POETAS IMPERIAIS, SEMPRE NA BOCA DO POVO!



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30 de maio de 2012

Romeu Gentil.

Coincidentemente após o registro de ontem, lembramos no dia de hoje mais compositor que também comemoraria 101 anos de vida e um tanto desconhecido dos amantes do samba, até por ter conseguido alcançar certo sucesso através de marchas carnavalescas que fizeram e ainda fazem a alegria de foliões, embora nos dias atuais somente nos bailes de salão de carnaval afora. Como samba tem muito a ver com o carnaval, humildemente homenageamos Romeu Gentil ou Romeu Scovino, cantor e compositor nascido no dia 30 de maio de 1911 na cidade do Rio de Janeiro.
Filho de Adolfo Scovino e de Luísa Gentile, estudou na Escola Pública Prefeito Alvin, situada no Morro do Pinto, tendo cursado apenas até o 5º ano. Aos 12 anos, abandonou o estudo, empregando-se numa fábrica de chinelos. Desde os 16 anos dedilhava o violão, instrumento em que era autodidata e já na época, cantava e fazia serenatas. Foi fiscal da SBACEM - Sociedade Brasileira de Autores, Compositores e Escritores de Música, por um período de 22 anos.
Sua carreira artística iniciou-se em 1938, quando Arnaldo Amaral gravou sua composição "Estou Sentido Com Você", feita em parceria com Príncipe Pretinho, vindo depois "Que Calor", com Raul Marques, gravada por Patrício Teixeira em 1940. Neste mesmo ano, iniciou sua carreira como cantor apresentando-se em várias rádios, destacando-se sua participação no Programa Barbosa Júnior, da Rádio Mayrink Veiga em 1942. No mesmo ano, compôs com Joel de Almeida e Miguel Maúso o samba "Era Ela...", gravado pela dupla Joel e Gaúcho. Em 1944, a dupla Joel e Gaúcho gravou os sambas "Hei De Me Vingar" e "Vou Me Acabar", parcerias com Carvalhinho. Em 1945, teve mais duas parcerias com Carvalhinho gravadas: as batucadas "Já Tenho Compromisso", por Grande Otelo e "Por Causa De Uma Mulher", gravada por Aracy de Almeida. Em 1948, fez sucesso com o samba canção "Jornal de Ontem", parceria com Elizário Teixeira gravado por Orlando Silva. No mesmo ano, formou dupla com Paquito, com quem passou a produzir grandes sucessos carnavalescos, dentre os quais "Jacarepaguá", marcha que incluiu Marino Pinto na parceria e que foi gravada pelos Vocalistas Tropicais. Em 1949, compôs com Paquito o samba "Uma Apresentação", gravado por Francisco Alves.
Em 1950, novo sucesso em parceria com Paquito: a marcha "Daqui Não Saio", que venceu o concurso de músicas de carnaval promovido pela Prefeitura do Rio de Janeiro daquele ano e que foi gravada também pelos Vocalistas Tropicais.
Em 1951, obteve novo sucesso carnavalesco com a marcha "Tomara Que Chova", novamente parceria com Paquito gravada pelos Vocalistas Tropicais. Em 1952, Dircinha Batista gravou a marcha "Por Desaforo" e o samba "Estou Com Deus", ambas, parceria com Paquito. Em 1953, "A Marcha do Conselho" foi gravada por Roberto Paiva e em 1954, teve mais composições da parceria com Paquito gravadas: a toada "Valei-me Nossa Senhora" por Roberto Paiva, o afro brasileiro "Bonde Errado" por Violeta Cavalcânti e a marcha "Todo Mundo Louco" por Francisco Carlos. Em 1955, Emilinha Borba gravou com destaque a marcha "A Água Lava Tudo", parceria com Paquito e Jorge Gonçalves. Essa marcha inclusive, foi escolhida por uma comissão julgadora, reunida no Teatro João Caetano, como uma das dez marchas mais populares daquele carnaval. Em 1957, gravou o primeiro de seus dois únicos discos interpretando a marcha "O Lopes Perdeu a Guerra", de sua autoria com Paquito e Nelson Boexi e o samba "Desconfiei", parceria com Valdir Machado. Em 1959, a marcha "O Boi da Cara Preta", grande sucesso popular, foi gravada por Jackson do Pandeiro. Em 1963, Isnard Simone gravou o samba "Roubei a Mulher do Rei", parceria com Paquito.
Em 1964, obteve grande sucesso com "Bigorrilho", parceria com Paquito e Sebastião Gomes gravada por Gracinha Miranda, obra inspirada em "O Malhador", samba de Donga e Pixinguinha, de 1919, composição que se constituiu num grande sucesso do ano e que tem estribilho semelhante ao lundu "Isto É Bom", de Xisto Bahia.
Romeu Gentil faleceu no dia 15 de outubro de 1983, também na cidade do Rio de Janeiro.

Daqui Não Saio
(Romeu Gentil / Paquito)

Daqui não saio! Daqui ninguém me tira!
Onde é que eu vou morar?
O senhor tem paciência de esperar!
'Inda mais com quatro filhos, onde é que vou parar?

Sei que o senhor tem razão de querer
A casa pra morar, mas onde eu vou ficar?
No mundo ninguém perde por esperar,
Mas já dizem por aí que a vida vai melhorar.

Tomara Que Chova
(Romeu Gentil / Paquito)

Tomara que chova, três dias sem parar,
Tomara que chova, três dias sem parar.
A minha grande mágoa é lá em casa não ter água,
Eu preciso me lavar.

De promessa eu ando cheio,
Quando eu conto a minha vida, ninguém quer acreditar,
Trabalho não me cansa, o que cansa é pensar,
Que lá em casa não tem água, nem pra cozinhar.

29 de maio de 2012

Rubens Soares.

