Em toda a história do samba é certo que existiram e existam milhares de compositores espalhados por todo nosso território nacional que tenham contribuído com suas obras no engrandecimento desta área musical brasileira como a mais popular de todas. Muitos talvez não tenham seu nome reconhecido com toda a amplitude merecida, mesmo com uma base oriunda de uma grande entidade ou centro cultural de samba. Talvez até tenham o reconhecimento pleno de suas comunidades, o que já é considerado por muitos deles como o maior mérito conquistado, entretanto, por tanto talento empreendido, com certeza são merecedores de um espaço maior na lembrança por sua colaboração. O compositor Jorge Gomes Pessanha, ou Jorginho Pessanha, é um desses casos que hoje tentamos minimizar dessa condição, através de um brevíssimo resumo de sua história.
Nascido no dia 30 de março de 1931 na cidade de Campos, no Rio de Janeiro, filho do fundador da Escola de Samba Unidos da Capela, no subúrbio de Parada de Lucas, no Rio de Janeiro, desde os sete anos, o pai já o levava para freqüentar as rodas de samba da escola. Após a fusão da “Unidos da Capela” com a “Aprendizes de Lucas”, que originou o Grêmio Recreativo e Escola de Samba Unidos de Lucas, optou por deixar a escola. Por esta época, foi para a Ala dos Compositores do Império Serrano, a convite de Moacyr Rodrigues, então presidente imperiano, e como integrante da Ala fez parte da Delegação Brasileira que se apresentou no "Primeiro Festival de Arte Negra", em Dakar, no Senegal, realizado no ano de 1966, integrando o grupo de músicos que acompanhava Clementina de Jesus, Elton Medeiros, Ataulfo Alves, Heitor dos Prazeres e Paulinho da Viola, entre outros intérpretes. Constam entre seus parceiros de composições: Oswaldo Vitalino de Oliveira, o Padeirinho, e Leci Brandão, ambos da Mangueira, Mano Décio da Viola do Império Serrano e Walter Rosa da Portela, o que ressalta a sua importância nas rodas de samba dos morros e escolas cariocas, tanto que no livro "Velhas Histórias, Memórias Futuras", de Eduardo Granja Coutinho e lançado pela Editora Uerj em 2002, se encontram várias referências ao compositor feitas pelo autor.
Suas obras foram interpretadas por nomes como Roberto Silva, Zuzuca, Jorginho do Império, Leci Brandão, Neguinho da Beija-Flor, Beth Carvalho e Cristina Buarque, se destacando o samba Favela, composto em parceria com Padeirinho.
Jorginho Pessanha nos deixou no dia 18 de fevereiro de 1.981, praticamente no anonimato, embora tenha lançado dois discos, ambos na década de 70.
Favela
(Padeirinho/Jorginho Pessanha)
Numa vasta extensão onde não há plantação
Nem ninguém morando lá
Cada pobre que passa por ali
Só pensa em construir seu lar
E quando o primeiro começa
Os outros depressa procuram marcar
Seu pedacinho de terra pra morar
E assim a região sofre modificação
Fica sendo chamada de a nova aquarela
E é aí que o lugar então passa a se chamar favela
Hora de Chorar
(Mano Décio da Viola/ Jorginho Pessanha)
Com licença está na minha hora de chorar
Paciência quero me desabafar
Só quem perdeu um grande amor
Sabe dar valor ao pranto meu
Quero ver chorar quem não sofreu
Quero ver chorar quem não sofreu
Deixa meu pranto rolar
Hoje eu quero sofrer
A recordação de um grande amor
Faço do pranto a dor da minha dor
Ôôôôôô
Esse pranto faz parte do meu desamor