POETAS IMPERIAIS, SEMPRE NA BOCA DO POVO!



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30 de março de 2012

Jorginho Pessanha.

Em toda a história do samba é certo que existiram e existam milhares de compositores espalhados por todo nosso território nacional que tenham contribuído com suas obras no engrandecimento desta área musical brasileira como a mais popular de todas. Muitos talvez não tenham seu nome reconhecido com toda a amplitude merecida, mesmo com uma base oriunda de uma grande entidade ou centro cultural de samba. Talvez até tenham o reconhecimento pleno de suas comunidades, o que já é considerado por muitos deles como o maior mérito conquistado, entretanto, por tanto talento empreendido, com certeza são merecedores de um espaço maior na lembrança por sua colaboração. O compositor Jorge Gomes Pessanha, ou Jorginho Pessanha, é um desses casos que hoje tentamos minimizar dessa condição, através de um brevíssimo resumo de sua história.
Nascido no dia 30 de março de 1931 na cidade de Campos, no Rio de Janeiro, filho do fundador da Escola de Samba Unidos da Capela, no subúrbio de Parada de Lucas, no Rio de Janeiro, desde os sete anos, o pai já o levava para freqüentar as rodas de samba da escola. Após a fusão da “Unidos da Capela” com a “Aprendizes de Lucas”, que originou o Grêmio Recreativo e Escola de Samba Unidos de Lucas, optou por deixar a escola. Por esta época, foi para a Ala dos Compositores do Império Serrano, a convite de Moacyr Rodrigues, então presidente imperiano, e como integrante da Ala fez parte da Delegação Brasileira que se apresentou no "Primeiro Festival de Arte Negra", em Dakar, no Senegal, realizado no ano de 1966, integrando o grupo de músicos que acompanhava Clementina de Jesus, Elton Medeiros, Ataulfo Alves, Heitor dos Prazeres e Paulinho da Viola, entre outros intérpretes. Constam entre seus parceiros de composições: Oswaldo Vitalino de Oliveira, o Padeirinho, e Leci Brandão, ambos da Mangueira, Mano Décio da Viola do Império Serrano e Walter Rosa da Portela, o que ressalta a sua importância nas rodas de samba dos morros e escolas cariocas, tanto que no livro "Velhas Histórias, Memórias Futuras", de Eduardo Granja Coutinho e lançado pela Editora Uerj em 2002, se encontram várias referências ao compositor feitas pelo autor.
Suas obras foram interpretadas por nomes como Roberto Silva, Zuzuca, Jorginho do Império, Leci Brandão, Neguinho da Beija-Flor, Beth Carvalho e Cristina Buarque, se destacando o samba Favela, composto em parceria com Padeirinho.
Jorginho Pessanha nos deixou no dia 18 de fevereiro de 1.981, praticamente no anonimato, embora tenha lançado dois discos, ambos na década de 70.

Favela
(Padeirinho/Jorginho Pessanha)

Numa vasta extensão onde não há plantação
Nem ninguém morando lá
Cada pobre que passa por ali
Só pensa em construir seu lar

E quando o primeiro começa
Os outros depressa procuram marcar
Seu pedacinho de terra pra morar
E assim a região sofre modificação
Fica sendo chamada de a nova aquarela
E é aí que o lugar então passa a se chamar favela

Hora de Chorar
(Mano Décio da Viola/ Jorginho Pessanha)

Com licença está na minha hora de chorar
Paciência quero me desabafar
Só quem perdeu um grande amor
Sabe dar valor ao pranto meu
Quero ver chorar quem não sofreu
Quero ver chorar quem não sofreu

Deixa meu pranto rolar
Hoje eu quero sofrer
A recordação de um grande amor
Faço do pranto a dor da minha dor

Ôôôôôô
Esse pranto faz parte do meu desamor

29 de março de 2012

Yes, para sempre Braguinha...

“Meu coração não sei por que bate feliz quando te vê...” Bem, não bastassem todos os motivos que se queira encontrar, hoje é um dia muito especial para se relembrar essa linda canção, uma das mais importantes da música popular brasileira, que recebeu segundo se sabe, mais de cem gravações feitas por parte dos mais diferentes artistas brasileiros e estrangeiros, como Dalva de Oliveira, Isaura Garcia, Ângela Maria, Gilberto Alves, Elis Regina, João Bosco e outros.