No dia de hoje completaria 101 anos de vida um compositor, na certa, desconhecido por imensa maioria dos amantes do samba. Seu nome: Rubens Soares.
Compositor nascido na cidade do Rio de Janeiro no dia 29 de maio 1911, foi lutador de boxe na categoria peso-médio, atuando de 1928 até 1945, tendo sido ainda membro da Polícia Especial, treinador de cavalos e treinador de boxe.
Relatos contam que depois das lutas, gostava de reunia-se com amigos, quando então compunha sambas de carnaval.
Em 1936, obteve seu primeiro grande sucesso com o samba "É Bom Parar", música esta a qual, segundo alguns depoimentos da época, teria sido feito em parceria com Noel Rosa, embora essa parceria não conste do selo do disco gravado por Francisco Alves. Com este samba ganhou o primeiro prêmio no concurso oficial de músicas carnavalescas da Prefeitura do Rio de Janeiro. No mesmo ano, teve os sambas "Já Não És Mais Aquela", parceria com Antônio Almeida, e "Iaiá do Balacuchê" gravadas também por Francisco Alves. Ainda nesse ano, destacou-se com o samba de carnaval "Lá Vem Ela Chorando", parceria com Demazinho, também gravado por Francisco Alves num disco que trazia no lado B o samba "Chegou a Sua Vez", parceria de ambos.
Em 1937, compôs com Nássara o batuque "Batuque Na Cozinha", gravado pela dupla Joel e Gaúcho, e com Ataulfo Alves fez o samba "Perdi a Confiança", gravado por Luiz Barbosa. Teve ainda nesse ano o samba "Nunca Pensei", parceria com Nássara, gravado por Aracy de Almeida. Em 1938, a pianista Carolina Cardoso de Menezes regravou seu samba "É Bom Parar" e em 1939, Roberto Paiva gravou, o samba "Estou Cansado de Procurar", parceria com Luiz Pimentel, e Aracy de Almeida o samba "Já Jurei", parceria com Nássara. Ainda nesse ano, o pianista Muraro regravou "É Bom Parar" em ritmo de fox e Arnaldo Amaral gravou na o samba "Ela Fez Uma Comigo".
Em 1940, fez com Francisco Santos o samba "Bem Sei", gravado por Aracy de Almeida e compôs com Sílvio Caldas a marcha "Capim Mimoso", gravada pelo próprio Sílvio Caldas. Em 1941, Francisco Alves gravou os sambas "Eu Quero Uma Mulher", parceria com Evaldo Rui, e "Poleiro de Pato é No Chão". Nesse ano, obteve razoável sucesso com o samba "Gênio Mau", parceria com Wilson Baptista e gravado por Aracy de Almeida com acompanhamento dos Diabos do Céu. Ainda nesse ano, mais uma regravação de "É Bom Parar", dessa vez na voz de Nuno Roland. Teve ainda no mesmo período duas batucadas gravadas: "Quem Engorda Porcos é o Pacheco", com Eratóstenes Frazão, gravada por Cyro Monteiro, e "Ai Que Dor...", composta com Nássara, gravada por Carlos Galhardo e o samba "Ela Mandou Me Avisar", feita com Mário Lago, gravado pelos Anjos do Inferno.
Em 1942, a marcha "Viva Quem Tem Bigode!", parceria com David Nasser, foi gravada pelo grupo vocal Quatro Ases e Um Coringa. Nesse ano, obteve grande êxito com a batucada "Nega do Cabelo Duro", com David Nasser, gravada pelos Anjos do Inferno. A música apresentava semelhanças com a melodia do velho samba de Sinhô "Não Quero Saber Mais Dela" com uma letra que satirizava o cabelo da personagem. Em 1943, fez com David Nasser os arranjos para a batucada "Benza-te Deus", de motivo popular gravada pelos Anjos do Inferno e nesse ano ainda, teve a marcha "Feijoada" gravada pelo grupo Quatro Ases e Um Coringa, o samba "Ai Amor" gravado por Nelson Gonçalves e a batucada "Não Pense Que Vou Chorar" lançada por Déo.
Em 1944, fez com Ari Monteiro o samba "Lições da Vida" e com Antônio Nássara a marcha "Sete Galinhas", ambas gravadas pelo Quatro Ases e Um Coringa e com Eratóstenes Frazão compôs a batucada "Vida de Pobre" gravada por Francisco Alves. Nesse ano, Aracy de Almeida gravou o samba "João Cegonha", feita com David Nasser, lançado no ano seguinte e Carlos Galhardo gravou a batucada "Pra Que Beber". Em 1945, Jorge Veiga gravou o samba "Até Numa Pedreira".
Em 1952, foi relançado o samba "Solteiro É Melhor", parceria com Felisberto Silva, na voz de Francisco Alves, o qual fora gravado em 1939. Em 1956, obteve mais um sucesso com "Nasci Para o Samba", parceria com David Nasser que foi gravado por Nélson Gonçalves. Em 1958, Nelson Gonçalves gravou a marcha-rancho "Arlequim", parceria de Rubens Soares com Jorge Faraj e o próprio Nelson Gonçalves. Em 1960, seu samba "Já Não És Mais Aquela", com Antônio Almeida, foi gravado por Sílvio Mazzuca no LP "Baile de Samba - Sílvio Mazzucca e Sua Orquestra".
Rubens Soares faleceu no dia 13 de junho de 1998 na cidade do Rio de Janeiro.

É Bom Parar
(Rubens Soares / Noel Rosa*)

Por que bebes tanto assim rapaz? Chega, já é demais!
Se é por causa de mulher, é bom parar,
Porque nenhuma delas sabe amar.

Se tu hoje estás sofrendo é porque Deus assim quer
E quanto mais vais bebendo, mais lembras desta mulher
Não crês, conforme suponho, nestes versos de canção:
“Mais cresce a mulher no sonho, oi, na taça e no coração”.

Por que bebes tanto assim rapaz? Chega, já é demais!
Se é por causa de mulher, é bom parar,
Porque nenhuma delas sabe amar.

Sei que tens em tua vida um enorme sofrimento
Mas não penses que a bebida seja um medicamento
De ti não terei mais pena, é bom parar por aí
Quem não bebe te condena, oi, quem bebe zomba de ti.

Nega do Cabelo Duro
(Rubens Soares/David Nasser)

Nega do cabelo duro, qual é o pente que te penteia?
Qual é o pente que te penteia? Qual é o pente que te penteia, ô nega?

Ondulado permanente, teu cabelo é de sereia
E a pergunta sai da gente, qual é o pente que te penteia, ô nega?

Nega do cabelo duro, qual é o pente que te penteia?
Qual é o pente que te penteia? Qual é o pente que te penteia, ô nega?

Quando tu entras na roda o teu corpo bamboleia
Teu cabelo está na moda, qual é o pente que te penteia, ô nega?

Nega do cabelo duro, qual é o pente que te penteia?
Qual é o pente que te penteia? Qual é o pente que te penteia, ô nega?

Teu cabelo a couve-flor, tem um quê que me tonteia
Minha nega meu amor, qual é o pente que te penteia, ô nega?

Nega do cabelo duro, qual é o pente que te penteia?
Qual é o pente que te penteia? Qual é o pente que te penteia, ô nega?

Misampli a ferro e fogo, não desmancha nem na areia
Tomas banho em Botafogo, qual é o pente que te penteia, ô nega?

Gênio Mau
(Rubens Soares / Wilson Batista)

Ele tem, ele tem um gênio mau,
Quando eu digo, pedra é pedra,
Ele diz que pedra é pau.

Mas assim o nosso amor vai se acabar,
É demais, eu não posso continuar,
Ele um dia é capaz de me estranhar,
Eu darei um golpe certo,
Mandando esse homem andar.

28 de maio de 2012

Dedé da Portela.


O dia de hoje marca a data de aniversário do excelente compositor Dedé da Portela, ou Edson Fagundes, que nasceu no dia 28 de maio de 1939, na cidade de São Paulo.
Além de compositor, Dedé da Portela também foi cantor, tendo pertencido à Ala dos Compositores da Portela, sendo ainda, durante dez anos, puxador de samba na escola.
Em 1975, Leci Brandão interpretou de sua autoria "Meu Dia de Graça" no disco "Antes Que Eu Volte a Ser Nada" e no ano seguinte, Roberto Ribeiro gravou "Quero", parceria de Dedé com Dida.
No ano de 1977 compôs com Catoni, Jabolô e Waltenir "A Festa Da Aclamação", samba-enredo que deu à Portela o vice-campeonato daquele ano e neste mesmo ano ainda, ao lado de Dicró, Picolé da Beija-Flor, Cartolinha, Conjunto Realidade, Carlão Elegante, Djalminha, Matias de Freitas e Rubens Confeti, participou do disco "A Hora e a Vez do Samba", produzido por Ramalho Neto, interpretado, de sua autoria, "Palavra de Mãe", feita em parceria com Sérgio Fonseca.
No ano de 1978, ao lado de Aniceto do Império, Baiano do Cabral, Nelson Cebola, Arielson da Bahia, Luiz Grande e Preto Rico, participou do LP "Os Bambas do Partido Alto", no qual interpretou de sua autoria "Madureira, Berço do Samba".
Em 1979, Beth Carvalho interpretou a música "Senhora Rezadeira", no LP "No Pagode", composição de Dedé em parceria com Dida, e Alcione, no LP "Gostoso Veneno", interpretou "Amantes da Noite", outra obra composta pela dupla.
No ano de 1980, no disco "Fala Meu Povo", Roberto Ribeiro interpretou "Resto de Esperança", composição de Dedé com Jorge Aragão. No mesmo ano Délcio Carvalho, no LP "Canto de Um Povo", gravou "Hora de Ser Criança", parceria com Dida e ainda em 1980, Alcione gravou "Meu Dia de Graça". No ano seguinte, a mesma cantora registrou "A Volta da Gafieira" (Dedé / Dida) em seu novo disco e em 1983, "Dor de Amor", música feita juntamente com Délcio Carvalho, foi incluída no LP de Roberto Ribeiro.

