "Não Quero Saber Mais Deles", gravados por Francisco Alves. Nesse ano, o choro "Que Ursada", foi gravado ao bandolim por João Martins, e o samba "Vou Me Vingar" foi lançado por Mário Reis e o samba "Curuqueré", foi lançado por Artur Castro. Em 1929, Francisco Alves gravou o samba "Quando a Mulher Não Quer". Em 1930, seu samba "Não Fui Eu!" foi gravado por Jonjoca e a canção "Sinhá" foi registrada por Floriano Belham. No mesmo ano, o grupo Choro Odeon gravou o choro "Antigamente". Em 1931, teve os sambas "Quando Der Uma Hora!" e "Não Há Nada" gravados pelo Trio TBT. Nessa época começou a se afastar da carreira artística, em parte, segundo o pesquisador Ary Vasconcelos, devido à morte do rival e amigo Sinhô, com quem tivera grandes disputas carnavalescas, tendo ficado desestimulado com o desaparecimento do concorrente. Em 1933, no entanto, teve um retorno que pode ser chamado de triunfal. Teria ouvido na Casa Mangione, na Rua Gonçalves Dias, no centro do Rio de Janeiro, local de reunião de compositores, alguém referir-se a ele da seguinte maneira: "Aquilo é bananeira que já deu cacho". Compôs então com o jornalista Visconde de Bicoíba o samba "É Batucada". Inscreveu de pronto o samba no primeiro concurso de sambas e marchas carnavalescas instituído naquele ano pela prefeitura do então Distrito Federal. No dia do concurso, seu samba foi recebido com entusiasmo pelo prefeito Pedro Ernesto e, aclamado pela multidão, acabou vencendo o concurso. Foi carregado triunfalmente pela multidão até Copacabana e recebeu do prefeito Pedro Ernesto o "Diploma de Sambista", que terminou sendo o único outorgado. No mesmo ano, o samba "É Batucada" foi gravado com sucesso por Moreira da Silva com acompanhamento do grupo Gente do Morro, de Benedito Lacerda.
Em 1954, participou juntamente com Pixinguinha, Donga, João da Bahiana, Alfredinho Flautim e outros, do Festival da Velha Guarda organizado por Almirante. Em 1955, no LP "A Velha Guarda", lançado com músicas extraídas do show organizado por Almirante, foram gravadas suas composições "Essa Nega Qué Me Dá" e "Me Leva, Me Leva Seu Rafael". Essas músicas também seriam incluídas na série de shows sobre os 100 anos da MPB, criado pelo produtor Ricardo Cravo Albin em 1975, sendo então interpretadas por Altamiro Carrilho e Paulo Tapajós no espetáculo intitulado "Do Chorinho Ao Samba". Participaram ambos do LP nº 1 da série de oito sob o nome geral de "MPB Ao Vivo", gravadas nos estúdios da Rádio MEC, pelo mesmo produtor um ano antes. Em 1958, o samba "É Batucada" foi regravado por Aracy de Almeida no LP "O Samba Em Pessoa". Em 1966, seu samba "Essa Nega Quer Me Dar" foi relançado por Aracy de Almeida no LP "Sergio Porto, Aracy de Almeida e Billy Blanco no Zum-Zum" gravado ao vivo na boate Zum Zum em 1966. Um dos maiores nomes do período anterior à Era do Rádio, teve mais de trinta músicas gravadas e deixou inéditas, entre outras, os sambas "Estrela Matutina"; "Rainha do Brasil"; "Quando Deus Me Ajudar"; "Não Fui Eu"; "Carnaval" e "Eu Vou Chorar"; a marcha-junina "Meu Carneiro"; a marcha "Na Hora" e o maxixe "Me Diga o Que Há". Teve músicas gravadas por Francisco Alves, Mário Reis; Moreira da Silva; Bahiano e Artur Castro, entre outros. Seus maiores sucessos foram os sambas "O Que é Nosso", "Rosinha" e "Está Na Hora".
É Batucada
(Caninha / Visconde de Bicoíba)
Samba de morro, não é samba
É batucada, é batucada
Para quem sabe a história é diferente
Só tira samba malandro que tem patente
Nossas morenas vão pro samba bonitinhas
Vão de sandália e saiote de preguinha
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