O autor de tão lindos versos e que tão bem se casaram com a melodia da música feita por Pixinguinha comemoraria na data de hoje 105 anos de idade. Carlos Alberto Ferreira Braga, Braguinha ou João de Barro, como se autodenominou a fim de evitar constrangimentos com seus familiares, os quais não viam com bons olhos o ambiente da música popular da época, muito mal visto então.
Nasceu no dia 29 de março de 1.907, sendo o primeiro filho de um casal de classe média carioca, morou nos bairros da Gávea e de Botafogo, mas muito de sua boa e feliz infância se passou no bairro de Vila Isabel. Familiarizou-se com a música logo cedo, quando menino ainda, costumava cantar acompanhando sua avó ao piano, inciando sua trajetória como um dos compositores de maior expressão da nossa música popular ainda adolescente quando compôs sua primeira obra, isso no começo da década de 20.
Mesmo sem conhecimentos formais de música, pois não sabia tocar nenhum instrumento musical, compunha na base do assovio, uma característica sua e se transformou num campeão da folia, especializado em marchinhas carnavalescas, com sucessos como Linda Lourinha, Dama das Camélias, Cadê Mimi, Balancê, Andaluzia, Pirata da Perna de Pau, Chiquita Bacana, A Mulata É a Tal e Touradas em Madri, historicamente cantado por um Maracanã em festa na goleada do Brasil sobre a Espanha, na fatídica Copa de 1.950.
No ano de 1937, atendendo a um pedido da cantora Heloísa Helena, escreveu a letra para um choro-canção instrumental do mestre Pixinguinha, nascendo assim o hino Carinhoso, uma das canções mais gravadas e executadas do nosso repertório nacional.
Yes, Nós Temos Bananas, foi outro de seus grandes sucessos que foi posteriormente classificado como uma espécie de manifesto pré-tropicalista por ser uma resposta a um fox americano chamado Yes, We Have No Bananas. Lembrando esse título, aliás, em 1.986, ano da inauguração do Sambódromo da cidade do Rio de Janeiro, a Estação Primeira de Mangueira o homenageou desfilando com o enredo que intitulou “Yes, Nós Temos Braguinha”, tendo a escola se sagrado na ocasião, a primeira campeã da Marquês de Sapucaí.
Várias de suas canções foram feitas somente por sua pessoa, entretanto, verificando sua extensa lista de composições, onde se encontram inclusive versões e canções infantis, se nota o registro de diversas parceiras, como em “Samba da Boa Vontade”, composto com Noel Rosa, mas seus parceiros mais constantes foram Alberto Ribeiro, Alcyr Pires Vermelho, Antonio Almeida e Jota Júnior.


Braguinha se foi num domingo, véspera de natal, no ano de 2.006, mas deixou eterna sua colaboração para com a música brasileira, por meio de sua imensa galeria de composições, sendo um nome a ser sempre reverenciado na história musical brasileira, e, só relembrando o início do texto, acredito sinceramente, que toda vez que a gente sinta algo tentando devorar nosso coração, de um jeito carinhoso, através de sua canção, com certeza vamos ser felizes... Bem felizes!


Carinhoso
(Pixinguinha/Braguinha(João-de-Barro)

Meu coração, não sei por quê,
Bate feliz quando te vê
E os meus olhos ficam sorrindo,
E pelas ruas vão te seguindo,
Mas mesmo assim foges de mim.
Ah se tu soubesses como sou tão carinhoso
E o muito, muito que te quero.
E como é sincero o meu amor,
Eu sei que tu não fugirias mais de mim.
Vem, vem, vem, vem...
Vem sentir o calor dos lábios meus à procura dos teus.
Vem matar essa paixão que me devora o coração
E só assim então serei feliz...Bem feliz!

28 de março de 2012

Hermínio Bello de Carvalho

Um dos pontos mais interessantes que acreditamos que possa ser destacado em nossa Ala de Compositores, e que suponhamos que também ocorra em outras, talvez seja a troca de informações e opiniões que ocorrem, principalmente quando dos encontros que realizamos, infelizmente não com a presença de todos os integrantes, mas com pelo menos com boa parte deles, somados ainda aos inúmeros amigos que nos acompanham.
Nessas ocasiões, entre um samba e outro, uma cerveja e outra, acabamos por compartilhar nomes, letras, eventos e situações relativas ao samba, não sendo raro, por exemplo, alguém comentar sobre determinada cantora, não muito conhecida do público em geral e que até muitos de nós desconheçam, sem que chegado o encontro posterior já se ouça o comentário “olha, procurei a canção da fulana e nossa, gostei muito!”.
Nesse repasse e troca de informações, que é muito saudável por sinal, percebe-se que acaba sendo nutrido em muitos um desejo pela busca de novas informações, garimpadas durante o intervalo desses encontros e guardadas com muita ansiedade na espera pelo próximo, quando então se torna possível o repasse das descobertas e se permite a aquisição de novas razões para pesquisas, o que logicamente resulta numa ampliação de conhecimentos, mas também colabora em muito na aproximação de todos, mantendo com isso acesa a chama da nossa união, que só faz contribuir com o crescimento da nossa escola, assim como do samba, por que não dizer, já que fazemos parte desse universo.
A crença nessa ideia de repasse de informações e suas contribuições é uma das principais características que encontramos nesta figura muito destacada da cultura nacional que aniversaria no dia de hoje, a quem hoje, num brevíssimo resumo, queremos destacar como uma pequena forma de homenagem aos seus 77 anos de vida.
Excelente compositor, além de poeta, cronista, roteirista, produtor musical e outras qualidades que o tornaram num verdadeiro e importante agitador cultural, atributo que lhe permitiu ser ainda reconhecido como um grande descobridor ou redescobridor de talentos da música brasileira, Hermínio Bello de Carvalho nasceu no dia 28 de março de 1.935 na cidade do Rio de Janeiro. Neto de violeiro e filho de ator morou no bairro da Glória e adolescente, gostava muito de musica clássica. Com 14 anos cantava em coro de igreja e em 1958, começou sua carreira na Rádio MEC, do Rio de Janeiro.
Com a inauguração do restaurante Zicartola, em 1964, tornou-se um de seus assíduos frequentadores ao lado de grandes compositores e sambistas, situação que talvez tenha sido o ponto de partida para que no ano seguinte, dirigisse um espetáculo musical que marcou época, “Rosa de Ouro”, através do qual apresentou ao público uma empregada doméstica que um dia descobriu cantando numa taberna na Glória: Clementina de Jesus. Neste antológico show, Clementina era acompanhada pelo conjunto Rosa de Ouro, liderado simplesmente por Paulinho da Viola e Elton Medeiros, os quais se consagrariam a partir desse show.
Segundo apuramos, Hermínio produziu mais de 100 discos, como os de Radamés Gnattali, Dalva de Oliveira, Pixinguinha e Elizeth Cardoso, tendo sido o primeiro a produzir discos de Cartola, Nelson Cavaquinho e Carlos Cachaça. Na área de rádio e televisão, sua atuação vem desde seu início de carreira em 1958, com a produção de centenas de programas para a Rádio MEC e para a TVE. Adepto da máxima de que “é preciso abrasileirar os brasileiros”, a qual herdou de Mário de Andrade, Hermínio transformou um projeto denominado Projeto Seis e Meia, lançado por Albino Pinheiro em 1976, e do qual participou, no Projeto Pixinguinha, que levou para o Brasil todo, espetáculos de música com os maiores nomes da MPB.
Diversas são suas composições com destaque no mundo do samba, das quais destacamos algumas abaixo, contudo seu universo de criação possui muito mais registros os quais podem sem conferidos no site http://www.acervohbc.com.br que com certeza merece ser visitado, não só pelos amantes do samba, como de toda MPB.