No ano seguinte, Dedé compôs com Norival Reis "Contos de Areia", histórico samba-enredo com o qual a Portela desfilou naquele ano classificando-se em 1º lugar do Grupo 1. Neste mesmo ano, Alcione no LP "Fogo da Vida", gravou outra composição de sua autoria, desta vez, em parceira com Luís Carlos, "Deixa Que o Dia Amanheça", além de fazer uma regravação de "Meu Dia de Graça". Ainda em 1984, o Grupo Fundo de Quintal, no LP "Seja Sambista Também", interpretou "Canto Maior", parceria de Dedé da Portela com Arlindo Cruz e Sombrinha.
Em 1985, Dedé gravou o samba-enredo "Recordar é Viver", de Noca da Portela, Edir Gomes, Poliba e Jorge Careca, para o disco "Carnaval de 1985".
No ano de 1986, no LP "Bom Ambiente", Dominguinhos do Estácio interpretou "Rala Coco, Sinhá" (Dedé da Portela / Dida) e no ano seguinte, em 1987, o Grupo Exporta Samba gravou de sua autoria "Chuva Boa", mais uma canção feita em parceria com Dida.
Em 1998 "Senhora Rezadeira" foi regravada por Beth Carvalho CD "Pérolas do Pagode".
No ano 2000 Norival Reis participou da gravação do disco "Ala de Compositores da Portela", no qual o parceiro declamou versos do samba-enredo "Contos de Areia", parceria de ambos.

Faleceu no dia 18 de fevereiro de 2003, sendo seu corpo velado na quadra da Escola de Samba Leão de Nova Iguaçu, cidade onde morou nos últimos anos de vida. Neste mesmo ano Walter Alfaiate lançou o CD "Samba na Medida", disco no qual incluiu "Conto de Areia" e Alcione, no disco "Alcione Ao Vivo 2", regravou de sua autoria "A Volta da Gafieira" (c/ Dida). Neste ano ainda, a Escola de Samba Tradição, ao lado da Portela, Império Serrano e Viradouro, optaram em comemorar o 20º aniversário do Sambódromo, levando para a avenida sambas-enredo anteriores a 1984. A Tradição resolveu homenagear a Portela, de quem se separou em 1984, e escolheu o samba-enredo "Contos de Areia" e para a gravação do samba a escola convidou Alcione e o samba, de sua autoria, foi cantado na avenida no carnaval de 2004.
Entre seus intérpretes estão também Sonia Lemos, que gravou "Meus Outros Anos", "Primeiro Botequim" e "Canto Nenhum"; Nadinho da Ilha, interpretando "Praias de Pedra e Pranto" e "Adeus Suspenso", todas em parceria com Sérgio Fonseca.

O próprio compositor gravou várias músicas como "Tocaia", "Palavra de Mãe" e "Palavras de Preto Velho", as três em parceria com o Sérgio Fonseca.
Entre seus vários intérpretes constam ainda Miltinho, Zaira e Grupo Pirraça, que gravou "Palavras de Preto Velho"; Aroldo Santos em "Grito Negro"; Luiza Maura cantando "Nó de Marinheiro" (c/ Sérgio Fonseca).
De sua parceria com o letrista Sérgio Fonseca foram gravadas ainda "Remandiola", por Dora Lopes; "Oxumaré", com o Conjunto Os Batuqueiros; "A Distância", com Sonia Santos; "Contrato de Risco", interpretada por Fabíola e um dos sucessos de Helena de Lima, a composição "Carinho Morno".

Amantes da Noite
(Dedé da Portela / Dida)

Quando a noite abre o seu manto
Sua pureza seu encanto
É um mundo de beleza
Seu canto suaviza madrugadas
Pelas ruas e calçadas
Sonorizando a natureza


A musa se encontra com a poesia
A letra com a melodia
A inspiração com a pureza
Sua voz em forma de acalanto
Ameniza qualquer pranto
Nos dá um toque de certeza


Ai de nós amantes da boemia
Se a noite fosse como o dia
A vida perderia a grandeza


Canto Maior
(Dedé da Portela / Arlindo Cruz / Sombrinha)

Afinal meu pranto terminou, subjuguei o tédio e a dor
E hoje vivo em paz mostrei que sou capaz de me recuperar
Felicidade existe e já não é mais triste o jeito do meu cantar


O meu cantar vai mostrar que não tem valor a maldade a ambição
O preconceito o desamor e quem cantar vai notar que a vida bem melhor

Pois o mal se vai como um encanto, se acabam as dores e prantos
Pra quem canta pelos quatro cantos o canto maior.


Portela - Samba Enredo 1984 - Contos de Areia
(Dedé da Portela / Norival Reis)

Bahia é um encanto a mais, visão de aquarela
E no ABC dos Orixás, Oranian é Paulo da Portela
Um mundo azul e branco o deus negro fez nascer
Paulo Benjamim de Oliveira fez esse mundo crescer

Okê-okê Oxossi, faz nossa gente sambar 
Okê-okê, Natal, Portela é canto no ar


Jogo feito, banca forte, qual foi o bicho que deu?
Deu Águia, símbolo da sorte, pois vinte vezes venceu

É cheiro de mato, é terra molhada 
É Clara Guerreira, lá vem trovoada


Epa hei, Iansã, epa hei

Na ginga do estandarte Portela derrama arte
Neste enredo sem igual faz da vida poesia
E canta sua alegria em tempo de carnaval

25 de maio de 2012

Pedrinho da Flor.

Hoje comemora 64 anos de muito samba um compositor cujo nome talvez não seja muito conhecido por boa parte do público amante deste nosso querido gênero, mas que, com certeza, conquistou grande amplitude através do sucesso que suas composições conquistaram. Falamos do ótimo Pedrinho da Flor ou Pedro de Abreu Maciel.
Nascido no dia 25 de maio de1948 na cidade do Rio de Janeiro, o cantor e compositor Pedrinho da Flor começou no samba na adolescência, freqüentando as rodas na quadra do então bloco carnavalesco Flor da Mina do Andaraí, adquirindo daí seu nome artístico. Depois, ingressou na Ala de Compositores da vizinha Unidos da Tijuca, onde ganhou seu primeiro samba enredo em 1974: “Flor Serrana”, composto com Cassinho e Djalma Rodrigues. Daí em diante o sambista passou a integrar as Alas de Compositores das agremiações tijucanas: Flor da Mina, Unidos, Império e Salgueiro e paralelamente, desenvolvia seu trabalho como músico, primeiro como ritmista em grupo de samba, depois como compositor e, finalmente, cantor.
Em 1981, o grupo Fundo de Quintal, no disco "Samba É No Fundo do Quintal", incluiu de sua autoria "Você Quer Voltar", música feita em parceria com Gelcy do Cavaco. Três anos depois, o grupo gravou outra composição de sua autoria, "É Bem Melhor Assim", feita com Aranha.
Em 1985, foi lançado o LP “Raça Brasileira”, uma coletânea que lançou os nomes da chamada jovem guarda do emergente pagode de fundo de quintal, que dominou a segunda metade da década de 80, nomes como: Zeca Pagodinho, Jovelina Pérola Negra, Mauro Diniz, Elaine Machado e o próprio Pedrinho da Flor. O músico passou então a viver uma fase inspirada e fértil: tornou-se presidente do Flor da Mina, sagrando-se campeão entre os blocos, arrebatou por dois anos consecutivos sambas na Império da Tijuca, isso em 1986 e 1987, sendo “Tijuca, Cantos, Recantos e Encantos” de 1987, parceria de Pedrinho da Flor, Baster, Belandi e Marinho da Muda, e “Viva O Povo Brasileiro” de 1987, parceria de Pedrinho com Baster, Belandi, João Quadrado e Marinho da Muda.
Em 1990 ganhou a disputa de sambas de enredo do Salgueiro com o samba “Sou O Amigo do Rei”, feito com Alaor Macedo, Arizão, Demá Chagas e Fernando Baster. Por essa época emplacou ainda várias obras nas paradas de sucesso nas vozes do Fundo de Quintal, Dhema, Dominguinhos do Estácio, Razão Brasileira, Leci Brandão, Zeca Pagodinho, Grupo Molejo, Almir Guineto, Grupo Raça, Karametade, Raça Negra e Dicró.
Pedrinho da Flor sempre se destacou por ser um compositor que gostava de cantar seus sambas na avenida. Em 1991, defendeu, pela primeira vez, um samba que não era de sua autoria: “Asa Branca”, pela Paraíso do Tuiuti, no Grupo A. Pedrinho ainda integra a diretoria da Flor da Mina do Andaraí, que se transformou em escola de samba na década de 90.
No ano de 1992, Dominguinhos do Estácio interpretou "Sob Os Olhos de Oxalá" (c/ Zé Roberto e Adalto Magalha) e "Sede de Amor" (c/ Adalto Magalha), no LP "Mar De Esperança". No ano seguinte, seu parceiro Dhema no CD "Dhema", incluiu uma composição de ambos, "De Um Lado de Minha Janela". Em 1997, Pedrinho lançou o CD “Tem Que Ser Assim”, com canções de sua autoria e no ano de 1998, o grupo Razão Brasileira, interpretou composições suas feitas em parceria com Adalto Magalha: "Eu Menti", "Medo" e "Telefone".
Em 2002 Marquinho Santanna (Ex-Marquinhos Sathã) incluiu no disco "Nosso Show" a composição "Dois Minutos A Sós Com Você", de sua autoria em parceria com Adalto Magalha
São ainda músicas de sua autoria: “A Bruxa Está Solta”, “Clínica Geral” e “Garoto Zona Sul”, sucessos com o grupo Molejo; “Menor Abandonado”, sucesso na voz de Leci Brandão e Zeca Pagodinho; “Pedra No Caminho”, “Maravilhas do Amor” e “Anjo Ateu”, esta última feita em parceria com Ratinho e Zeca Pagodinho.
Deixamos assim registrado nossos Parabéns ao excelente compositor, Pedrinho da Flor!

Você Quer Voltar
(Pedrinho da Flor / Gelcy do Cavaco)

Você quer voltar, mas não lhe darei perdão
Eu não posso perdoar a quem magoou meu coração
Se você me ouvisse não aconteceria
Entre nós a ingrata separação
Mas você insistiu em fazer tudo errado
E com isso acabou com nossa união.

Medo
(Pedrinho da Flor / Adalto Magalha)

Quando te vi, enlouqueci, senti vontade de te amar
No teu olhar eu pude ver o amor que tinhas pra me dar
Faltou coragem pra dizer o que sentiu meu coração
Mas hoje falo pra você tudo em forma de canção
Em versos quero te dizer por que tamanha indecisão
Já não sabemos esconder a força ardente da paixão
Por uma noite de prazer eu passo o dia a meditar
A gente pode se perder e nunca mais se encontrar

Eu tenho medo, medo... De me entregar pra você
Medo, medo, do meu coração padecer.
Sua beleza é demais, seu jeito me satisfaz
Se eu me entregar pra você eu vou perder a minha paz

Clínica Geral
(Pedrinho da Flor / Anderson Leonardo)

Quando eu te chamei pra ir num baile que só tinha gente bamba
Você falou: Só danço samba... Samba!
Aí então eu te levei lá na favela pra sentir o seu astral
E a moçada falou que você era clínica geral

Falou pra todo mundo que eu deixei você na cara do gol, gol
Que abalou! Uh! Que abalou! (ooooo)
Participou de tudo que rolou e não decepcionou
Na sua ginga o povo se amarrou e no jeitinho que você falou.

É Molejão!
Eu danço samba do meu jeito e dou um show
Eu danço samba do meu jeito e dou um show
Eu danço funk, danço reggae, danço rap, danço rock and roll

24 de maio de 2012

Sereno do Cacique.

Hoje completa 60 anos de muito samba o grande Sereno do Cacique ou Jelsereno de Oliveira, como foi registrado. Nascido no dia 24 de maio de 1952, na cidade do Rio de Janeiro, é compositor, instrumentista e cantor, integrante do querido Fundo de Quintal.
Em 1961, Sereno fundou o Bloco Carnavalesco Cacique de Ramos, juntamente com Walter Tesourinho, Alomar, Jorginho, Chiquita e Mauro, seus familiares, e ao lado de outras duas famílias compostas pelos irmãos Ubirajara (Bira Presidente), Ubirany e Ubiracy, e da família de Aymoré e Conceição do Espírito Santo.
Foi, também, um dos fundadores do Grupo Fundo de Quintal, com o qual gravou diversos discos. O grupo surgiu em 1980, dentro do Bloco Carnavalesco Cacique de Ramos, em Ramos, subúrbio da região da Leopoldina, no Rio de Janeiro e era formado inicialmente por Almir Guineto, Jorge Aragão, Neoci, Sereno, Sombrinha, Bira Presidente, Ubirany, Arlindo Cruz e Valter Sete Cordas. Tocavam às quartas-feiras, fazendo um som que começou a atrair a atenção de gente importante do mundo do samba. Considerado como um dos criadores de um estilo que influenciou praticamente todas as bandas de pagode posteriormente, o grupo tocava músicas de grandes sambistas e composições próprias, sempre com um ritmo diferente e com uma nova maneira de falar do cotidiano, utilizando-se de instrumentos até então incomuns nas rodas de samba, como o banjo com braço de cavaquinho, criado por Almir Guineto, o repique-de-mão, o repique-de-anel, criados por Ubirany e o tantã, criado por Sereno, este um instrumento de percussão, que consiste de um tipo de tambor de formato cilíndrico ou afunilado (tipo atabaque), com o fuste em madeira ou alumínio, possuindo uma pele animal ou de poliéster (sintética) em apenas uma das suas extremidades. Seu diâmetro pode variar, os mais usados são de 12″, também chamado de rebolo, tantã de corte ou tantanzinho e o de 14″ que possui um som mais grave como o do surdo. Este instrumento é de marcação e é tocado com as mãos tanto no samba como em outros ritmos característicos da mesma origem. Foi introduzido no samba para substituir o surdo de marcação nas rodas do Cacique de Ramos, no fim da década de 1970.
Em 1979, Sereno teve sua composição "Lado a Lado", com Noca da Portela, gravada por Almir Guineto no disco "Jeito de Amar". Dois anos depois, Alcione interpretou "Sem Perdão", parceria com Jorge Aragão e Nílton Barros. No disco "Da Cor do Brasil", de 1984, Alcione incluiu "Sabeabá", parceria de Sereno com Nei Lopes.
No ano de 1986, Zeca Pagodinho gravou duas composições de sua autoria, "Jogo de Caipira", com Nei Lopes e "Cheiro de Saudade", com Jorge Aragão, esta última interpretada por Zeca Pagodinho e Ana Clara. Neste mesmo ano, sua composição "Calmaria e Vendaval", feita com Nei Lopes, foi incluída no LP "Luz e Esplendor" de Elizete Cardoso. No ano seguinte, Beth Carvalho gravou no "Festival de Montreux" um disco ao vivo, no qual incluiu "Cacique de Ramos", música de Sereno e Noca da Portela. Neste mesmo ano, o grupo Fundo de Quintal gravou outra parceria sua com Noca da Portela "Conselho de Amigo", e Almir Guineto, em seu disco "Perfume de Champanhe", interpretou "Opção" (Sereno / Noca da Portela). Ainda neste ano, Mart'nalia gravou "O Preço do Amor" (c/ Adilson Victor e Noca da Portela), Alcione interpretou "Nosso Nome: Resistência" (c/ Zé Luiz e Nei Lopes), música que deu nome ao disco da cantora, e o grupo Exporta Samba incluiu no disco "Valeu a Experiência", uma composição de sua autoria, "Minha Ciranda, Cirandá", em parceria com Franco.
No ano de 1989, sua música "Falando Com Os Astros", parceria com Mauro Diniz e Jorge Aragão, foi gravada pelo cantor Reinaldo e neste mesmo ano, seu samba-enredo "Leila Diniz, Amor é Liberdade", feito em parceria com Roberto Serrão, Rico Doriléo, Noca da Portela e Roberto Medronho foi gravado por Roberto Serrão no LP "Bloco Carnavalesco Simpatia É Quase Amor - 5 Anos de Samba em Ipanema".
Em 1990, Mauro Diniz gravou "Pseudo-aventura", (Sereno / Jorge Aragão) e ainda neste ano, Leci Brandão lançou o disco "Cidadã Brasileira", no qual incluiu "Madureira, Lugar de Raça", em parceria com Arlindo Cruz e Franco. No ano seguinte, o grupo Fundo de Quintal gravou "Pagodeando", parceria com Noca da Portela. Por essa época, o grupo Mistério da Cor gravou "O Iaiá" (Sereno, Roberto Serrão e Noca da Portela). No ano posterior, o cantor Edy Silva interpretou duas composições suas: "Quem Mandou Vacilar" e "O Preço da Traição ", ambas em parceria com Noca da Portela e Adilson Victor.
Em 1999, Leci Brandão gravou "Nota Máxima", de Sereno, André Renato e Júlio César. No ano seguinte participando do grupo Fundo de Quintal, gravou o disco "Simplicidade Ao Vivo", disco comemorativo dos 20 anos do grupo, no qual foram incluídas várias composições de sua autoria, entre elas "A Batucada dos Nossos Tantãs" (Sereno, A. Galvão e R. Guimarães) e neste mesmo ano, foram relançados em CD todos os LPs do grupo editados anteriormente. Ainda neste ano, Sereno participou do CD "Os Melhores do Ano II", no qual o grupo interpretou "Rosalina" (Serginho Meriti e Luizinho) e "Romance dos Astros" (Luiz Carlos da Vila, Cléber Augusto e Jorge Carioca), esta última ao lado de Beth Carvalho.
Em 2001, com produção de Rildo Hora, o grupo Fundo de Quintal lançou o disco "Papo de Samba". Neste CD, o 21º da carreira, foram incluídas músicas de participantes do grupo, como "Numa Casa Véia", de Sereno, Mário Sérghio e Ronaldinho do Banjo, assim como outras de compositores importantes, como Monarco em "Peregrinação" (c/ Mauro Diniz).
Em 2002, o grupo lançou o CD "Fundo de Quintal - Cacique de Ramos". Gravado ao vivo na quadra do Bloco Carnavalesco Cacique de Ramos e produzido por Rildo Hora, contou com várias participações especiais: Almir Guinéto, Sombrinha, Arlindo Cruz e Jorge Aragão (ex-integrantes), Zeca Pagodinho e Beth Carvalho.
No ano de 2003 o grupo Revelação, no disco "Samba de Raiz 3", regravou um dos clássicos do gênero, "A Batucada Dos Nossos Tantãs", de sua autoria. Ainda em 2003, participando do Fundo de Quintal, gravou o CD "Festa Pra Comunidade" e no ano de 2004 o primeiro DVD do grupo em show no Olimpo, no Rio de Janeiro, no qual receberam como convidados Jorge Aragão, Alcione, Leci Brandão, Zeca Pagodinho, Nei Lopes, Almir Guineto, Dona Ivone Lara, Luiz Carlos da Vila, Dudu Nobre, Arlindo Cruz, Sombrinha, Beth Carvalho e Demônios da Garoa. No DVD, dirigido por Karla Sabah, foram incluídas cenas de gravações antigas, do tempo do pagode da tamarineira, no Bloco Carnavalesco Cacique de Ramos, nos quais aparecem Dida e Neoci Dias, ambos já falecidos. O Fundo de Quintal recebeu o "Prêmio Sharp de Música" nove vezes, sendo sete consecutivas, como "Melhor Grupo de Samba".
No ano de 2005, Sereno conseguiu o terceiro lugar com a composição "Aval do Senhor" no "Festival de Samba de Terreiro da Portela".
O grupo Fundo de Quintal gravou ainda várias composições de sua autoria, como "Cruel Verdade" (c/ Acyr Marques), "Sem Rancor" (c/ Mário Sérgio) e "Doce Felicidade" (c/ Julinho), entre muitas outras que foram sucessos no repertório do grupo.
Entre seus vários intérpretes consta Mestre Marçal em "Perdão de Paz", composta em parceria com o poeta Sérgio Fonseca.
Com este pequeno registro, deixamos nossos humildes Parabéns ao ilustre sambista, Sereno!
Fonte: Dicionário Cravo Albin da MPB