Sei lá, Mangueira.
(Hermínio B. Carvalho/Paulinho da Viola)

Vista assim do alto, mais parece um céu no chão
Sei lá, em Mangueira a poesia fez um mar, se alastrou
E a beleza do lugar, pra se entender tem que se achar
Que a vida não é só isso que se vê
É um pouco mais que os olhos não conseguem perceber
E as mãos não ousam tocar, e os pés recusam pisar
Sei lá não sei... Sei lá não sei...

Não sei se toda beleza de que lhes falo
Sai tão somente do meu coração
Em Mangueira a poesia num sobe e desce constante
Anda descalça ensinando um modo novo da gente viver
De sonhar, de pensar e sofrer
Sei lá não sei, sei lá não sei não
A Mangueira é tão grande que nem cabe explicação

Alvorada
(Cartola/Carlos Cachaça/Hermínio B. Carvalho)

Alvorada lá no morro, que beleza
Ninguém chora, não há tristeza
Ninguém sente dissabor
O sol colorindo é tão lindo, é tão lindo
E a natureza sorrindo, tingindo, tingindo

Você também me lembra a alvorada
Quando chega iluminando
Meus caminhos tão sem vida
E o que me resta é bem pouco
Ou quase nada, do que ir assim, vagando
Nesta estrada perdida.


27 de março de 2012

Carlinhos Vergueiro...

Talvez por causa de um desses dias que despertam cinza para nós todos, inclusive para os poetas, o querido Vinicius de Moraes tenha cunhado a famosa frase "São Paulo é o túmulo do samba", isso ao tentar, segundo se conta, convencer seu amigo Johnny Alf, então morador da cidade, a voltar para o Rio de Janeiro, entretanto, São Paulo nunca foi tal túmulo. É certo que o samba daqui tem sua característica própria, diferente da carioca, mas com certeza possui vida e energia tão comuns ao samba.
Não foi sem qualidade que Adoniran Barbosa provou que o poeta estava errado, quando, em pleno solo fluminense, venceu um concurso de músicas carnavalescas, realizado no quarto centenário da cidade carioca, com seu eterno "Trem das Onze". Porém não foi só Adoniran quem colaborou para acabar com este paradigma estabelecido. Outros também tiveram sua participação nesta empreitada paulista em demonstrar que nosso samba tem sua chama ardente tão viva.
Um deles, com certeza é o aniversariante de hoje, Carlos de Campos Vergueiro, ou somente Carlinhos Vergueiro como é conhecido. Nascido no dia 27/3/1952 na cidade de São Paulo. Cantor, violonista e compositor que aos sete anos de idade já se apresentava em diversas cidades do interior de São Paulo. Começou a compor em 1968, acompanhando-se ao violão e iniciou sua carreira artística em 1972. Finalista do Festival Universitário da TV Tupi, lançou seu primeiro LP, "Brecha", em 1974, contendo exclusivamente músicas de sua autoria. Em 1975, tornou-se conhecido do grande público ao classificar-se em 1º lugar no Festival Abertura da TV Globo.
Uma de suas grandes colaborações na quebra do paradigma do poeta, com certeza se deu quando trabalhou como produtor fonográfico e foi responsável pelo LP "Geraldo Filme" no ano de 1980, resgatando o samba e o nome deste grande compositor paulista.
Teve diversos parceiros famosos em composições tendo composto com Adoniran Barbosa o samba "Torresmo à Milanesa".
Foi parceiro ainda do próprio Vinicius de Moraes, além de Chico Buarque, Toquinho, J. Petrolino, Paulo César Pinheiro, Elton Medeiros, João Nogueira, Paulinho da Viola, Arlindo Cruz, entre tantos outros e tem mais de 150 músicas gravadas. Seu samba "Vendaval" foi incluído num CD lançado em 1988, intitulado "Os Grandes Sambas da História" e suas músicas foram gravadas por artistas como Beth Carvalho, Cristina Buarque, Clementina de Jesus, Demônios da Garoa, sua filha Dora Vergueiro, Élton Medeiros, Francis Hime, João Nogueira, Leny Andrade e Toquinho, isso só para citar alguns.
Como uma singela forma de homenagem aos 60 anos desse excelente compositor, segue abaixo alguns registros que encontramos de suas canções, acrescentando apenas que vale a pena uma busca mais ampla das obras deste grande artista para compreender um pouco mais a dimensão de seu trabalho.









26 de março de 2012

E segue nossa intenção ...

Nesses pequenos registros aqui em nosso blog, um humilde objetivo a que nos propomos e que acreditamos que pode ser facilmente identificado é o de tentar repassar algum dado ou referência sobre o universo do samba, esperando que isso possa despertar um interesse maior sobre o assunto destacado e motive as pessoas a procurarem por mais detalhes, ampliando assim seu conhecimento. Para tanto sempre nos aproveitamos do aniversário de um compositor, de uma agremiação, bem como de algum fato ou evento. Curioso, contudo, é o rumo que muitas vezes a pesquisa nos leva, acabando por nos presentear com algum detalhe desconhecido ou esquecido, um registro ou uma imagem rara, mas que sempre merece ser destacada. Prova disso acontece hoje.
Motivados que fomos pela passagem de seu aniversário neste final de semana, nosso intuito seria somente o de fazer menção a mais um desses compositores, desconhecidos por grande parte do público em geral, mas que muito provavelmente já teve um samba seu cantado nessas rodas de samba da vida ou ouvido na voz de um intérprete conhecido.
O compositor carioca conhecido como Marquinhos China, nasceu no dia 25 de março de 1.960 e é parceiro de Zeca Pagodinho, Arlindo Cruz e Jotabê em alguns sambas, dos quais destacamos “Ter Compaixão”, gravado por Zeca Pagodinho; “Aquela Imagem”, gravado por Reinaldo; e “Vestida de Samba” e “Grande Erro”, gravados por Beth Carvalho, sendo este último àquele que nos brindou com uma imagem, se não rara, de agradável conhecimento. Impossível deixar de notar o grupo que acompanha Beth na gravação do clip musical de Grande Erro, exibido pelo Fantástico no ano de 1982.


Identificados apenas como sambistas do Cacique de Ramos, de onde é informado que provém o samba, já considerado um sucesso, aliás, de certo que os rostos serão facilmente reconhecidos por boa parte daqueles que conhecem o Grupo Fundo de Quintal. É uma pequena viagem no tempo que permite apreciar, mesmo que superficialmente, parte do início da carreira deste grande grupo de samba, muito embora três de seus integrantes iniciais já não participassem mais. Vale a pena conferir.

23 de março de 2012

Parabéns Império Serrano!

Menino de quarenta e sete, de ti ninguém se esquece... Relembrar a letra desse lindo samba me faz acreditar que hoje seja mesmo um desses dias em que muita gente deve ter acordado com um sorriso aberto no rosto, um sorriso alegre, sincero e feliz, daquele tipo de sorriso que brota sem que se dê conta ou sem entender bem porque, mas que, lá, bem dentro do coração desses que são apaixonados pelo samba, se acha o real motivo, o qual se revela com aquele ar leve e brejeiro, talvez originário lá dos lados de Madureira no Rio de Janeiro, herdeiro de um prazer que ainda existe com a mesma poesia e encantamento de sempre no Morro da Serrinha. Motivo que ganha esse toque todo especial no dia de hoje por marcar a data de fundação de uma das mais tradicionais e queridas escolas de samba da acidade do Rio de Janeiro, a Império Serrano. Império do grande mestre Silas de Oliveira, de Mano Décio da Viola, de Anicéto, de Mestre Fuleiro, de Dona Ivone Lara, de Roberto Ribeiro, de Beto Sem Braço, de Aluízio Machado, de Arlindo Cruz e de outros tantos expoentes do samba carioca.
Grêmio Recreativo Escola de Samba Império Serrano, de tão linda história, a qual, como é exaltado por seus integrantes, sempre esteve ligada ao desejo de justiça, democracia e participação, desde a sua fundação, em 23 de março de 1.947, dissidente da antiga Prazer da Serrinha, quando Mano Décio, Silas de Oliveira, Sebastião de Oliveira (Molequinho), Oscarino Luiz dos Santos, entre outros, se reunindo na casa de Dona Eulália do Nascimento, acabaram por fundar a agremiação, tendo sido um compositor chamado Antenor, quem sugeriu o verde e o branco para as cores da bandeira dessa cuja trajetória é coroada com belíssimos sambas, verdadeiros clássicos do samba enredo como Aquarela Brasileira (1964) e (2004), Exaltação a Tiradentes (1949), Os Cinco Bailes da História do Rio (1965), Heróis da Liberdade (1969), Bumbum paticumbum Prugurundum (1982), entre outros. Por falar em sambas, não me canso de me admirar e me encantar com a história do ocorrido com as composições da escolha do samba-enredo de 1975 quando o Império escolheu o enredo "Zaquia Jorge, Vedete do Subúrbio, Estrela de Madureira". Tendo a disputa interna sido vencida pelo compositor Avarese, o samba que ficou em segundo lugar, composto por Acyr Pimentel e Cardoso, acabou sendo gravado por Roberto Ribeiro sob o título de "Estrela de Madureira" e acabou se tornando um clássico do samba, e também uma espécie de hino da escola, tornando-se muito mais famoso que o samba vencedor daquele ano. Sempre achei a melodia e a letra desse samba fascinante, algo do tipo que todo compositor sonha em escrever para sua escola de coração e ao tomar conhecimento desse fato, me apaixonei ainda mais, pois para mim ela carrega em si a prova de que o reconhecimento e recompensa que todos merecemos se revelam no seu devido tempo e às vezes com uma maior intensidade.