A Batucada dos Nossos Tantãs
(Sereno / A. Galvão / R. Guimarães)

Samba, a gente não perde o prazer de cantar
E fazem de tudo pra silenciar a batucada dos nossos tantãs
No seu ecoar, o samba se refez
Seu canto se faz reluzir, podemos sorrir outra vez
Samba, eterno delírio do compositor
Que nasce da alma, sem pele, sem cor
Com simplicidade, não sendo vulgar
Fazendo da nossa alegria, seu habitat natural
O samba floresce do fundo do nosso quintal

Este samba é pra você que vive a falar, a criticar
Querendo esnobar, querendo acabar com a nossa cultura popular
É bonito de se ver o samba correr, pro lado de lá
Fronteira não há, pra nos impedir
Você não samba, mas tem que aplaudir

Cheiro de Saudade
(Sereno / Jorge Aragão)

Vem, com cheiro de saudade, vem pra mim com teu cheiro de amor
Trazendo nos teus olhos, um desejo na boca a doçura de um beijo
Vem me apertar em teus braços envenenar meu sangue
Hoje eu quero é mais morrer de amor

Vou me entregar, me sentir no ar feito a leveza das plumas
Qual um jardim onde o beija-flor
Seja o perfume das flores entre sussurros de amor, ah!
Vem meu coração, sente o delírio dessa paixão
Então vem, meu coração, sente o delírio dessa paixão.

23 de maio de 2012

Silvio Caldas.