Falar da Império Serrano é muito prazeroso, sua importância na história do samba carioca é inegável, sua Ala de Compositores é respeitadissima e sua Velha Guarda tão querida quanto as demais. Ouvir a sua bateria, chamada de "A Sinfônica do Samba" e cuja característica principal é o toque de seus agogôs, é certeza de encantamento e alegria, enfim, são tantos atributos e adejtivos que a escola não poderia se utilizar de outro “slogan”, digamos assim, que não este : “Império Serrano, uma “Escola” de Samba” .
Em nosso parabéns para a Grande Império Serrano, saudamos a querida escola de Madureira em seus 65 anos de existência, lutas, conquistas e muito SAMBA, deixando aqui os versos do samba cujo início deu começo a este texto, “Menino de 47”, composto pelos compositores imperianos Nilton Campolino e Molequinho.

Menino de quarenta e sete / De ti ninguém esquece / Serrinha, Congonha, Tamarineira / Nasceu o Império Serrano / O reizinho de Madureira / Só se falava da Portela / Da Estação Primeira de Mangueira / Seu padrinho São Jorge, Santo Guerreiro / E lhe deu prestígio e glória / Pra sambar o ano inteiro.


22 de março de 2012

Fabiana Cozza - Vale a pena conhecer...

Aproveitando a dica postada por uma querida amiga numa dessas redes sociais, sobre um show que se realizará na vizinha cidade de Atibaia neste final de semana, no Centro de Convenções da cidade; falamos brevemente hoje, sobre a dona de uma voz admiravelmente potente e encantadora e que traz consigo toda uma herança de respeito à tradição do samba paulistano: Fabiana Cozza.

Com 14 anos de uma sólida carreira, Fabiana é considerada por críticos e público uma das importantes intérpretes da música brasileira contemporânea, contando em sua caminhada com passagens pelo teatro, pela dança e pela música, tendo atuado em musicais com temática brasileira no início de sua vida artística, onde pode aprimorar sua expressão cênica e interpretação, qualidades que se destacam, em muito, junto a seu trabalho.
Extremamente talentosa ela tem a cara de São Paulo. Sua mãe é descendente de italianos e seu pai, Oswaldo dos Santos, é um dos maiores intérpretes do Camisa Verde e Branco. Foi ele quem defendeu o samba da escola na avenida nos anos 1970, quando a agremiação foi tetracampeã paulistana e em seu solo sagrado, ela pisa com o respaldo e o carinho de quem é digna filha do samba da Barra Funda.
Nascida num ano em que o Camisa comemorava o bicampeonato, com o samba cantado por seu pai, deve-se lembrar, ela, que como já dito, é considerada uma das mais importantes cantoras nacionais, mantém uma rara essência de simplicidade, prova disso e de seu compromisso com suas raízes, o fato de já ter se apresentado no exterior ao lado de grandes nomes do jazz internacional, porém, sem nunca se esquecer da origem da sua musicalidade, sendo que além de cantar com o pai, vez ou outra, relembra antigos sucessos da escola ao lado da Velha Guarda do Camisa Verde e Branco, dos é conhecida por quase todos, desde quando ainda era uma pequenina menina que brincava na quadra da escola e é um motivo de orgulho para toda a agremiação e uma das mais legítimas herdeiras de sua história.
Em seu currículo, consta a experiência de cantar ao lado de nomes respeitados como Leny Andrade, João Bosco, Zimbo Trio, Francis Hime, Ivan Lins, Leci Brandão, Dona Ivone Lara, Luiz Melodia, Quinteto em Branco e Preto, entre outros, além de intervenções em alguns trabalhos do rapper Emicida. No exterior já foi convidada a se apresentar com grandes personalidades como os saxofonistas Sadao Watanabe (Japão), Eli Degibri (Israel) e o trompetista cubano Julio Padrón.
Fabiana Cozza tem três CDs lançados, sendo eles “O Samba É Meu Dom”, “Quando o Céu Clarear” e “Fabiana Cozza”, além do DVD. “Quando O Céu Clarear”, contando neste trabalho com as participações da cantora Maria Rita e do rapper Rappin Hood. Em seu repertório se encontram várias obras dos mais renomados compositores de nosso querido samba como Nei Lopes, Paulo César Pinheiro, Baden Powell, Nelson Sargento, Wilson Moreira, Geraldo Filme, Dona Ivone Lara, Jorge Aragão, etc.

“Uma das vozes mais bonitas surgidas nos últimos tempos, de timbre personalíssimo...”, “Escolhe o repertório que quer e sabe o que pretende mostrar...”, “Vê-se sua mão guiando o seu trabalho. Tem firmeza. Tem postura. É séria!”, são alguns dos adjetivos e elogios dedicados pelo grande Paulo César Pinheiro ao seu trabalho. Com um aval tão qualificado assim, definitivamente ela é uma das belas vozes brasileiras que merece ser ouvida e que, ao vivo, com certeza, se torna uma imensa e prazerosa oportunidade.

 
 
O show de Fabiana Cozza será realizado no próximo sábado, dia 24 de março, em Atibaia, no Centro de Convenções “Victor Brecheret”. O show acontece por meio do ProAC ICMS, programa da Secretaria da Cultura que destina verbas de renúncia fiscal para produção cultural independente. A apresentação acontece às 20h, com censura livre. A entrada é franca e os ingressos podem ser retirados com uma hora de antecedência no local do evento.

21 de março de 2012

André Filho

Noel Rosa, o Poeta da Vila, é conhecidamente um dos mais importantes compositores que o Brasil já teve. Diversas são suas obras, muitas das quais alcançaram enorme sucesso, sendo até hoje lembradas e executadas, como também diversas foram suas parcerias, sendo que a mais constante delas se deu com Vadico, contudo, também compuseram com Noel nomes como Ismael Silva, Lamartine Babo, Wilson Batista, Almirante, Heitor dos Prazeres e outros tantos que não tiveram a mesma repercussão, mas que tem sua importância na composição de toda sua obra, como é o caso de André Filho, nome que hoje lembramos, o qual foi parceiro do Poeta no samba Filosofia.
André Filho (Antônio André de Sá Filho) nasceu no dia 21/3/1906 na cidade do Rio de Janeiro e tendo ficado órfão muito cedo, foi criado pela avó. Começou a estudar música erudita aos oito anos e anos depois, vários instrumentos como violão, violino, piano e bandolim, dedicando-se, então, à música popular. Formou-se em Ciências e Letras no Colégio Salesiano de Niterói, RJ, onde foi colega de Almirante. Na década de 1940, esteve internado com problemas psíquicos, que, somados a alguns outros, acabaram por fazê-lo abandonar a vida artística. É autor de muitos sucessos, entre os quais a marcha "Cidade Maravilhosa" que se tornou o hino da cidade do Rio de Janeiro e que o transformou em figura histórica da cidade, sendo sempre reconhecido como o autor da marchinha mais famosa dos cariocas, já que esta faz parte da tradição dos bailes carnavalescos. Quando os foliões escutam os primeiros acordes de sua introdução, é porque o baile está chegando ao fim.
Sua carreira artística se iniciou em rádios onde foi arranjador, compositor de "jingles" e locutor. Sua primeira composição foi gravada em 1929. Carmen Miranda e Sílvio Caldas são exemplos de cantores que interpretaram suas obras, sendo que “Filosofia”, sua parceria com Noel, foi gravada em 1933 por Mário Reis.
O lançamento da famosa marcha "Cidade Maravilhosa" curiosamente se deu sem grande sucesso, tendo sido depois inscrita num Concurso de Carnaval da Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro, obtendo na oportunidade, para indignação do autor, a 2ª colocação. Em 1974, Chico Buarque resgatou "Filosofia", regravando-a em seu álbum "Sinal Fechado", dedicado a outros autores por causa da censura imposta à sua produção. O samba foi um grande sucesso na época e uma maneira inteligente de dar um recado ao regime militar e voltaria a ser ouvido na voz de Mário Reis, ainda na década de 1970 e, posteriormente, incluído no filme "Brás Cubas", adaptação do cinema nacional para o clássico de Machado de Assis "Memórias Póstumas de Brás Cubas". No filme, "Filosofia" é o tema do personagem Quincas Borba.

(Reparem nas legendas em espanhol, o que mostra um pouco do alcance da música de Noel Rosa e André Filho)

Devido a várias crises pessoais, inclusive o fim prematuro de seu casamento, o que lhe teria provocado graves crises psíquico-nervosas, afastou-se completa e prematuramente da vida artística, passando a orar com a mãe que o abrigou, cercando-o de carinho e cuidados, o que obscureceu a avaliação de sua obra, fazendo com seu trabalho fosse lembrado basicamente apenas pela marcha "Cidade Maravilhosa". Em 2006, seu acervo passou a pertencer ao Instituto Moreira Sales que o homenageou por ocasião do centenário de seu nascimento com uma exposição de partituras, documentos e fotografias.


(Fonte de pesquisa Dicionário Cravo Albin da MPB)

20 de março de 2012

Aula de Velhas Guardas.

 O samba é um senhor musical já bem mais que centenário e que desde o Brasil - Colonial percorre este solo abençoado espalhando suas batidas e melodias, ritmando o viver desta nossa gente brasileira; amenizando ou exaltando suas lidas. Durante todo esse caminhar vários foram os seus companheiros e precursores, gente que vivenciou de uma maneira ou de outra sua presença, colaborando ou apenas testemunhando sua trajetória e que guardaram em sua memória fatos e histórias, se tornando dessa maneira registros vivos de toda uma epopéia, por assim dizer, ao ponto de alguns serem denominados Guardiões, mas que são mais comumente conhecidos como Velha-Guarda.
Velha-Guarda, essa gente que guarda consigo várias passagens e momentos vividos ou ouvidos, marcantes ou irrelevantes, mas que possuem toda uma carga de importância para o entendimento das origens e do crescimento, seja do samba em um contexto superior ou simplesmente do meio ou comunidade na qual convivem. Sentinelas da cultura e das raízes do samba ou da escola querida, exalam tradição e respeito, mesmo em jovens agremiações carnavalescas.
Muitas, se não todas, são as escolas que reservam espaço para seus baluartes e notáveis, dentre elas as mais conhecidas, talvez por contarem com diversas intervenções musicais fonográficas e audiovisuais, com certeza são as cariocas: Portela, Mangueira, Império Serrano e Salgueiro.
Verdadeiros senhores e senhoras do samba, com uma enorme bagagem de conhecimento cultural, respeitosamente se tratam com muita afeição, sabedores com certeza das dificuldades enfrentadas por todos no desfilar de seus anos. Uma demonstração do carinho com o qual tratam o samba e do respeito com que se relacionam e convivem, pode ser visto num documentário que se encontra disponível no Youtube e que encontrei numa dessas aventuras cibernéticas madrugais.