O dia de hoje marca a data de aniversário de uma das mais importantes vozes da música nacional, o grande Silvio Caldas.
Sílvio Antônio Narciso de Figueiredo Caldas nasceu no Rio de Janeiro, RJ, em 23 de maio de 1908. Criou-se no bairro de São Cristóvão, na rua São Luís Gonzaga. Filho de Antônio Narciso Caldas, carioca, dono de pequena loja de instrumentos musicais, afinador e consertador de pianos e compositor com várias músicas publicadas, assinando-se A. N. Caldas. Foi praticamente criado por uma vizinha, que no Carnaval formava o Bloco da Família Ideal com parentes e amigos. O pequeno Sílvio, chamado de Rouxinol da Família Ideal, cantava cavalgando o pescoço dos remadores de São Cristóvão. Participava de festas, dançava e sapateava nas mesas dos bares, e cantava nas reuniões do Largo da Cancela. Com seis anos cantou um samba de bloco no Teatro Fênix, levado pelo pai, durante conferencia literária. Começou a trabalhar aos nove anos como aprendiz de mecânico e, aos 16, em 1924, saiu de casa para trabalhar na capital paulista. Mudou-se para Catanduva, SP, onde foi leiteiro. Exerceu diversas outras atividades como lavador de carros, cozinheiro de turma, motorista de caminhão e mecânico de manutenção dos caminhões das obras da estrada Rio-São Paulo, atual Via Dutra. Em 1927 voltou ao Rio de Janeiro e foi ouvido numa seresta por Antônio Gomes, um cantor de tangos que o levou a Rádio Mayrink Veiga. Em 1929 passou a cantar na Rádio Sociedade. Começou a gravar no inicio de 1930, sendo que sua primeira e segunda gravação, os sambas “Amoroso” composição sua com Quincas Freire e “Alô, Meu Bem”, de Carlos de Almeida, foram lançadas no segundo e terceiro discos, respectivamente, e no primeiro saiu o desafio “Tracuá Me Ferrô” de Sátiro de Melo. Numa de suas gravações, o samba “Ioiô Deste Ano” de Henrique Vogeler, para o Carnaval de 1931, pôs uma pequena bossa, "eba!", que foi notada por Ary Barroso, suficiente para que o levasse para a revista musical Brasil do Amor, no Teatro Recreio. Na revista lançou o samba Faceira de Ary Barroso, seu primeiro sucesso também em disco. Nesse ano gravou o samba “Gira”, em dueto com Carmen Miranda, e com Elisa Coelho “Batuque” e o samba “Terra de Iaiá”, todos de Ary Barroso, e o samba Mão No Remo (Ary e Noel Rosa); e, para o Carnaval de 1932, os sambas “É Mentira”, “Oi” e “Um Samba em Piedade”, também de Ary Barroso. Nesse ano atuou nas revistas musicais Angu de Caroço e Brasil da Gente. Gravou ainda o samba “Se Eu Fora Rei”, de sua autoria, e o samba-canção “Maria” (Ary Barroso e Luís Peixoto), um clássico. Cantou como exclusivo do Programa Case na Rádio Philips. Voltaria à Rádio Mayrink Veiga e em outras épocas seria contratado da Rádio Nacional, da Tupi e de outras emissoras. No Carnaval de 1933 lançou a marcha “Segura Esta Mulher” (Ary Barroso) e o samba “E Ela Não Jurou” (André Filho).
Depois, o samba “Lenço no Pescoço”, de Wilson Batista, iniciador da polemica musical entre Wilson e Noel Rosa. Foi também para a Argentina, com a companhia de revistas de Jardel Jercolis. No Carnaval de 1934 fez grande sucesso com o samba “Vou Partir” (João de Barro) e a marcha “Linda Lourinha” (idem). Nesse ano começou a compor com Orestes Barbosa. A primeira música foi o samba “Sem Você”, gravado por Aurora Miranda. Ele mesmo gravou da parceria as valsas “Santa dos Meus Amores” e “Serenata”, lançadas em 1935. Ainda em 1935 lançou, de sua parceria com Orestes as valsas “Torturante Ironia” e “Quase Que Eu Disse”, e outras duas, “Soluço” e “Vestido das Lagrimas”, foram gravadas por Floriano Belham. No Carnaval desse ano venceu o concurso oficial, na categoria marcha, com “Coração Ingrato” (Nássara e Frazão). Marcou sucesso no ano com as valsas “Há Um Segredo Em Teus Olhos” (Gastão Lamounier e Osvaldo Santiago) e “Boneca” (Benedito Lacerda e Aldo Cabral) e os sambas “O Telefone do Amor” (Benedito Lacerda e Jorge Faraj) e “Arrependimento” (com Cristóvão de Alencar). Também atuou no filme Favela dos Meus Amores, de Humberto Mauro. Em 1936 gravou com Orestes Barbosa as valsas “O Nome Dela Não Digo” e “Meu Erro” e atuou no filme Carioca Maravilhosa, de Luís de Barros. Em 1937 teve êxito no Carnaval com a marcha “A Menina Presidência” (Nássara e Cristóvão de Alencar) e com mais duas parcerias com Orestes Barbosa, a valsa “Arranha-Céu” e a canção “Chão de Estrelas”, esta um clássico, cujo titulo original era “Sonoridade Que Acabou”, modificado por Guilherme de Almeida. Nesse ano lançou ainda, em dueto com Carmen Miranda, o samba “Fon-fon” (João de Barro e Alberto Ribeiro) e o congo “Quando Eu Penso na Bahia” (Ary Barroso e Luís Peixoto), bem como o samba “Meu Limão, Meu Limoeiro” (M. P., arranjo de José Carlos Burle), em duo com Gidinho (seu irmão Gildo). No Carnaval de 1938 foi escolhido Cidadão Samba e gravou a marcha “Pastorinhas” (Noel Rosa e João de Barro), vencedora na categoria do concurso carnavalesco oficial.
Gravou três discos com seis músicas, entre elas a valsa “Flor de Lótus” (com Alberto Ribeiro), o samba- canção “Mentes ao Meu Coração” (Francisco Malfitano) e a valsa-canção “Suburbana” (com Orestes Barbosa); e depois as valsas “Falsa Felicidade” e “Sorris de Minha Dor” (ambas do estreante Paulo Medeiros). No Carnaval de 1939 venceu com a marcha “Florisbela” (Nássara e Frazão) o concurso oficial, deixando em segundo lugar “A Jardineira” (Benedito Lacerda e Humberto Porto). Nesse ano gravou os sambas “Pra Que Mentir” (Noel Rosa), “Cessa Tudo” (Lamartine Babo e Celso Macedo), “Da Cor do Pecado” (Bororó) e a valsa “Deusa da Minha Rua” (Newton Teixeira e Jorge Faraj). Em 1940 foram sucessos o fox-canção “Mulher”, as valsas “Velho Realejo” (ambas de Custodio Mesquita e Sadi Cabral), “Kátia” (Georges Moran e Vítor Bezerra) e “O Amor é Assim” (Sivan Castelo Neto), a marcha-rancho “Andorinha” (sua autoria) e o samba “Preto Velho” (Custodio Mesquita e Jorge Faraj). Em 1941 lançou os sambas “Rosinha” (Heber de Bôscoli e Mário Martins), em trio com Orlando Silva e Ciro Monteiro, e “Morena Boca de Ouro” (Ary Barroso). No ano seguinte gravou os sambas “Sereia” (Nássara e Dunga), “Duas Janelas” (Wilson Batista e Jorge Faraj) e “Meus Vinte Anos” (com Wilson Batista). Em 1943 registrou “Modinha” (Jaime Ovalle e Manuel Bandeira), a canção “Serrana” (Alberto Costa e José Judice), os sambas “Promessa” (Custodio Mesquita e Evaldo Rui) e “A Vida Em Quatro Tempos” (Custódio e Paulo Orlando). Em 1944 participou do filme carnavalesco Tristezas Não Pagam Dívidas, de José Carlos Burle. Gravou também os sambas “Como os Rios Que Correm Pro Mar” e “Valsa do Meu Subúrbio” (ambos de Custodio Mesquita e Evaldo Rui) e o samba “Algodão” (Custodio e Davi Nasser). Em 1945 atuou no filme carnavalesco “Não Adianta Chorar”, de Watson Macedo e fez sucesso no Carnaval com o samba “Fica Doido Varrido” (Benedito Lacerda e Frazão). Em 1946 gravou a canção “Minha Casa” (Joubert de Carvalho), o fado-tango “O Despertar da Montanha” (Eduardo Souto), de 1919, mas cantado pela primeira vez com os versos de Francisco Pimentel.
Em 1947 fez sucesso no Carnaval com a marcha-rancho Anda Luzia (João de Barro) e, depois, com o choro “Pastora dos Olhos Castanhos” (Horondino Silva e Alberto Ribeiro) e o samba “Não Chores Assim” (com Alberto Ribeiro). Nesse ano participou do filme Luz dos Meus Olhos, de José Carlos Burle. Em 1951 criou novo sucesso, o samba “Nos Braços de Isabel” (com José Judice). Em 1953 num mesmo disco lançou dois sucessos, a canção “Silêncio do Cantor” (Davi Nasser e Joubert de Carvalho) e “Flamboyant” (Joubert de Carvalho). Em 1954, lançou a canção “Poema dos Olhos da Amada” (Vinícius de Moraes e Paulo Soledade). No ano seguinte, gravou as duas ultimas composições de sua parceria com Orestes Barbosa, o samba-canção “A Única Rima”, engavetado desde 1936, e a valsa-canção “Turca do Meu Brasil”, que finalmente resolvera musicar, totalizando 14 músicas. Em 1957 ganhou o concurso Canções para o Dia das Mães do jornal O Globo com a valsa-canção “Canção Para a Mamãe” (Lila Santana) e fez sucesso com “Viva Meu Samba” (Billy Blanco). Em 1959 lançou o samba “Pistom de Gafieira” (Billy Blanco), um dos destaques do ano. Posteriormente lançou os LPs Cabelos Brancos (1959), Eternamente (1960), Sílvio Caldas em Pessoa (1960), Titio Canta Para Você (1963) e Canta O Seresteiro (1966). Lançou o álbum duplo Elizeth Cardoso e Sílvio Caldas (1971), o LP Isto e São Paulo (1960), apenas com composições de Lauro Miller, e o LP Sílvio Caldas e Pedro Vargas Ao Vivo no Canecão (1977). Em sua longa trajetória teve diversos slogans, sendo os mais conhecidos O Caboclinho Querido (dado por César Ladeira) e Titio. Em 1992 recebeu a Medalha de Machado de Assis, concedida por unanimidade pela Academia Brasileira de Letras, por proposta de Jorge Amado. Viveu seus últimos 40 anos em seu sitio de Atibaia SP, onde morreu em 03 de fevereiro de 1998.

Cabelos Brancos
(Herivelto Martins / Marino Pinto)

Não falem desta mulher perto de mim
Não falem pra não lembrar minha dor
Já fui moço, já gozei a mocidade
Se me lembro dela me dá saudade
Por ela vivo aos trancos e barrancos
Respeitem ao menos os meus cabelos brancos.

Ninguém viveu a vida que eu vivi
Ninguém sofreu na vida o que eu sofri
As lágrimas sentidas, os meus sorrisos francos
Refletem-se hoje em dia nos meus cabelos brancos
E agora em homenagem ao meu fim
Não falem desta mulher perto de mim

Lenço no Pescoço
(Wilson Batista)

Meu chapéu do lado tamanco arrastando
Lenço no pescoço, navalha no bolso
Eu passo gingando, provoco e desafio
Eu tenho orgulho em ser tão vadio

Sei que eles falam deste meu proceder
Eu vejo quem trabalha andar no miserê
Eu sou vadio porque tive inclinação
Eu me lembro, era criança, tirava samba-canção
Comigo não, eu quero ver quem tem razão

E eles tocam, e você canta, e eu não dou

Pistom de Gafieira
(Billy Blanco)

Na gafieira segue o baile calmamente
Com muita gente dando volta no salão
Tudo vai bem, mais eis porém que de repente
Um pé subiu e alguém de cara foi ao chão
Não é que o Doca é um crioulo comportado
Ficou tarado quando viu a Dagmar
Toda soltinha dentro de um vestido saco
Tendo ao lado um cara fraco, foi tirá-la pra dançar
O moço era faixa preta simplesmente
E fez o Doca rebolar sem bambolê
A porta fecha enquanto o duro vai não vai
Quem está fora não entra, quem está dentro não sai
Mas a orquestra sempre toma providência
Tocando alto pra polícia não manjar
E nessa altura como parte da rotina
O pistom tira a surdina e põe as coisas no lugar

17 de maio de 2012

João da Baiana.

O dia de hoje marca a data de nascimento de um dos nomes mais importantes da história do samba, principalmente em seus primeiros passos, o fantástico João da Baiana.
João Machado Guedes, nasceu no dia 17 de maio de 1.887 Rio de Janeiro. Compositor e pandeirista, filho de Félix José Guedes e Perciliana Maria Constança. Seus avós, ex-escravos tinham uma quitanda de artigos afro-brasileiros no Largo da Sé. Sua mãe, conhecida pelo nome de Tia Perciliana, era baiana, donde surgiu seu apelido, João da Baiana, para distingui-lo de outros Joões do bairro. Foi criado na Rua Senador Pompeu, no bairro da Cidade Nova, onde tomou lições de cartilha. Na infância, teve como companheiros os futuros compositores Donga e Heitor dos Prazeres. Seus pais constantemente promoviam festas de candomblé, para as quais deviam tirar licença com o chefe de polícia, pois na época o samba, a batucada e o candomblé eram manifestações proibidas. Sua mãe teve 12 filhos, todos baianos, exceto ele. Um de seus irmãos era palhaço de circo e tocava violão e cavaquinho. Uma de suas irmãs tocava violino. Começou a compor sambas desde garoto. Sua mãe apreciava os dotes do menino para a batucada, o candomblé e a macumba, dotes que o destacavam de seus irmãos. Iniciou-se no pandeiro, instrumento para o qual tinha grande aptidão.

Em seu depoimento ao Museu da Imagem e do Som, que abriu em 1966 o ciclo de depoimentos para a posteridade, de larga repercussão no Rio e em todo o país, disse que sempre se dedicou ao pandeiro porque tinha amor ao ritmo e que sempre que os garotos da rua formavam uma roda de samba era ele quem tocava melhor o pandeiro. Ainda menino, trabalhou no circo como chefe da claque dos garotos que respondiam ao "Hoje tem marmelada ? Tem sim senhor". Por essa época, passou a se dedicar à pintura, uma grande paixão do compositor. Aos nove anos, ingressou como aprendiz no Arsenal da Marinha. Deu baixa três anos mais tarde, passando então a trabalhar no 2º Batalhão de Artilharia, como ajudante de cocheiro sob o comando de Hermes da Fonseca, futuro Marechal e Presidente da República. Em 1908, quando se apresentava na tradicional Festa da Penha, teve seu pandeiro apreendido pela polícia. O senador Pinheiro Machado, que era seu admirador e que freqüentemente promovia festas em "seu" palácio no Morro da Graça, o convidou para uma dessas festas e como ele não apareceu, quis saber o porque. Ao saber que o instrumentista tivera seu pandeiro apreendido, resolveu presenteá-lo com um novo padeiro, que trazia a seguinte inscrição: "Com a minha admiração, ao João da Baiana - Pinheiro Machado". Com essa dedicatória do senador, pode voltar por diversas vezes à Festa da Penha, como integrante do Grupo do Malaquias, sem que a polícia fosse atormentá-lo. Em 1910, passou a trabalhar no Cais do Porto, sendo promovido a fiscal, em 1920.