Dirigido por José Maurício de Oliveira e produzido por “Argumento Programas para TV”, este documentário foi feito durante um encontro musical realizado em dezembro de 2.001 na quadra do Império Serrano, entre os grupos musicais das Velhas Guardas do próprio Império, Mangueira, Portela, Mocidade Padre Miguel e Salgueiro, que se reuniram pela primeira vez para homenagear o grande compositor Mestre Silas de Oliveira. Com diversas entrevistas, contem trechos que o tornam emocionante, como quando das demonstrações mútuas de admiração entre os componentes, não bastasse toda a grandeza cultural do repertório apresentado.
Dividido em cinco partes, vale a pena reservar um instante de nosso tempo para apreciar essa aula de procedimentos, até para que muitos de nós possamos entender ou tentar compreender a verdadeira essência e significado do termo “ser sambista”.

 
 
Documentário Sobre o Encontro de Velhas Guardas em Homenagem ao Compositor Silas de Oliveira.
 


19 de março de 2012

Assis Valente.

Hoje recordamos o nome de um grande compositor brasileiro que ficou conhecido por compor diversos sucessos para Carmem Miranda, além da canção "Brasil Pandeiro", que por sinal foi recusado por ela, mas que se tornou sucesso em outras vozes.
José de Assis Valente, ou simplemenste Assis Valente, nasceu no dia 19 de março de 1911 na Bahia e segundo constam em algumas de suas biografias, teve uma infância conturbada, tendo sido roubado dos pais e depois entregue a uma família para ser criado. Quando menino vagou com um circo pelo interior baiano até fixar-se em Salvador, onde foi trabalhar como farmacêutico e fez cursos de desenho no Liceu de Artes e Ofícios, tendo se profissionalizado como especialista em prótese dentária. Transferiu-se para o Rio de Janeiro, em 1927 e empregou-se como protético.
No início dos anos 1930, começou a compor sambas e em 1932 conheceu Heitor dos Prazeres, que muito o incentivou nessa atividade. Muitas de suas composições alcançaram sucesso nas vozes de grandes intérpretes da época, como Carmem Miranda, Orlando Silva, Altamiro Carrilho, Aracy de Almeida e muitos outros. Nesse mesmo ano de 1932, segundo relatos, estando solitário na noite Natal num quarto onde morava na Praia de Icaraí em Niterói, compôs a marcha "Boas Festas" que se tornaria uma das canções natalinas mais conhecida dos brasileiros e uma das poucas do gênero que conseguiu sobreviver. No melhor de sua carreira de compositor, em 13 de maio de 1941, tentou suicídio pela primeira vez se atirando do Corcovado, salvando-se milagrosamente por ter ficado preso a um galho de árvore e libertado por uma equipe do Corpo de Bombeiros. Após esse incidente seu nome foi, aos poucos, sendo esquecido, raramente voltando ao cartaz, o que talvez, anos depois, o tenha motivado uma nova tentativa de suicídio, dessa vez com lâmina de barbear.
Passou a viver de seu laboratório de prótese dentária e esporadicamente de sua música, mas, para pagar o laboratório, era geralmente obrigado a contrair novas dívidas. Ao contrário do que muitos pensavam, continuava a compor e era comum mostrar aos mais próximos uma nova composição, compondo quase uma música por dia, contudo, não conseguia gravá-las. No máximo, quando suas dívidas apertavam, vendia um samba que depois, assinado por outros, fazia sucesso.
No dia 10 de março de 1958, desesperado com sua situação financeira, mais uma vez optou pelo suicídio, dessa feita infelizmente com sucesso. Tendo deixado a casa em que morava na Rua Santo Amaro, 112, seguiu para o seu consultório na Cinelândia e posteriormente à SBACEM, sociedade arrecadadora de direitos autorais à qual estava filiado, para se informar de seus rendimentos. Mais tarde telefonou para seu laboratório dando instruções a seus empregados do que deveria ser feito após sua morte e no final da tarde, em um banco da Praia do Russel, junto de um play-ground onde brincavam crianças, tomou formicida com guaraná. Segundo descrito por Ricardo Cravo Albin vestia calça azul-marinho e blusão amarelo, tendo sido encontrados em seus bolsos um par de óculos, uma carteira de identidade com o retrato rasgado, duas notas velhas de cinco cruzeiros e uma carta para a polícia, onde, entre outras coisas, esclarecia que morria por sua vontade, estando seriamente endividado e fazia um apelo ao público para que comprasse seu novo disco "Lamento". Pedia ainda a Ary Barroso que pagasse o aluguel atrasado de duas residências, acrescentando no fim: "Vou parar de escrever, pois estou chorando de saudade de todos, e de tudo".


Após sua morte, suas músicas foram redescobertas. Nara Leão regravou "Fez Bobagem" e Maria Bethânia o samba "Camisa Listrada". O primeiro LP dos Novos Baianos trazia como faixa de abertura "Brasil Pandeiro", canção que alcançou grande sucesso, inclusive, na década de 80, deu título a um programa televisivo apresentado pela atriz Beth Faria, voltando a ser extremamente popular em 1994, graças a uma campanha publicitária relacionada à Copa do Mundo.