Por esse motivo, não acompanhou "Os Oito Batutas" à Paris, pois não queria trocar seu emprego certo pela aventura. Aposentou-se em 1949. Casou-se e teve dois filhos que morreram ainda na infância. Em 1972, foi recolhido à Casa dos Artistas, em Jacarepaguá, onde morreu dois anos depois.
Foi o responsável pela introdução do pandeiro no samba, o qual, segundo ele, na época era só usado em orquestras, isto mais ou menos quando tinha oito anos de idade e era Porta-Machado no "Dois de Ouro" e no "Pedra do Sal", até então nas agremiações só se tinha tamborim, assim mesmo eram tamborins grandes e de cabo, sendo que o pandeiro não era igual ao atual, sendo o da época bem maior".
Em 1924, compôs com Donga e Pixinguinha o samba "Mulher Cruel". Em 1928, ingressou no rádio como ritmista, tocando pandeiro, prato e faca, tendo atuado nas Rádios Cajuti, Transmissora, Educadora e Philips. Em 1930, teve o samba "Pelo Amor da Mulata", sua primeira composição, feita sete anos antes, gravado por Patrício Teixeira, que gravou também no mesmo ano o samba "O Futuro é Uma Caveira". Em 1931, passou a integrar o "Grupo da Guarda Velha", conjunto organizado por Pixinguinha que reuniu alguns dos maiores instrumentistas brasileiros da época. Realizaram quatro gravações, acompanhando também grandes cantores como Carmen Miranda, Sílvio Caldas, Mário Reis, Jonjoca e Castro Barbosa, entre outros. O primeiro disco da Guarda Velha, gravado em dezembro daquele ano, trazia o partido alto "Há! Hu! Lahô" e a chula raiada "Patrão Prenda Seu Gado", as duas de sua parceria com Pixinguinha e Donga. Ainda no mesmo ano, gravou o samba "Viva Meu Orixá", no lado B de um disco que trazia no lado A, o cantor Francsico Sena interpretando, de sua autoria o samba "Convencida".
Em 1932, Patrício Teixeira gravou os sambas "Quem Faz a Deus Paga ao Diabo", "Cabide de Molambo" e "Ai, Zezé", este uma parceria dos dois. A respeito do samba "Cabide de Molambo", afirmou em depoimento: "Eu acho que este samba inspirou o Noel Rosa a fazer o "Com Que Roupa".
No mesmo ano, outras duas parcerias com Donga e Pixinguinha, a batucada "Já Andei" e a macumba "Que Queré", foram gravadas pelo Grupo da Guarda Velha, com Zaíra de Oliveira e Francisco Sena. Ainda em 1932, o cantor Francisco Sena lançou a batucada "Vi o Pombo Gemê" e a macumba "Xou Coringa". Atuou em vários conjuntos entre os quais o "Grupo do Malaquias", o "Grupo do Louro", o "Conjunto dos Moles" e o conjunto "Alfredinho no Choro". Em fins de 1932, Pixinguinha a orquestra "Diabos do Céu", com alguns dos integrantes do Grupo da Guarda Velha, grupo que estreou em disco acompanhando Carmen Miranda na gravação de "Etc", samba de Assis Valente.
Conhecedor do candomblé, gravou diversas corimbás, com algumas palavras em dialeto africano, cantadas no início das sessões de candomblé. Em 1936, seu samba "Seu Pai Não Quer" foi gravado por Castro Barbosa. Em 1937, Pixinguinha reuniu quatro músicos, Tute (violão de sete cordas), Luperce Miranda (cavaquinho), Valeriano (violão de seis cordas) e João da Baiana (pandeiro), formando o conjunto "Os Cinco Companheiros", que atuou com Vicente Celestino e Gilda de Abreu.
Em 1938, gravou com seu conjunto as macumbas "Sereia" e "Folha por Folha", parcerias com Getúlio Marinho. No ano de 1940, Leopoldo Stokowski solicitou a Villa-Lobos que selecionasse e reunisse os mais representativos artistas de Música Popular Brasileira, para gravação de músicas destinadas ao Congresso Pan-Americano de Folclore. Villa-Lobos incluiu no grupo escolhido a nata dos verdadeiros criadores nacionais de música: Pixinguinha, Cartola, Donga, João da Baiana e Zé Espinguela. As gravações realizaram-se na noite de 7 para 8 de agosto de 1940, a bordo do navio Uruguai atracado no Armazém 4. Foram registradas 40 músicas e apenas 16 chegaram ao disco, reproduzidas nos Estados Unidos em dois álbuns de quatro fonogramas cada um, sob o título "Columbia Presents - Native Brazilian Music - Leopold Stokowski". Em 1950, seu tema afro-brasileiro "Ogum Nilê", com Raul Carrazatto, foi gravado pelo trio vocal, Trigêmeos Vocalistas.
Em 1952, lançou os ritmos afro brasileiros "Lamento de Inhançã" e "Lamento de Xangô", de sua autoria. Por quatro anos seguidos, gravou anualmente um disco intitulado "João da Baiana No Seu Terreiro", interpretando pontos de macumba de sua autoria. Em 1954, Almirante organizou em São Paulo o I Festival da Velha Guarda, reunindo vários músicos veteranos. No segundo Festival da Velha Guarda, a caravana carioca formou em caráter regular um conjunto denominado Velha Guarda do qual faziam parte, além dele, Pixinguinha, Donga e Alfredinho Flautim, entre outros . Em 1955, o grupo gravou seu primeiro LP "A Velha Guarda" seguido de um outro "Carnaval da Velha Guarda".
Em 1957, lançou com Sussu o LP "Batuques e pontos de macumba", no qual interpretou "Quê, Quê, Rê, Quê, Quê", "O Cachimbo da Vovó", "Nanan Boroque" e "Amalá de Xangô", todos de sua autoria. Em 1966, foi convidado por Ricardo Cravo Albin, depois de seu nome ter sido sufragado pela unanimidade do Conselho Superior de Música Popular Brasileira do Museu da Imagem e do Som, para realizar o primeiro depoimento para a posteridade do M.I.S., que não só abriu o ciclo como também definiria a estrutura principal do museu junto à opinião pública de todo o país. Este seu histórico depoimento obteve grande repercussão na imprensa e deu por inaugurado, junto à mídia, o próprio museu, então desconhecido.

Em 1968, foi lançado o LP "Gente da Antiga", produzido por Hermínio B. de Carvalho, contando além de sua participação, com as de Clementina de Jesus e Pixinguinha. No mesmo ano, lançou na Bienal do Samba da TV Record o samba "Quando a Polícia Chegar", defendido por Clementina de Jesus.
João da Baiana faleceu no dia 12 de janeiro de 1.974. Segundo Ricardo Cravo Albin, foi, além de exímio pandeirista e de uma doce e inesquecível figura humana, um dos grandes ritmistas do prato com faca, habilidade que aprendeu ainda na infância, por influência de uma tradição cultivada na Bahia.

Patrão Prenda Seu Gado
(Donga / Pixinguinha / João da Baiana)

Ô patrão! Ô patrão! Ô patrão, prenda seu gado!
Na lavra tem um ditado, quem mata gado é jurado
Missa de padra é latim, rapaz solteiro é letrado
Em vim preso da Bahia só porque era namorado
Madame Diê, lalá!
Samba ioiô, samba iaiá
Que o dia e vem, doná

Eu bem sei... Eu bem sei... Eu bem sei que fui culpado
De vir preso da Bahia só porque fui namorado
Vou tirar meu passaporte, meu camarote de proa
Eu aqui não vou ficar vou-me embora pra Lisboa
Senhorita vai ver, Doná!
Samba ioiô! Samba iaiá!
Que o dia e vem, doná

Ô, Joana! Ô Maria! Saruê pra que trabalha
No pescoço da cutia, no pavilhão, da atalaia
Era hoje, era ontem, era donte
Era donte, era ontem, era hoje
Sinhazinha mandou me chamá
Corri quatro cantos, balão de iaiá

Batuque na Cozinha
(João da Baiana)

Não moro em casa de cômodo, não é por ter medo não
Na cozinha muita gente sempre dá em alteração
Mas o batuque na cozinha sinhá não quer
Por causa do batuque eu quebrei meu pé

Então não pula na cumbuca, não espanta churrasco
Se o branco tem ciúme que dirá o mulato
Eu fui na cozinha pra vê uma cebola e o branco com ciúme de uma tal criola.
Deixei a cebola, peguei na batata e o branco com ciúme de uma tal mulata
Peguei no balaio pra medir a farinha e o branco com ciúme de uma tal branquinha
Então não pula na cumbuca, não espanta churrasco
Se o branco tem ciúme que dirá o mulato

Batuque na cozinha sinhá não quer
Por causa do batuque eu quebrei meu pé

Voltei na cozinha pra tomar café, malandro ta de olho na minha mulher
Mas comigo eu apelei para a desarmonia e fomos direto para a delegacia
Seu comissário foi dizendo com altivez, é da casa de cômodo da tal Inês
Revista os dois bota no xadrez, malandro comigo não tem vez

Mas o batuque na cozinha sinhá não quer
Por causa do batuque eu quebrei meu pé

Mas Seu comissário estou com a razão, eu não moro na casa de habitação
Eu fui apanhar meu violão, que tava empenhado com Salomão
Eu pago a fiança com satisfação, mas não me bota no xadrez com esse malandrão
Que faltou com respeito ao cidadão, que é Paraíba do Norte Maranhão

Batuque na cozinha sinhá não quer
Por causa do batuque eu quebrei meu pé

Cabide de Molambo
(João da Baiana)

Meu Deus, eu ando com o sapato furado,
Tenho a mania de andar engravatado,
A minha cama é um pedaço de esteira,
E uma lata velha me serve de cadeira.
Minha camisa foi encontrada na praia,
A gravata foi achada na Ilha da Sapucaia,
Meu terno branco parece casca de alho,
Foi a deixa de cadáver, num acidente do trabalho.
O meu chapéu foi de um pobre surdo e mudo,
As botina, foi de um velho, da Revorta de Canudo,
Quando eu saio a passeio, as damas ficam falando,
"Trabalhei tanto na vida, o malandro tá gozando !"
A refeição é que é interessante,
Na tendinha do Tinoco, no pedir eu sou constante,
O Português, meu amigo sem orgulho,
Me sacode um caldo grosso, carregado no entulho.

Quem somos.

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Bragança Paulista, SP
A Ala de Compositores da Faculdade do Samba Dragão Imperial possui cerca de 40 membros, dos quais grande parte todos os anos escrevem e participam do concurso da escolha do samba enredo da Azul e Rosa. Os Poetas Imperiais, como também são denominados, realizam rodas de samba semanais nas quais relembram sambas de diversos ícones desse ritmo brasileiro, com um tempêro todo seu na "quase famosa" Panela Imperial, que inclusive já se apresentou em algumas cidades, como Serra Negra, além da sua Bragança Paulista. Esse blog é um veículo para a divulgação das atividades da Ala, de dados culturais relativos ao samba, além de ser um espaço para que nossos compositores divulguem suas letras, os áudios de seus sambas, postem fotos de eventos realizados e muito mais...

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