A memória de Assis Valente, por vezes é reaquecida, prova disso se verifica quando dos comentários de que o mundo iria acabar no segundo semestre de 1999 e todas as rádios e tevês veicularam seu clássico “E o mundo não se acabou” (Anunciaram e garantiram/ que o mundo ia-se acabar/ E a minha gente lá de casa/ começou a rezar...).



Sobre a obra de Assis Valente, chama à atenção a disparidade entre a alegria extravasada em suas músicas-crônicas, de um lado, e a carga trágica de sua vida pessoal, de outro.

(Fontes de pesquisa: Dicionário Cravo Albin da MPB e Wikpédia)

16 de março de 2012

CRAVO BRANCO.

                                       CRAVO BRANCO


Sempre ansiava pelas noites de sexta-feira, mas essa tinha um clima todo diferente, seria algo realmente especial. Passou a semana toda ensaiando em seu imaginário os procedimentos, não iria falhar. O cruzado pausado, o facão e o facão invertido, movimentos com os quais sempre se enrolava, dessa vez estavam devidamente decorados. Tudo iria sair com flueza natural, coisa de quem tinha o domínio da dança incorporado ao seu intímo. Ela nem perceberia, que ele, embora levasse jeito pra coisa, não tinha a destreza total e característica de todo bom dançarino de gafieira, mas ele havia se dedicado. A lembrança do breve encontro com aquela jovem ainda estava totalmente intacta em sua memória. A dança com a colega, não havia sido nada de espetacular, mas a moça havia se mostrado receptível quanto ao sorriso lançado a ela, o que dava a sua beleza um realce ainda maior do que o que já merecia. Não lamentou muito quando foi tirá-la para uma dança, mas obteve uma simpática recusa, sob a alegação de já estar de partida, mas que adoraria em uma outra oportunidade. Isso lhe proporcionaria tempo para aprimorar um desempenho mais requintado e ele estava, de fato, disposto a impressioná-la.
Vestiu seu melhor terno tropical, combinando uma camisa creme com lenço e gravata na mesma cor. Jantou como normalmente fazia, mas desta vez saboreou o prato de tal maneira que a simplicidade do bom e popular feijão e arroz, ganhou ares de alimento dos deuses.
Tomou o bonde, seguiu o caminho de sempre, encontrando vez ou outra um amigo ou um conhecido e como de costume, cumprimentava a todos. Chegou ao salão e mesmo um tanto inquieto pela ansiedade de rever a moça, conseguia controlar o nervosismo. Procurou-a pelo salão e a encontrou sentada na mesa com a amiga, com a qual ele havia dançado da última vez, e mais alguns amigos. Tamanha era a sua alegria que nem notara os demais presentes na mesa, tampouco um olhar irado, direcionado por um interessado desprezado anteriormente. Convidou-a logo para dançar, tendo a moça prontamente lhe atendido e saíram os dois a bailar pelo salão. Tudo caminhava como ele imaginara.
Os passos fluíram, o ritmo condizia com os movimentos, a moça havia se encantado. Tudo perfeito. Num intervalo, surgido ao acaso, foram para o lado de fora do salão. Enquanto conversavam, não percebeu novamente o olhar irado, disfarçadamente posicionado para vigiá-los, olhar que se tornou de um rubro intenso, quando notou que o objeto de sua atenção direcionava uma flor ao seu rival, um lindo e perfumado cravo branco. O olhar irado se ofendeu, considerando a atitude por demais humilhante, se dirigiu a ele com a arma em punho. Pego de surpresa, ele olhou para o revólver. Havia tempo para correr, mas ele não se moveu. Ouviu-se o estampido e pessoas correram. Ele, dobrando os joelhos, desabou no solo. Saíra de casa contente, realizara o que foi planejado, feliz e satisfeito para perto da meia noite morrer com um tiro no peito. O corpo ali estirado no chão, os olhos redondos e um ar de sorriso em sua feição, o terno tropical, manchado de sangue e o cravo branco na mão.

(Texto inspirado no samba de Paulo Vazolini, “Cravo Branco”)




CRAVO BRANCO
(Paulo Vancolini)

Saiu de casa de terno tropical,
Camisa creme, lenço e gravata igual,
Jantou e saiu satisfeito,
Pra antes da meia-noite,
Morrer com um tiro no peito.
Ela lhe deu o cravo,
O outro se ofendeu,
Ele olhou no revólver,
Dava tempo e não correu,
Dobrou o joelho, desabou no chão,
Os olhos redondos,
E o cravo branco na mão,
Ai, o pobre, caído no chão,
De bruços no sangue,
Com o cravo branco na mão,
Com o cravo branco na mão.

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Bragança Paulista, SP
A Ala de Compositores da Faculdade do Samba Dragão Imperial possui cerca de 40 membros, dos quais grande parte todos os anos escrevem e participam do concurso da escolha do samba enredo da Azul e Rosa. Os Poetas Imperiais, como também são denominados, realizam rodas de samba semanais nas quais relembram sambas de diversos ícones desse ritmo brasileiro, com um tempêro todo seu na "quase famosa" Panela Imperial, que inclusive já se apresentou em algumas cidades, como Serra Negra, além da sua Bragança Paulista. Esse blog é um veículo para a divulgação das atividades da Ala, de dados culturais relativos ao samba, além de ser um espaço para que nossos compositores divulguem suas letras, os áudios de seus sambas, postem fotos de eventos realizados e muito mais...

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